Capítulo 3 - Promessa é dívida

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Mais um tempo se passou nessa situação minha com a Karen, agora tentando me lembrar, me pareceu muito tempo, mais do que realmente tinha sido.

Porém, num determinado dia ela me envia uma mensagem perguntando se a gente podíamos nos encontrar após o expediente. Logicamente respondi que sim, respondi a ela através de mensagem de texto. Enfim, marcamos o local e o horário.

Naquele dia durante o expediente ela ainda estava me ignorando.

Passei o dia todo ansioso e inquieto. Pensando melhor agora, acho que tenho sérios problemas com ansiedade. Até que chegou o horário para me encontrar com ela, esse seria o meu primeiro encontro com uma garota e estava longe ser algo que havia sonhado algum dia. Bom, na verdade seria mais um encontro com uma amiga e por algum motivo dentro de mim queria algo a mais do que a amizade e isso me assustava caso a Karen não esperasse o mesmo.

Novamente me vi parado olhando para o nada perdido nos meus pensamentos, mas dessa vez na rua em direção ao café no qual havíamos marcado o encontro. Continuei a caminhar.

Chegando lá, ela estava me esperando e fez um sorriso fraco com um aceno de mão bem longo. Me sentei e pedi um chocolate quente para mim, a Karen já estava tomando o café dela.

A Karen quebrou o silêncio dizendo:

— Desembucha vai!

Olhei perplexo e quase cuspi o chocolate quente. Tentei falar:

— Então... Err... por onde começo... você é uma grande amiga... err... não queria... desculpa... eu estava conf...

No que ela me interrompeu rindo:

— Você não mudou nada né Ju?

Juro que isso foi o máximo que consegui pronunciar foi algo assim:

— Co... como assim???

No que ela continuou:

— Lembro de você na época do colégio, sempre reservado, quieto no seu canto. Lembro que você sempre explicava a matéria não importava quantas vezes que eu lhe pedia... Lembro que você sempre ajudava mesmo aqueles que zombavam de você... Sempre de alguma forma eu queria ser como você e aprender as coisas de forma fácil e rápida...

Pensei em interromper e explicar que eu também tinha dificuldades e que também me esforçava para aprender..., mas preferi deixar ela continuar:

— E... e quando te vi novamente fiquei muito feliz... ver você me ignorando me magoou muito sabia?

Abaixei a cabeça e respondi:

— Desculpa, eu não sabia como agir... Realmente sinto muito...

Depois de um longo silêncio, ela continuou:

— Gostei muito do seu desenho, mas realmente você não tem prática nenhuma com as palavras [risos]. No fim você continua a mesma pessoa de sempre e era eu que não havia percebido isso...

No que fui dizer algo, ela manteve a iniciativa e disse:

— Eu te perdoo com duas condições.

Levantando a mão e fazendo o sinal de "1" com o dedo indicador, ela continuou:

— Primeiro: pare de mentir para mim, se tiver algo lhe incomodando pode me falar.

Já com a mão levantada e fazendo o sinal de "2" com os dedos, ela continuou com uma piscada provocativa do seu olho esquerdo:

— Segundo: por causa disso você está me devendo uma. — Ela mostrou somente a pontinha da língua para fora da sua boca de forma meiga. — Combinado mocinha?

Eu fiquei atônico e perplexo... Não sei quanto tempo fiquei parado observando o nada. Era muitas emoções ao mesmo tempo. De alguma forma me sentia muito feliz e estranho ao mesmo tempo... como se ela me chamar de mocinha fosse errado, mas também fosse o certo... como se todas as coisas no univers...

Ela interrompeu meus pensamentos falando com bastante gargalhadas:

— Ju, você sempre olha assim no horizonte... o que você vê o que eu não vejo?

Ela olhou para trás fazendo uma graça fingindo ver o que meus pensamentos viam, o que meus olhos apontavam de tão interessante... mais interessante do que olhar nos próprios olhos dela. Ela continuou.

— Vou tratar você como uma amiga a partir de agora, assim você não precisa me proteger como se eu fosse alguma princesa em perigo, como se eu não soubesse cuidar de mim mesma. — Assim ela estendeu o dedo mínimo de sua mão direita em cima da mesa na qual estávamos conversando. — Amigas?

Eu estendi a minha mão direita com o dedo mínimo também e nossos dedos se cruzaram como uma promessa. Acenei com a cabeça fazendo um gesto positivo e dei um pequeno sorriso. No fim estava mais confuso ainda, no fundo queria ser mais do que amigos, quer dizer amigas... eu queria ser o namorado dela... ou eu queria ser a namorada dela... novamente perdi em meus pensamentos...

A Karen, assim retirou o dedinho dela que estava cruzado com o meu e começou a limpar algumas lágrimas sutis no rosto dela. Acabei nem reparado o quanto isso foi importante para ela e como havia sido importante para mim também.

Quebrei o gelo e no fim da noite continuamos a conversar sobre a época da escola e de muitas coisas que talvez fiquem para um capítulo futuro. No final ela me deu uma carona com a moto dela até a minha casa e na despedida eu queria muito que ela entrasse ou que déssemos um beijo apaixonado. Mas ela partiu com uma buzina na moto e falou:

— Adeus Ju! Descanse bem!

Acenei com a minha mão direita fazendo um gesto de tchau.

Nos dias que se seguiu as coisas melhoraram bastante. Acredito que todo mundo percebeu que o clima mudou e ficou mais amigável entre mim e a Karen. Desde então ela começou me referir como se fosse uma garota dentro e fora do escritório. Enfim, agora a gente conversávamos como se fossem duas amigas jovens. Nós conversávamos de tudo, do futuro, das outras colegas, de imóveis, de investimentos, de computação, das estrelas, de outros homens... mesmo esse último em especial eu ficar bem desconfortável em falar. Será que ela me entendeu errado, será que ela acha que eu gosto de homens? Parecia que quanto mais desconfortável mais ela puxava mais assunto sobre isso. Parecia que ela queria me investigar como uma detetive assídua!

Bom, os dias foram passando até que no fim do mês seguinte estava uma grande movimentação no escritório. As meninas estavam todas eufóricas e contentes lendo um panfleto que colocaram no quadro de mensagens na recepção. Quando eu e a Karen passamos por esse panfleto a gente ignorou e continuamos cada um para seu local de trabalho.

No dia seguinte tinha um carro rosa na frente do escritório e algumas meninas em fila no salão de entrada e percebi que aquele dia era o dia de amostra de maquiagem grátis que havia de tempos em tempos. Não sei se é comum em outros escritórios isso, mas algumas empresas que vendem maquiagem as vezes fazem esse tipo de evento. Sempre que acontecia eu me afugentava para a minha "batcaverna", afinal como trabalhava numa empresa com várias garotas e elas me tratavam como uma delas, elas sempre ficavam de brincadeirinha para eu participar também.

No que desço para o armazém-laboratório eu me deparo com a Karen sentada na minha cadeira rodopiando alegremente. Fiquei um tempo observando-a e quando ela percebeu, deu um pulo de susto da cadeira que quase caiu no chão [risos]. Quando cheguei perto dela ela estava me olhando de forma maliciosa e eu até que estava gostando desse "jogo". Ficamos um tempo encarando um ao outro, até que a Karen teve a iniciativa:

— Hoje quero que você quite sua dívida comigo! Vamos subir juntas para testar algumas makes migaaa!

Ela deu um salto com os dois braços esticados para cima e eu fiquei sem reação novamente...

Julian e a Flor de CerejeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora