O prenúncio das Trevas

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Ponto de vista Nepsa Verena do Reino de Ombre

Aqui é o único lugar em que não há julgamentos sobre a minha singularidade. Nenhum olhar intrigado, comentários frívolos quando passo, cochichos baixos e seguidos de sorrisinhos de zombaria. Apenas eu e a minha respiração serena, admirando a cachoeira recém nascente, escutando o piar dos pássaros nos galhos das árvores, o cheirinho de rosas - o perfume mais seduzente em minha singela opinião -, eu poderia morrer neste momento. De tanta calmaria que encontro-me. 

O vento calmo da manhã, bate em meu cabelo recém cortado, foi o mais curto que cortei em todos os meus vinte anos de vida, faltando um dedo para chegar ao final do meu pescoço, recordo-me da minha mãe fazendo um enorme teatro para não cortar, Luci era mais apegada ao meu cabelo comprido do que a mim mesma. Ninguém consegue tirar uma coisa da minha cabeça, quando acredito que estou certa ou que é a melhor coisa a se fazer no momento. Pensar assim,  acarretou diversas situações complicadas e impensadas, digo, em questões emocionais.

Hades, o próprio.

 —Eu sabia que iria encontrar você aqui, Nep. — Ele sempre aparecia quando eu nitidamente não estava o esperando, mesmo com a sua capacidade de chegar rápido nos lugares, eu sabia quando ele estava prestes a vir.

Os anos de convivência me proporcionaram-me isso.

—O que posso fazer se sou previsível? — Dou de ombros, virando-me para o encarar. Hades acariciou a barba. Ele sempre coça a barba quando sabe o que falar ou quando está pensando… é um tique engraçado de se ver.

—Quando acontece alguma coisa ruim, você sempre vem pra cá e é bom, porque sempre posso te confortar. — Enlaçou seu braço na minha cintura, respirei fundo. 

—Eu não sabia que vampiros poderiam ser românticos. — Peguei seu pulso e gentilmente o arranquei da minha cintura. — Sem contato físico, Hades. Já conversamos sobre isso. —O príncipe dá um passo para trás, os olhos claros fitam a grama verde no chão.

—Desculpa, não queria estragar tudo. Mas você sabe que eu sou apaixonado por você e isso não vai mudar, independente dos obstáculos que você coloque e de quanto tentemos fingir que não existe. Eu não posso simplesmente ignorar. Nepsa…

Desatei a caminhar em sentido inverso ao dele, posteriormente recordando-me de que não adiantaria nada. Fugir dos próprios sentimentos é a atitude mais covarde que eu tenho. Reconheço todas as minhas objeções, os ‘’ poréns ‘’ que sempre me fazem dar para trás, simplesmente pelo fato de que não me vejo casando com um vampiro. Ele não me ama, não sente nada por mim, além de um desejo que será sempre insaciável. Vampiros não podem ter sentimentos amorosos, essa é a minha resposta para cada argumento que ele dê sobre nós casarmos e não posso fingir que amo todo o pacote que a vida matrimonial dá.

Adentrei o lado da floresta que costumava brincar quando mais nova. Eu sempre tive uma imaginação fertíl. Aventuras com dragões e reis, eram as minhas preferidas. Hades e Ettore embarcavam comigo em qualquer situação, éramos inseparáveis, quase como se fossemos irmãos. Crescemos juntos, conhecemos todo o lugar desse reino até os perigosos ou os que estavam tão longe que nem víamos a ponta do palácio no horizonte. Lembro que acordavamos cedo, justamente para termos o dia inteiro livre para qualquer brincadeira. Tempos esses que os sangue não era um empecilho e um risco, para qual humano estivesse perto deles.

Infelizmente, Hades surge na minha frente, interrompendo os meus pensamentos.

Ele pega meu braço, trazendo meu corpo para a sua direção, alguns fios do seu cabelo escaparam do penteado clássico demais para um futuro príncipe.

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