O ar gélido castigava meu rosto conforme seguimos rápidos para o norte. Eu nunca tinha ido tão longe além da fronteira e me puniria por isso mais tarde. O lugar era lindo. Com colinas de grama baixa e árvores grandes e pontudas que eu nunca havia visto antes e Aibek me disse que eram pinheiros. Lagos cristalinos brilhavam chamativos e montanhas enormes cobertas de neve limitavam o horizonte distante e com certeza devia manter Blizanci e Zvezda longe na maior parte do tempo.
Na metade da manhã chegamos na bifurcação que Fergus havia me mostrado em seu mapa. Cinco estradas nos aguardava a frente, três a direita, as mercantes, cheias de soldados e duas à esquerda, as mais perigosas porém mais curtas. Olhei para a esquerda e percebi que a grama ali estava maior, mais selvagem, poucas pessoas passavam por ali, o que significava menos olhares curiosos e menos chances de ser pega por soldados de Misecina antes da hora.
Dei o comando para seguirmos pela quinta estrada e os cavalos seguiram obedientes. Olhei de relance e vi Aibek abrir e fechar a boca diversas vezes, mas ele não falou nada.
"Deve estar se perguntando porque tomamos esse caminho." Imaginei, mas eu confiava no meu amigo, se ele disse que aquele era o melhor caminho, não seguiria por nenhum outro.
Cavalgamos por pelo menos mais quatro horas em silêncio e aproveitei o tempo para pensar no que faria quando finalmente chegássemos aos portões de Misecina. Eu havia convencido Arthur e os outros de que tinha tudo sob controle, que sabia exatamente o que fazer e como lidar com o rei, mas não sei como eles acreditaram nessa mentira descarada. Eu não fazia ideia do que estava fazendo.
E se eu estivesse errada e o rei não pudesse ouvir? Não pudesse mudar de opinião? E se eu não conseguisse trazer a paz entre nossos reinos? Viveríamos o resto de nossas vidas em guerra? Era um destino infeliz e eu não aguentaria mais por muito tempo. Eu não podia falhar.
Minha barriga roncou em protesto e olhei para o céu, o sol estava bem em cima de nossas cabeças e já passava da hora do almoço. Segurei as rédeas de Munja e o animal foi parando gradativamente, Strelac como sempre o imitando, até que paramos as margens do pequeno bosque que delimitava a estrada do lado esquerdo.
—O que foi? — a voz dele me acordou do devaneio enquanto eu descia do cavalo.
—Ah?...nada. — falei a meia verdade indo até ele e sem olhar no seu rosto, tirei a trouxa de comida da bolsa acoplada em sua cela.
Não havia muito e com certeza teria que caçar se quisesse um jantar descente, mas era o suficiente para enganar a fome. Desabei no chão cruzando as pernas e abri a trouxa na minha frente e sem esperar por sua majestade, pequei um pedaço de milho cozinho assado e comecei a comer.
—Não está com fome? — perguntei quando ele permaneceu montado em Strelac, olhando para mim.
—No que estava pensando? —ele insistiu ao desmontar da égua, passando a mão na rala barba por fazer e depois cruzando os braços, deixando evidente seus músculos mesmo sob a camisa levemente folgada.
—Sente, coma e penso se merece saber. — disse depois de engolir um bocado de milho, me obrigando a olhar para a comida e não para os braços dele.
Ele murmurou algo e se sentou ao meu lado, me imitando com as pernas cruzadas, uma das mãos apoiada na grama preguiçosamente. Aibek então pegou uma castanha e levou a boca, e antes que eu pudesse continuar a comer, ele voltou a me encarar.
—É sério? — inclinei a cabeça para o lado em descrença.
Sua Majestade continuou a me encarar, os olhos puxados semicerrados. Uma criança mimada.
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O Povo do Sol - As Crônicas de Nildedrac
FantasyNa vida, no amor, na guerra, eu não posso mais me dar o luxo de perder. Solarni já sofreu muitas perdas, eu já sofri o suficiente. Todos precisam de paz. Eu preciso. E depois de anos lutando uma guerra sem sentido, os deuses antigos guiaram meus pas...