VIII - O despertar do guerreiro

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Minha avó sempre dizia que o sol era a maior dádiva dada aos homens. Ela gostava de se sentar na colina, quando estava forrada de flores de lavanda.Fechava seus olhos e levantava o rosto para o céu. Um sorriso sereno transmitia sua felicidade, mas eu gostava mesmo era de olhar para ela.Estava sempre sorrindo. Seus cabelos brancos, à luz do sol, pareciam fios de prata. Como eu a amava, e sabia que ela me amava também. Meu avô era muito sério, mas nunca me bateu, e nem mesmo me humilhava quando eu não conseguia fazer alguma coisa. Ele sempre dizia algo como: " Deixa isso aí, menino. Você foi feito pra ser mais do que isso, deixa que eu faço. Vai estudar!"

Ele tinha um jeito próprio de demonstrar amor. Nunca me deixava fazer o trabalho pesado, mesmo que já estivesse meio curvado. Minhas tarefas eram sempre pegar uma ferramenta aqui, bater um prego ali, entregar o leite, dar comida às vacas. No dia que ele se machucou feio, quase perdendo uma mão, não pensei duas vezes quando segurei o membro que sangrava profusamente, e fiz os primeiros socorros até que o médico da vila chegasse.Ele me olhou com olhos cheios de lágrimas e disse: " Viu, menino?! Você nasceu pra ser mais!" Aquela foi a primeira e última vez que ele me deu um beijo.

Na manhã seguinte, a comitiva do exército chegou. O país estava em guerra e precisavam de todos os homens disponíveis. Eu e meu avô fomos levados praticamente a força. Naquela manhã minha avó chorou pela primeira vez.Ela gritou para que não nos levassem, meu avô gritou para que levassem só ele e me deixassem, mas não deram ouvidos a "dois velhos sujos", como os soldados os chamaram. Bateram na minha avó, amarraram meu avô, e assim, de um dia para o outro, minha vida de paz naquela vila rural chegou ao fim. Meu avô me protegeu com todas as suas forças dos soldados depravados que tentavam me tocar. Uma noite ele foi espancado com mais violência, e não resistiu. Dalí para frente, minha alma foi consumida, noite após noite, por um período de tempo que agora nem posso mais contar. Me treinaram para lutar, com o mesmo empenho que abusavam de mim, me ensinaram medicina, com o mesmo empenho que me humilhavam dizendo que eu não prestava para nada.

Depois de um tempo fui transferido para outro quartel. Os soldados que me maltratavam também foram transferidos. E foi lá que eu o conheci. Era menor que eu, mas infinitamente mais feroz. Me atacou uma noite, quando estava distraído olhando as estrelas. Eu tinha sido expulso do dormitório pelos mais velhos, e fui para o estábulo. Ele chegou e começou a lutar comigo. Era rápido e impiedoso. Logo, a adaga que portava, me atingiu no ombro, enterrando-a bem no músculo do trapézio. Mais uns centímetros e ele me acertaria o coração, e seria o fim. O golpe me deixou sem reação, só pude ajoelhar e esperar pela morte. Desejei que me matasse. Mas Park Jimin era um ser estranho...ele se ajoelhou na minha frente, apertou a testa contra a minha com brutalidade, os olhos queimando como o fogo do inferno : "Sua cara de choro me deixa enjoado. Todo dia a mesma cara de merda." Levou a mão ao ferimento e apertou, arrancando de mim um grito de dor: "Isso vai te lembrar que aqui não é lugar para tristeza. Ela vai te matar. Acorde e lute. Se não... dá próxima vez eu atravesso seu coração!"

Depois dessa noite, senti como se tivesse vendido minha alma ao diabo.Ele me observava, dia e noite.Para qualquer lugar que eu fosse, ele estava.Ficou observando quando meus agressores recorrentes me abordaram.Não havia mais ninguém por perto, era eu, três soldados mais velhos me cercando, e Jimin observando tudo de trás de uma pilha de feno.Começou como sempre, primeiro começaram me humilhando, depois suas mãos imundas me apalparam.No momento que um deles começou a descer as calças, Jimin puxou o punhal de dentro da bota.Qualquer outra pessoa, naquela situação, pensaria que ele viria em seu auxílio, mas eu sabia que aquele punhal era para mim, era para tirar a minha vida.Naquele instante, mais do que qualquer outro, eu quis viver.Por isso, puxei meu próprio punhal do cinto e o enterrei no primeiro que consegui alcançar.A adrenalina pareceu substituir meu sangue nas veias, ou...o próprio Park Jimin me possuiu e, como se entrasse num transe assassino, eu os matei.Não sei nem mesmo como dizer quais movimentos fiz, quantas vezes acertei cada um, quantas vezes eles me acertaram antes de morrer...só sei que, quando parei, estavam mortos, com diversas perfurações cada um.Meu nariz estava quebrado, cuspi dois dentes, mas lutei por minha vida.

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