Capítulo 6

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John Hughes

Folga. É algo simples e curto mas incrivelmente bom que me faz valorizar cada segundo. Estou no meu café favorito lendo livro de suspense e bebendo café americano, geralmente eu sempre faço isso no meu dia de folga. As pessoas que estão em minha volta estão usando roupas confortáveis de inverno, elas conversam e riem e tomam um gole do seu café, hoje não há nada tão interessante aqui, tem algumas crianças comendo bolo com bastante cobertura, deve haver um mar de açúcar nesse pequeno pedaço de bolo.
O sino da cafeteira toca e faz toda a minha atenção ir para porta. Uma moça de cabelos como cristais negros entra e senta em uma mesa do lado direito onde há um um casal com seus filhos, ela abre sua bolsa e retira um livro, espreito meus olhos e consigo identifica - lo, ela está lendo o mesmo livro que eu "Quando ninguém está olhando". É fantástico saber que essa moça gosta de livros assim, já o li centenas de vezes. Acho que é a primeira vez que eu vi uma pessoa descente aqui.

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Ando pela rua calmamente observando cada coisinha que há nela. Hoje há tantos esquilos aqui, deve ser porquê não está chovendo, é incrível como eles conseguem colocar tantas nozes na boca.Dou mais alguns passos e consigo ver a minha casa, há uma pessoa parada olhando para minha casa, não sei identificar se é mulher ou um homem, só sei que ela está toda de preto com os cabelos arrepiados parecendo um zumbi. Por que esse ser não humano está olhando para minha casa? Será que é um ladrão?

Apresso meus passos e fico alguns metros distante do ser não humano, agora que estou mais perto dessa pessoa, percebo que ela não está parecendo tanto com um zumbi, só está apenas desarrumada, pra ser sincero, a pessoa está acabada. Mas mesmo assim não sei quem é a pessoa, então um certo "medo" me invade e decido falar com ela.

— EI! O QUE ESTÁ FAZENDO? –Falo com um tom alto. E a pessoa vira lentamente e vejo o seu rosto. É a vizinha! Por que ela está assim? Um dia ela vai acabar me matando!

— O que você quer? – Pergunta com uma voz nada agradável.

— Nada. Pensei que fosse outra pessoa.

Por incrível que pareça, hoje não tô afim de ficar discutindo é perceptível que ela é louca. E o jeito que ela está aqui comprova isso, roupas pretas rasgadas, cabelo bagunçado,puxa, ela nem tá calçada. É muito estanho isso. Passo por ela e entro no meu quintal ignorando totalmente a sua feição. E sim! Ela ainda está parada olhando para a minha casa, é assustador e curioso.

— Ei! – O som da sua voz ecoa pelo meus ouvidos e a olho.

— Lá vem a histérica. – Resmungo para que ela não possa ouvir. - Diga.- A respondo.

— Deixa. – Ela fala e se retira apenas deixando a curiosidade em mim.

Será que ela tem algum problema?

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No dia seguinte.

O livro que tive que revisar hoje é magnífico, a escrita é perfeita e os personagens são bem construídos. Nada é melhor que os livros, felizmente estou em um trabalho que gosto. Olho meu relógio e vejo que são quatro e trinta e cinco da tarde, as horas voaram.

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Entro na minha casa e percebo que está sem luz. Semana retrasada já havia acontecido isso, eles tinham resolvido mas parece que não. Já está uma pouca vergonha isso. Por mais que não estejamos no inverno, hoje escureceu bastante rápido. Pego uma cadeira preta que está na cozinha a coloco na varanda e me assento, fico apreciando o vento frio e o ar nada limpo. Em poucos minutos a luz volta e eu entro em minha casa, tomo banho, pego um livro e sento no sofá.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAA – Ouço a vizinha mendiga gritando e imediatamente saio de casa para ver o que está acontecendo.

— NATALIE! – A chamo mas não recebo nenhuma resposta. Passo a mão pelo meu cabelo e vou correndo até sua casa. A porta está aberta, me aproximo e vejo a Natalie correndo eufórica e gritando escandalosamente vindo de encontro a mim, ela se joga em meus braços e caímos em sua varanda.

— Gua.... Guaxinins. – Ela diz e sai correndo para a rua. Doida. Me levanto e vou até ela.

— Não entendi direito. Tem guaxinins na sua casa?

— Sim. – Responde eufórica. – O que eu vou fazer? - Ela pergunta andando de um lado para o outro e passa a mão em seu cabelo.

— Se acalme. Vamos ali na minha casa. – Não acredito que estou falando isso. Ela me segue e senta na cadeira onde eu estava sentado mais cedo. Entro na minha casa rapidamente e pego um água para tentar acalma - lá.

— Aqui. – Falo a entregando o copo de água.

— Obrigada. – Ela agradece e dá um gole na água.

— Acho que sei o que aconteceu. Vc deixou alguma janela aberta certo!?

— Sim, deixei.

— Mais cedo faltou luz, como escureceu cedo eles devem ter entrado pra procurar comida.

— Como que eu vou tirar eles de lá?

— Vou ligar para os bombeiros!

Pego meu celular e disco o número, após alguns segundos um homem atende.

— Boa noite. A casa da minha vizinha está com guaxinins, vocês podem vir aqui para retirá - los?

— Boa noite. Espere até amanhã, se eles não saírem com toda a certeza vamos ir aí para retirá-los.

— Ok. Obrigado.

— O que ele falou? – Natalie pergunta.

Explico que o bombeiro falou e ela começa a entrar em desespero.

— Como assim amanhã? Aonde eu vou dormir?

Não acredito no que eu vou falar.

— Se quiser você pode ficar aqui em casa. – Falo o mais baixo possível, não faz nem um minuto que eu disse e já me arrependo.

— Sério?

— Sim. – Falo desanimado.

— Muito obrigada, obrigada, obrigada. – Ela agradece contente.

— Pode entrar.

Natalie entra e observa a minha casa, por mais que não seja a primeira vez que esteja aqui. Da última vez que esteve aqui ela estava cega de ódio, mas vamos esquecer isso. Ela senta no sofá e me olha curiosa.

— Por que tudo preto e cinza?

— Porque eu gosto, é óbvio. – Sento no sofá também.

— Eu vou dormir aonde?

— Primeiro você precisa tomar banho.

— Verdade. Mas que roupas eu vou vestir?

— As minhas. – Falo pegando meu livro novamente.

— As suas? – Pergunta surpresa.

— Sim.

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