Possibilidade

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Ofegante e ensopada de suor, após horas de gritos em meio a uma dor insuportável, foi uma surpresa ver que ela sobrevivera àquilo tudo. A parteira lhe dissera que tinha quadris estreitos demais para o que teria de enfrentar, aterrorizando-a com a terrível possibilidade de morte.

Mas o medo, a agonia e as dúvidas que a assolavam iam sumindo um contraste direto com o choro crescente, alto e indignado que reverberava no quarto.

O choro alto era sinal de saúde. Seus lábios se abriram em um sorriso fraco enquanto seu coração se enchia de uma alegria inesperada, se espalhando dentro dela, preenchendo-a.
Como uma criaturinha tão pequena podia
causar um impacto tão grande?

— É menino? — perguntou, sem conseguir ver o bebê direito enquanto a parteira o enrolava em um lenço branco antes de entregá-lo à avó.

Vestida de preto, como se de luto, a avó aceitou a criança, tensa, a face uma máscara fria e sem emoção, quase um fantasma.

— Mãe… — A mulher abriu os braços, implorando, a palma para cima como um mendigo pedindo moedas. — Traga o bebê para mim. Quero ver se é menino ou menina.

Sem lançar um único olhar na direção da filha, ela deu meia-volta, os saltos batendo com firmeza no chão enquanto avançava para a porta fechada.

O terror a dominou, ameaçando fazer seu mundo ruir. Mesmo estando fraca, tentou se levantar para sair da cama, mas, de repente, mãos fortes a seguraram. Eram muitas, prendendo-a à cama como o ferro das algemas contém um prisioneiro.

— Mãe, não! Por favor, não leve o meu bebê! Por favor! Vou me comportar. Não vou mais pecar. Por favor! Eu imploro! Não leve meu bebê!

Uma jovem serviçal abriu a porta, prestativa.

Lágrimas brotavam dos olhos da jovem mãe, escorrendo pelo seu rosto.

— Não! Tenha piedade! Pelo menos me deixe sentir o bebê uma única vez...

As palavras “em meus braços” morreram em seus lábios quando a mulher de preto saiu porta afora com o ímpeto de um anjo vingador que busca destruir tudo a seu alcance, desaparecendo no corredor escuro com o precioso embrulho nos braços.

A porta se fechou com um baque alto e sinistro que ecoaria para sempre na alma daquela jovem. Ainda passou um tempo tentando se soltar e impedir que sua mãe fizesse o impensável, que entregasse a criança para alguém incapaz de amá-la tanto quanto ela a amaria.

Mas as últimas horas não tinham sido fáceis, e ela estava esgotada, exausta e fraca.

— Calma, minha querida — disse uma criada. — Já passou. Amanhã vai estar tudo bem.

Ela caiu na cama, o corpo inteiro tremendo com os soluços de seu choro desalentado enquanto tudo o que restava de seu jovem e inocente coração se partia de tal forma que nunca mais voltaria a ser inteiro.

《...》

Noite do Baile de Aniversário de Penelope Bridgerton

A irmã do meu melhor amigo Onde histórias criam vida. Descubra agora