Fumaça

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Ao lado dos portões do fundo palácio, estão algumas " casinhas " construídas improvisadamente, quase como se fossem celeiros, porém sem os animais, para ficar os entulhos que a corte não usa mais. Quatro guardas vampiros conversam entre si calmamente, enquanto na frente deles se encontram um amontoado estranho sendo queimado.

O meu corpo congela e Ettore percebe automaticamente.

—Se quiser, podemos dar a volta e entrar pelos portões da frente. — Sugere, parando no mesmo instante para esperar a minha resposta. — Acredito que não seja algo agradável, para se ver logo pela manhã.

E de fato não era.

À medida que os meus olhos deduziam o que é que eles estavam queimando, tudo ficava nítido. O cheiro de carne humana queimada, entra em minhas narinas rapidamente, quase me fazendo colocar para fora o meu café da manhã, alguns braços despencam para fora, como um pedido de ajuda, às cabeças das pessoas estão no núcleo, enquanto as pernas penduram para fora. O fogo cobre tudo, mas o vento encaminha a fumaça para as florestas, longe do povo.

Eu não queria que às minhas conclusões me levassem ao óbvio: pessoas humanas que tiveram o seu sangue dessecado pela realeza, sem nenhum direito de defesa.

—Não. Eu sabia que isso acontecia, mas nunca tinha visto de perto. — Meu braço se entrelaça ao seu novamente para iniciarmos a nossa caminhada outra vez. — Estou falando sério. Já vi coisas parecidas com isso vivendo aqui.

—Eu te avisei. — Respondeu relutante.

Continuamos a andar, mas dessa vez em silêncio. Ettore, não queria que eu ficasse vendo essa cena mórbida, porém não tem muito o que fazer. Escapar da realidade, não é uma das opções vivendo por aqui.

Quando começamos a nós aproximar, um dos guardas mais baixinhos, vêem em nossa direção.

—Tudo certo por aí, guarda Thomas? — O jovem garoto, se curva de maneira desajeitada e quando seu olhar volta ao futuro rei, brilham.

—Sim alteza, logo, logo, somente restará cinzas. — Thomas responde com um sorriso. — Lady Nepsa. — Meus olhos se arregalam, ao constatar que ele sabe o meu nome.

Geralmente, os guardas sequer dirigem a palavra a minha pessoa, entretanto esse comportamento muda na presença dos membros reais. Thomas, parece que consegue ler os meus pensamentos e para mostrar que é alguém educado, pega a minha mão como se ela estivesse me brade e a beija, a sensação do seu beijo na minha mão repudiou a minha alma, a arranco sem precedencias.

—Guarda Thomas, creio que não há necessidade para tal coisa. — Tentei não expressar a minha indignação.

Ettore, virou o rosto para o lado, se controlando para não rir.  O guarda, enfiou as mãos no bolso, completamente sem saber o que fazer.

 —Sabe se o meu pai, já está na sala do trono?. — Thomas confirma com a cabeça. — O jovem rei maneia a cabeça em despedida, os outros guardas olhavam atentamente a conversa, esperando mais alguma ordem, mas como nada aconteceu, apenas fizeram a reverência.

—Acho que vou ter que esfregar a minha mão, um milhão de vezes depois disso. — Olhei para a minha mão.

Ettore explodiu em uma risada baixinha até o som dela ecoar pelo reino inteiro.

—Essa... — Ele abafou a risada com a mão. — Foi de longe a coisa mais hilária que eu já vi nada vida! — E riu novamente. — Você tinha que ver a sua cara, achei que ele fosse morrer ali mesmo. Pobre Thomas.

—Já acabou? Devo ir procurar a graça em outro lugar né? Porque não há estou achando. — Cruzo os braços, o fuzilando com o olhar. Sua risada acaba no mesmo instante.

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