Julian e a Flor de Cerejeira

Capítulo 12 - Julgando o passado

De manhã cedo acordo, mas ainda me sentia muito cansado. Naquela noite tinha sonhado que estava na escola novamente, não foi nenhum tipo de pesadelo, mas foi um sonho bem chato e maçante. Basicamente, eu dei tchau para a minha mãe, fui até a escola a pé e parecia uma noite eterna! Lógico que as ruas e as casas estavam estranhas, mas lembrava muito o caminho que fazia antigamente. Chegando na escola, vi outros alunos no portão principal, esperamos todos para entrar e estava muito movimentado... tinha também alguns colegas antigos daquela época voltando para a escola também. Na real, não gosto quando tenho esse sonho de voltar para escola... tipo, não se trata de um sonho que eu sou criança novamente e revivo um evento do passado... se trata de um sonho no qual, mesmo sendo adulto, tenho que voltar lá só para cumprir algumas pendências... as vezes é assinar um documento ou refazer o ano letivo inteiro novamente! A sensação de entrar na sala de aula, a de estudar novamente e a sensação de usar o uniforme nesses sonhos me deixa muito para baixo... as vezes, dependendo do sonho, noto que não estou usando nenhuma roupa também e me sinto mais vulnerável ainda. Vocês já tiveram sonhos longos e estressantes assim?

Enfim, queria lembrar coisas boas da minha infância... quando reencontro algum ex-colega da escola, até damos risadas juntos, mas para ser sincero depois que o encontro acaba e volto no meu cotidiano, sinto como se meu passado se resumisse a isso, me sinto sem conteúdo. Não que meu passado se resuma somente quando eu estava na escola..., mas já repararam que passamos boa parte da nossa infância dentro dela?

Enfim, começo a mexer no meu celular enquanto tomava meu café da manhã, queria saber se a Karen havia me enviado qualquer outra mensagem, nada. Porém, havia umas 3 mensagens de um número desconhecido:

"olah Juju bom dia!"

"espero que seu dia seja otimo me responda quando der!!!"

"ah outra coisa jah pensou sobre esse fim de semana?!?"

Aff... Certeza que era o Bruno me mandando mensagens, mas porque logo cedo assim? Peguei o papel amassado que estava jogado no lixo e "batata", era realmente ele..., fiquei imaginando como ele conseguiu o meu número. Será que a Karen passou sem a minha permissão ou será que ele é daqueles tipos que gostam de perseguir as pessoas, um stalker? Bom, confesso que fiquei um pouco aflito e não sabia se respondia a ele ou não. No fim, desviei meu foco para terminar de tomar o meu café.

Enquanto guardava na gaveta algumas roupas de baixo que já estavam secas, enquanto segurava aquelas calcinhas e guardava com cuidado num cantinho, olhei para baixo e afastei um pouco para ver meus pés..., brinquei com os meus dedos enquanto admirava observar eles pintados, vi que estavam muito bonitinhos e que pareciam mesmo com pés de uma menina. Comecei a ter uma sensação muito estranha e fiquei muito confuso. No fim peguei uma calcinha o mais rápido que pude, como se estivesse fazendo algo ilegal. Vesti ela e coloquei minhas roupas "normais", não coloquei sutiã e tentei ser o mais "discreto" possível, estava agindo como se guardasse algum segredo de estado, como se estivesse me disfarçando para ninguém me reconhecer.

O tempo passou e fui pegar o ônibus para ir trabalhar. Comecei a recapitular tudo que havia passado na semana passada e não sabia distinguir se foi um sonho ou se foi um pesadelo. Será que as garotas do trabalho viram mesmo que eu estava usando calcinha na última quinta?

Chegando no trabalho desci correndo para a minha "batcaverna" e lá fiquei durante o dia todo. Não consegui trabalhar direito, na verdade até esqueci que estava usando uma calcinha por baixo das minhas roupas, estava mais preocupado em saber se a Karen ia descer falar comigo naquele dia ou não. A todo momento que meu celular vibrava, olhava esperançoso e esperando que fosse a Karen, mas na realidade via que era mais mensagens daquele número desconhecido. Ignorei as mensagens.