Capítulo três: Espere sentada!

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Ao analisar o estado clínico de meu paciente, vi que Conrado teve ao sofrer o acidente a paraplegia incompleta, ou seja, sua espinha dorsal não havia sido atingida de forma severa, dando a ele assim, a chance de poder voltar a andar novamente. Ele passou por uma cirurgia logo após o acidente que ligou novamente os nervos. Mas, era preciso fisioterapia e muita dedicação para que ele possa voltar a andar novamente, e isso era um processo lento, com calma e muito esforço do paciente. O que complicava era que Conrado pelo o que a mãe me disse, entregou os pontos. Ele simplesmente desistiu de tentar. E com isso, meu trabalho seria bem mais difícil.

Não era só o dinheiro, claro que eu precisava desse emprego e do dinheiro que com ele viria. Mas, meu paciente tinha apenas vinte e seis anos, e tinha uma vida inteira pela a frente, eu simplesmente não poderia desistir dele.

Eu só espero ter forças o suficiente para isso, na atual situação em que estou, minha vida está um caos.

Eu ainda não conseguia me lembrar de nada da noite da concepção do meu filho, apenas aquela tatuagem de bússola vinha a minha mente. E isso não ajudava muito.

- Uma tatuagem? - perguntou Marli. - Você só se lembra da tatuagem do homem? - diz ela enquanto fazia o mingau dos filhos.

Estávamos na cozinha da casa dela, enquanto Marli fazia o mingau das crianças eu estava sentada num banco recostada sob o balcão da cozinha.

- Foi tudo o que me lembrei! - digo.

- Aí Mari! Você é a mulher mais azarada do mundo. Sinceramente, se toda mulher fosse ter uma primeira vez assim, nenhuma iria querer se desvirginar! - reviro os olhos.

- Eu bebi muito, precisava me encher de coragem! E quando acordei no outro dia, ele já não estava lá. - digo tentando me lembrar de mais alguma coisa mas minha mente não deixava. Estava bloqueada.

- Ao menos sabemos que o cara tem dinheiro, o hotel em que você estava era puro luxo. - diz ela. - Pesquisei na internet o nome que você me disse e vi, só quem tem dinheiro vai lá.

- Estou perdida! - digo choramingando.

- Mari, calma. Parece que a sorte está ao seu lado, ao menos você conseguiu um emprego... E, bom, ter um pai é muito bom para uma criança, mas, não se cobre muito, você não será a primeira e nem a última mãe solo do mundo! Além do mais, eu estou aqui, e olha que de criança eu entendo. Fácil não vai ser mas você não está só!

- Obrigada Marli! - digo com um leve sorriso.

- Agora me ajude a dar mamadeira pra essa gangue! - diz ela ao me entregar uma mamadeira.

Pego a mamadeira e seguimos até a sala.

Meus sobrinhos era a coisa mais linda dessa vida. Gêmeos, Marcos e Marlon era o encanto da família. Os dois estavam sentados no sofá assistindo seu desenho favorito, Masha e o urso. Sentamos no sofá e cada uma de nós pegamos um deles. E não me pergunte pois eu nunca sei quem é quem.

- Mari, e se for gêmeos?! - diz Marli do nada.

- Pelo o amor de Deus Marli! Eu já estou lascada o suficiente, não piora as coisas! - a repreendo.

- Já temos um caso na família, as chances são boas! - diz ela. Reviro os olhos.

Era só o que me faltava, ter dois filhos de uma vez.

- É só um Marli! - asseguro.

- Tomara! - diz ela.

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Ao chegar na casa de meu paciente, sou recebida por sua mãe, que sem dúvidas se mostrava ser uma boa pessoa. Enquanto andamos até o quarto dele que ficava no térreo da casa, ela fala:

- O quarto dele ficava lá em cima, mas, depois do acidente mandei colocarem as coisas dele aqui que era um quarto reserva para emergências! - apenas faço que sim. - Marianna, não vai ser fácil, Conrado simplesmente se entregou, mas, acredito que com insistência, ele ceda! - diz ela ao parar.

- Dona Carlota, não se preocupe! Vou dar o meu melhor e ele vai ceder... - asseguro.

- Seria um sonho ver meu filho fazendo fisioterapia! - diz ela com lágrimas nos olhos.

- Não se preocupe, as vezes, só precisamos de um tempo. E aos poucos, as coisas se ajeitam. - digo.

- Tem razão! - diz ela secando as lágrimas.

Ver dona Carlota assim, sofrendo por seu filho, me cortou o coração. E isso me deu mais gás para tentar ajudar aquele homem. Ao chegarmos em frente a porta do quarto, dona Carlota respirou fundo e abriu a porta. Ao entramos, vi que o quarto estava escuro, as janelas fechadas e o ambiente parecia depressivo.

- Conrado meu filho, tem alguém para lhe ver! - diz ela esperando uma reação de seu filho. E só houve silêncio em resposta.

Dona Carlota segue a passos crimes até a janela e a abre, trazendo assim claridade ao quarto. Logo vejo meu paciente deitado na cama, coberto por um lençol, apenas sua cabeça estava de fora.

- Conrado, essa é a doutora Marianna, ela será sua fisioterapeuta a partir de agora! - diz a mulher decidida. Conrado penas me olha.

- Como vai? - pergunto. Ele me encara. O olho com segurança e firmeza.

- Como acha que vou? Estou aleijado! - diz ele em tom ríspido. Engulo em seco. Dona Carlota me olha e vejo um pedido de desculpas silencioso saindo de seus lábios. Faço que sim com a cabeça.

- Dona Carlota, nos deixe a sós por alguns instantes por favor! - digo. Ela faz que sim e saí fechando a porta.

Respiro fundo e me aproximo da cama ficando parada bem na frente dele.

- Pelo o quê andei analisando, sua paraplegia é incompleta, você já fez uma cirurgia e pode voltar a andar, é claro se querer. Nem eu nem sua mãe podemos fazer isso por você, apenas você pode se ajudar a dar um primeiro passo. - digo seriamente. Ele me encara e vejo que talvez eu havia conseguido amolecer seu coração.

- Eu não quero obrigado! - diz firmemente. Engulo em seco.

- Tudo bem! - digo e em seguida me sento numa poltrona ao lado da cama.

- O que está fazendo? - pergunta ele surpreso.

- Estou aqui para te ajudar, e não vou sair até que você concorde em receber ajuda. Então, vou sentar e esperar por isso! - digo o olhando. Ele ergue uma sobrancelha.

- Então espere sentada! - diz ele com desdém.

- É o que estou fazendo! - retruco com um leve sorriso.

E assim, deixei bem claro para meu paciente mimado, que nem todos fazem as vontades dele. Por mais que ele estivesse numa situação difícil, era hora de reagir, se entregar não adiantaria nada. E eu não pegaria leve com ele. Era hora de ser firme.

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