—Como eu odeio não conseguir dormir. — Resmungo abrindo a porta do meu quarto, mas antes calço os sapatos, certificando-me que não acordei Cora.Uma das coisas que sempre faço quando perco o sono é comer, alivia totalmente o meu estresse acumulado e bom, ajuda-me de certa forma a pensar, considerando o dia cheio de fortes emoções que tive.
A insistência de Hades.
Ettore...
E os recém noivos..
A cozinha real remete boas lembranças, bem sujas, na verdade. Eu e os garotos atazanavamos o pessoal da cozinha, comendo os recheios dos bolos, as fornadas de biscoitos com deliciosas gotas de chocolate e como você pode imaginar, tinha bagunça para todo canto. Não era como se fossemos crianças encapetadas, juro que não era bem assim, mas gostávamos de sempre estar na ativa, independente do lugar que estivéssemos, a rainha ficava de cabelo em pé.
Infelizmente, com o tempo, as brincadeiras foram ficando menos frequentes e quando me dei conta, as flores já tinham desabrochado, a primavera acabará de dar ‘’ thau ‘’ e eu deriva do passado.
Meus olhos imediatamente veem o bolo de chocolate em cima da mesa. São necessários segundos para me ver diante dele, lambendo os dedos que sujaram por conta do recheio, corto mais um farto pedaço, sentindo-me mil vezes melhor. Ao pegar o bolo na mão, escuto um grito distante ecoando nos corredores, paralisei, considerando fingir que não ouvi nada e continuar comendo, mas novamente os ouço, queria eu não ser curiosa, mas curiosidade é uma dádiva e essa tiro de letra.
Um vento frio, entra pelas janelas não fechadas do corredor largo, acompanhado por gritos abafados de ajuda, vindo de uma sala próxima, o que me faz realmente vacilar é o baque de algo sendo jogado contra a parede ser alto demais. Alguns quadros de paisagens, que podem ser encontradas em volta e ao redor do palácio, acompanham-me, pedindo para que eu dê meia volta, esse não é o meu lugar. Lugar errado e hora errada, lhe parece familiar? Argumenta a minha consciência.
Encolhi-me mais ao perceber que os ruídos cessaram, respiro pesadamente ao ouvir o perceptível som da porta rangendo, na minha direita. A luz do luar e as tochas que iluminam o corredor, torna tudo mais misterioso. Seguro o pingente de sol no meu pescoço, descarregando a minha ansiedade no vai e vem. Caminho mais devagar, ainda estática, com os olhos arregalados, a boca provavelmente em formato de U diante da cena que está a minha frente.
Sangue. Eu nunca vi tanto sangue na minha vida.
O tilintar de uma engrenagem sendo ligada na minha cabeça, deixa-me petrificada.
‘’ Uma manhã de primavera, sol ensolarado, sem nenhuma nuvem no céu, passarinhos cantando nos galhos das árvores, a brisa balançando as flores desabrochadas da primavera, conversas casuais das pessoas que cuidam do palácio. Nessa época, eu ainda era filha única, não tinha Cora para me estressar, então ia passar o meu tempo brincando com a minha imaginação. Poderia estar sozinha ou com os gêmeos, nada tirava a minha liberdade. Mas, naquela tarde aconteceu algo que me perturbou durante incontáveis noites seguidas, eu não deveria ter visto, como sempre deveria ter ignorado e ido ver o porque do meu pai me chamar tanto, porém nada do que vi fez sentido. Escutei a rainha proliferar diversos palavrões, suplicando para que alguém a ajudasse a tirar os filhos dela de dentro de um quartinho abandonado, nunca soube exatamente o que tinha lá, foi nesse momento que me lembrei que não os tinha visto desde ontem de noite. Lembro-me que segurava uma boneca na mão esquerda e dois carrinhos de madeira na segunda e ao os ver com os olhos esbugalhados, as bochechas rechonchudas sujas de sangue, pequenas garras pontudas aparecendo perto dos lábios, sendo abraçados como se fossem desaparecer pela mãe, nesse exato momento o chão caiu por debaixo dos meus pés. Não sei como descrever o que eu sentia naquele momento, o que uma criança de dez anos poderia pensar?
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O Reinado das Sombras
FantasyO enigmático rei Liam, continua perpetuando o legado de seu pai, contudo, os seus passos são autocentrados unicamente em seu ego, tirando do caminho qualquer um que se atreva a tirar a coroa de sua cabeça. Depois de longos vinte anos de uma monarqu...