Capítulo 4

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Nunca fiquei tão aborrecido como ontem. A vizinha me irritou de todas as formas possíveis, ela ficou com o rádio ligado até às 11 da noite, e as músicas que ela escutava não eram músicas calmas, era nada mais e nada menos que rock, isso mesmo ROCK. Só de lembrar minha pálpebra treme. Como pode existir uma pessoa tão sem educação assim? Mas eu também errei, eu errei de não ter incendiado a casa dela de madrugada, mentira, eu realmente errei, eu não dei as boas-vindas, e por esse motivo vou fazer um bolo para minha querida vizinha.

Solto uma risada lunática.

No lugar do açúcar vou por sal, e na massa vou por pimenta, bastante pimenta. Com certeza ela vai amar, é pouquinho radical, mas ela gosta de rock então.... pra ela está tudo bem.

☕︎☕︎☕︎

Aperto a campainha e, em segundos a porta se abre.

— Você de novo?! – Diz a vizinha descontente. A sua feição exala o ódio. Suas olheiras são escuras e fundas aparentando que não dormiu a noite.

— Bom dia, vizinha. Me desculpe por ontem, fui muito imprudente. –  Faço uma feição de cachorro arrependido.

— Realmente! – Retruca com uma voz nada amável.

— Trouxe esse bolo de baunilha como sinal do meu arrependimento – Para ser sincero trouxe como vingança haha.

— É o mínimo por você ter socado a minha porta por horas.

— Me desculpe, estou totalmente arrependido.

— Me desculpe também, eu não deveria ter colocado a música tão alta. – Ainda bem que você sabe. Finalmente está sendo coerente.

Já vou indo. – Aceno, e saio de sua varanda.

— Ei! – Diz a vizinha com a voz um pouco mais alta do que antes. A olho com um olhar de dúvida. Será que ela descobriu?

Cazzo!

— Eu.... eu não me apresentei. – Diz a vizinha, sem jeito.

Sorrio forçado para parecer que sou gentil.

— Meu nome é Natalie, Natalie Brown. Eu vim do sul da Califórnia.

Por que não continuou lá?

— Meu nome é John Hughes. Vim da Florença, um município da Itália. – Ela esboça um sorriso bem largo no rosto, acena e entra em sua casa.

Depois desse sorriso que eu nunca tinha visto em seu rosto, senti um pouco de remorso por ter lhe dado um bolo que está indigerível. Senti verdade nela. Mas... agora já é tarde. Mas a culpa é dela, se ela não me irritasse eu não daria esse bolo pra ela.

30 minutos depois...

Já se passaram 30 minutos que lhe entreguei o bolo. Obviamente ela não comeu ainda, se tivesse, ela já estaria aqui me insultando.

— AAAAAAAAAAAAAA EU VOU TE MATAR! – Ouço a vizinha falando com a voz exaltada, e levanto do sofá.

Acho que agora ela comeu hahahahah.

— JOHN! ABRE A PORTA JOHN! – Fala com sua voz exaltada batendo na porta.

Rio escandalosamente e abro a porta. A visão que eu vejo é horrível, ela está mais feia que o normal, o seu moletom cinza está totalmente sujo de leite e com algumas migalhas de bolo.

Eca.

— O que você deseja? – Falo provocando a, e solto uma gargalhada logo a seguir.

— Matar você!

— O QUE?

Insolitamente a vizinha agarra meus cabelos escuros e começa a puxar. A minha única reação é gritar e falar algumas palavras de baixo calão da minha língua materna. Ela pula no meu colo e prende suas pernas em volta da minha cintura, fazendo eu andar para trás e irmos para o centro da minha sala.

— Solta o meu cabelo! – Falo segurando sua mão na tentativa de fazer ela soltar o meu cabelo.

— Desgraçado! – Fala puxando meu cabelo mais forte.

Pego em sua cintura e a jogo no sofá.

— Para sua lunática! – Falo com a voz exaltada e, passando a mão em meu cabelo.

— Eu? Lunática? Você fingiu ser amigáve! E me deu um bolo de pimenta! DE PIMENTA!  – Diz eufórica e com ódio nos olhos.

Ela levanta do sofá e tenta se aproximar de mim, mas eu pego minha almofada e jogo na cabeça dela.

— Você me acertou com uma almofada? – Diz lunaticamente. Seu cabelo está todo desarrumado e cobrindo seu rosto, ela assopra e seu cabelo se afasta um pouco, deixando visível o seu olhar assustador, parece um casuar.

— Desculpa, desculpa, é..... que você.... veio.... desculpa. – Falo tropeçando em minhas palavras.

— Eu vou te matar! Eu não te desculpo! – Fala andando aos poucos até a mim. Começo a andar em volta do sofá e ela faz o mesmo.

— Eu vou ligar para polícia! Você entrou na minha casa sem permissão. Por favor Natalie, vamos conversar como adultos civilizados.

— Liga! Conversar o que?

— Sobre como eu fui imaturo. – Falo ainda andando em volta do sofá.

— Realmente você foi.

— Mas você também foi. Que pessoa normal agarra na cintura de uma pessoa como chiclete?

— Você tá falando que eu não sou normal?

— Sim! Você não é normal!

— Seu desgraçado! Eu vou te decapitar!

— Desculpa, Desculpa, me perdoe.

— Não!

Após ela falar começou a correr atrás de mim como uma doida, me senti em um filme de terror. Ficamos correndo em volta do sofá até cansarmos.

Não era isso que eu queria quando fiz o bolo.

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Casuar= O casuar é uma ave da Oceania que pode passar de 1,5 metro de altura e pesar cerca de 60 quilos. Ele tem um gênio terrível e, quando fica zangado, parte com tudo para cima do seu oponente.

Insolitamente= Advérbio De uma maneira insólita; que não se apresenta de um modo costumeiro.

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