Ettore - Parte2

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—Você vai sentir algumas dores de cabeça nos próximos dias, mas nada que se agrave. Lembre-se de manter a calma e evitar entrar em situações conflituosas. Felizmente, às manchas que estavam cobrindo suas mãos e braços, sumiram. Acredito que deve estar se perguntando, porque raios você matou um clã de bruxas e como desenvolveu sua própria magia, vai por mim, não é uma coisa que vejo todo dia. — Observo ele acendendo um incenso aromático, perto da minha cama. — Vamos direto ao ponto, querida. Você deve ter passado por questionamentos ao longo de sua pouca vida, questionamentos do tipo... Ninguém sabe o motivo de seus olhinhos serem dessa cor, suponho que nenhuma pessoa da sua família passou por isso, sua mãe provavelmente te rejeitou desde o momento que te viu e até hoje você vem aguentando zombarias de quem te olha. Estou certo? — Balancei devagar a cabeça, sem saber o que dizer. — Basicamente, você conseguiu ativar o que há muito tempo estava adormecido. Acho que Ettore deve ter comentado com você. — Encaro o teto tentando lembrar do evento anterior. — Sobre ele achar ser magia, e bingo, estava certo! — Encostou-se na cadeira de balanço, com as pernas cruzadas, olhando a janela. — De certo, tem algo haver com a cor dos seus olhos… Faz tempo que não encontro bruxas desse tipo. Você já deve ter lido não é? — Sem esperar uma resposta, continuou. — Somos linhagens de bruxas e vai acontecendo de família a família, como uma coisa que está infiltrada em nosso sangue e não se pode tirar, geralmente não são acasos isolados como você. — Coçou a ponta do queixo, como se tivesse uma comprida barba branca. — Posso estar errado, mas todo feitiço tem dois lados, o bom e o ruim, às consequências podem ser múltiplas. Os seus olhos são o resultado de uma magia feita, necessariamente um sacrifício de uma vida humana.

—Você quer dizer que eu paguei por um erro? — O encarei com a boca aberta.

—Não exatamente um erro, vampiros e pessoas recorrem a mim por variados problemas, eu simplesmente lhes dou o que querem. Saiba que, sempre alerto o que pode acontecer depois e fica na mão de quem quer continuar. — Deu de ombros, como se fosse a situação mais óbvia no mundo. — O problema é que na maioria das vezes, às consequências são desastrosas, não tem como ser preciso, tipo, tal criança vai nascer com tal coisa, é incerto. Entende?

—Por que essa merda tinha que acontecer comigo? — Esbravejei. — Eu não pedi por isso, Sam. Do nada, virei uma bruxa? Como eu pude matar aquelas pessoas?

—É normal. — Respondeu serenamente. — Você só conseguiu desenvolver a sua magia, diante de uma situação de perda. Sim, milhares de vampiros devem a vida deles a você, mas no momento não foi neles que você pensou, foi especificamente no Ettore. Isso diz mais sobre a sua pessoa do que você pensa. Não é como se você fosse sair por aí e matar quem estiver na sua frente, ao mesmo tempo que terá que aprender a controlar, terá que entender que a partir de agora, tudo vai mudar. Ah, antes que eu me esqueça, o seu poder não é ilimitado, aquelas manchas que estavam em seu corpo, são o desgaste da sua força… Quanto mais você o usar, mais você vai os perder. Ainda não sei ao certo se vale também para o seu tempo de vida. — Saiu do quarto igual da mesma maneira que entrou, sorrateiramente. Deixando-me com uma terrível cara de tacho.

Frustada com sua saída repentina, encaro a mesa posta ao lado da minha cama, um livro com aspecto antigo e provavelmente com uma poeira absurda, mantém-se imóvel, como se estivesse me admirando, quase pedindo que eu o pegue.  Ainda sonolenta e sentindo com uma enorme pedra em cima da cabeça, vacilo um pouco para pegar e acabo desistindo. Terei tempo para ele depois.

Ergui-me um pouco mais na cama, ajeitando o travesseiro atrás das costas até ficar confortável. Solto um demasiado suspiro, considerando as minhas poucas opções e racionalizando todas as novas informações na minha cabeça de forma puramente lógica. Então, sou uma recém bruxa que matou sua " família " e salvou aqueles que tanto repudia. Estou de parabéns.

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