Holmes Chapel

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Holmes Chapel, 7 de Abril de 2015

Esta será, com toda a certeza, a última vez que te escreverei, Edward.

Metade deste diário permanece com as folhas em branco. Tantas palavras que ficam por ser escritas e tantas memórias que não serão relembradas nunca mais.

Esta manhã ao acordar, tive um pressentimento que algo estava mal. Dirigi-me ao pequeno quarto de música, ao "nosso auditório", como ele lhe chamava. O seu violoncelo estava agora no chão, e as cordas soltavam-se do mesmo como que pedindo ajuda. Foi como se partissem um pouco de mim. A madeira do instrumento percorria todo o soalho, onde as partituras de música se misturavam com a carpete branca que cobria o chão.

Ele nunca me perdoaria ao ver o estado em que o seu violoncelo está, e eu não sei se me consigo perdoar a mim mesma por não ter sido mais cuidadosa com o instrumento.

Não tomei o pequeno almoço, não almocei e não jantei. Já não consigo sentir fome. Apenas oiço a sua voz na minha cabeça, a culpar-me por ter partido o violoncelo. Todos os segundos deste dia, a sua voz estava na minha cabeça mais viva do que nunca. Gritava comigo, suspirava e murmurava-me palavras doces. Apanhei-me a sorrir em frente ao espelho, estarei à beira da loucura?

A sua voz murmurava também melodias, notas, arte. Não consegui evitar passar todas as últimas horas que me restam diante do meu piano, ouvindo com atenção a sua voz para depois poder reproduzir o que ouvia. A melodia que do piano provinha era algo espantoso, e conseguia identificar toda a loucura, a tristeza, o amor que esta transbordava.

Era como se ele estivesse ali ao meu lado, a sussurrar ao meu ouvido as notas que eu devia tocar. E de facto, estas uniam-se com uma beleza que muitos considerariam perfeita.

A sua voz está agora cada vez mais forte, gritando nos meus ouvidos que ele precisa de mim. E eu preciso dele, duma maneira que nunca pensei precisar.

Imagino já as capas de todos os jornais de amanhã, as reportagens na televisão e os músicos que virão aqui, a minha casa, prestar homenagem à grande pianista que fui.

E falo no passado, pois todo este sofrimento que sinto agora, irá acabar dentro de segundos. Sinto a minha respiração ficar cada vez mais calma, como se estivesse prestes a adormecer. Desde que ele morreu, que penso em suícidio todos os dias, mas em nenhum tive tanta a certeza que o queria fazer como hoje.

A minha mão já mal consegue pegar na caneta, as palavras sobre esta folha encontram-se tremidas e o meu olhar alcança a caixa de comprimidos sobre as teclas do piano, que está agora completamente vazia.

A sua voz está a subir de tom na minha mente e agora sinto que juntos, iremos escrever a melodia perfeita, que será ouvida até ao fim da eternidade. 



Obrigada por terem lido esta pequena história que tanto me deu gosto a escrever!


Pianist - Short StoryOnde histórias criam vida. Descubra agora