Ettore - Parte 1

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-Eu espero que o seu pai não venha me matar depois. - Ele sorriu brincalhão, ajeitando a grande capa preta que escondia todo o seu traje real, para ninguém prestar atenção nele na rua. Devolvi-lhe o sorriso, considerando a possibilidade disso realmente se concretizar. Contudo, Ettore não sabia que o meu pai havia estava apoiando qualquer situação que me fizesse sair um pouco, considerando a " humilhação " pública de duas semanas atrás.

Bastou aquele anúncio do rei, para um bombardeio de fofocas alheias tomarem conta do palácio inteiro. Às pessoas sabiam que eu tinha um caso com Hades, mas até onde eu sei, não passava de boatos sem fundamentos nenhum, não éramos vistos juntos em uma atmosfera de casal ou algo parecido, estávamos mais para um momento ali e acolá e acabou. Porém, existe algo dentro de mim que não aceitou as coisas muito bem, independente das decisões dele, senti que ele pegou a consideração de anos que exite entre nós três e jogou pelos ares.

E isso, doeu bem mais.

-Ele gosta de você. -O jovem ergueu as sobrancelhas. - Talvez... Em partes mínimas, para ser mais sincera. Não é como se você estivesse me levando para o matadouro, ainda assim há pessoas humanas lá. - Segurei o seu pulso, esperando a sua resposta, mas Ettore riu em silêncio. - Não é?

Fui completamente induzida, pelas insistências do imberbe a aceitar seus pedidos de desculpas. Posso afirmar que a criatividade dele é de uma imensidão imensurável, bilhetes ao lado do meu café da manhã, passados pela fresta da porta do meu quarto, frutas que ele mandou os guardas trazerem, livros de histórias antigas que cercam o reino e claro, o famoso, biquinho. Cedi, fazendo cara feia, mas pensando melhor agora, não tem nada de mais em sair um pouco e espairecer.

A noite com sua beleza magnética, juntamente com a lua, segue cada passo nosso, enquanto o canto de algumas corujas ecoam de cima dos telhados. O reino é estritamente organizado, perto do palácio é mais fácil de se encontrar as lojas de roupas, padaria, jóias, bebidas, sapatos e nesse mesmo segmento, as casas de quem governa a cidade e suas famílias de alto prestígio, encontram-se enfileiradas. Para ocorrer a divisão da parte mais rica, tem se uma praça com um grande safari, para ser mais exata uma estátua de uma fênix jorrando água da boca, rodeada de um jardim de rosas com espinhos, em volta bancos de madeira e para completar, a iluminação de cima, cobre o espaço como uma manta.

-Você está calada, coisa que não acontece muito, tudo bem? - Suspiro, enquanto viramos à esquerda da praça, o cassino fica um pouco antes das casas do povo. - Eu acho que você vai gostar do Sam.

-Posso saber quem é? - Estreito as sobrancelhas.

-Pode-se dizer que ele é um feiticeiro, bruxo ou coisa parecida. Sam é um parente distante, a minha avô, Rainha Anne, tinha uma irmã, até então não se sabe como Darla, adquiriu tanto conhecimento sobre magia, mas esse dom passou para seu filho. Infelizmente, ela se suicidou na frente da minha mãe, elas não eram tão próximas, mas acredito que não deve ter sido legal ver alguém morrer na sua frente. - O encarei perplexa, tentando imaginar toda a cena.

-E por qual motivo, você está me contando isso? - Seus olhos encontraram os meus e por um instante ele pareceu hesitar, está notoriamente indeciso.

-Acho que ele pode te ajudar a descobrir, por qual motivo seus olhos são assim. Sei que você nunca obteve uma resposta e o quanto te incomoda. Talvez, ele tenha uma explicação, quem sabe. -Respondeu temeroso, dando de ombros, olhando para o chão. Meus pés pararam no lugar, por um momento senti um sorriso ganhar vida no meu rosto, ao mesmo tempo que estou surpresa. -Tenho um palpite de que deve ser algo relacionado a magia. - A tensão saiu de seus ombros, ao me encarar de volta.

No instante que ia estender os braços para o abraçar, uma força maior o atingiu fortemente, jogando seu corpo para a vitrine da loja de tapeçaria. Sem entender, o que acabou de acontecer, viro me de costas a fonte do golpe e estranho, a linha de velas guiando minha visão até o final da rua, mas o mais sombrio no final dela é a mulher com um vestido da cor da noite, fuzilando-me, com as mãos contorcidas, fechando lentamente. Escuto o príncipe agonizando atrás de mim, cuspindo um asqueroso líquido preto.

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