CAPÍTULO 14

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O sábado chegou bem rápido. Durante aquela semana Jade não teve nenhum contato com Levi, Gabi ou Falco, apenas seu irmão a lembrava do passeio de sábado e se mostrava extremamente empolgado para aquilo.

 No período matutino Jade saiu para trabalhar com borboletas no estômago tentando imaginar como Levi agiria diante dela após toda aquela situação constrangedora, sua ansiedade estava dando as caras e ela fez o possível para controlar sua respiração e seguir seu dia normalmente. Às onze e meia ela fechou o estabelecimento e rumou à casa de seus pais para almoçar, tomar um banho e pegar Juleo.

 Em casa ela se manteve calada na mesa, sua mãe já estava preocupada com o comportamento da filha há alguns dias, mas tentava ao máximo não invadir seu espaço. Todos comeram juntos e após a refeição os dois irmãos se arrumaram e saíram da casa rumo ao parque da cidade em que viviam.

-A Gabi disse que é melhor nos reunirmos todos na casa do Sr. Ackerman antes de irmos -disse Juleo assim que saíram.

 Jade saiu de mais um de seus devaneios -Sério? Não é mais coerente todo mundo se encontrar no parque?

-Qual o problema de ir todo mundo junto? -deu de ombros -Nunca te vi tão desanimada para um passeio como hoje, se não quisesse vir tenho certeza que todo mundo entenderia.

-Não é nada pessoal, só foi uma semana cansativa -suspirou -Mas com certeza tudo vai melhorar quando eu tomar um ar na cara -”ou não”, seu cérebro pontuou.

 Mais rápido do que ela pôde digerir eles já estavam em frente a casa de Levi. A porta estava levemente aberta e eles conseguiram ouvir o barulho das outras crianças vindo de dentro. Jade respirou fundo e deu três batidas na porta chamando atenção para eles, as crianças rapidamente se enturmaram e ela e Levi se encararam por longos segundos antes de se prepararem para sair.

 Levi estava terminando de organizar uma bolsa com lanche para comerem no parque, Jade ainda calada caminhou até a mesa assim que ele terminou e pegou a sacola para levar. Seu instinto de cuidado com o mais velho falava mais alto que ela, e ela sabia que não era recomendado que ele carregasse algum peso tendo voltado a andar a tão pouco tempo. Então o grupo deixou a casa do homem e seguiu para seu destino.

 As três crianças seguiram na frente em uma conversa animada sobre algo que os mais velhos não compreendiam, pareciam tão felizes em se reunir naquela tarde que ela tinha medo de estragar tudo com aquele clima estranho. Ela e Levi caminhavam lado a lado pela calçada, mas nenhuma só palavra saia de suas bocas para se dirigir um ao outro.

 Assim que chegaram próximo à árvore que sempre ficavam, Jade tirou um lençol florido de sua bolsa e o estendeu na sombra fresca que a planta fornecia. Ajeitou as coisas que Levi havia preparado no canto esquerdo do pano e se sentou sacando da bolsa um livro que havia levado. Quando levantou o olhar viu seu amigo ainda de pé a observando.

-P-Pode se sentar aqui -indicou com a mão direita para o espaço ao seu lado -C-Caso queria! Sabe... você está de pé -desceu novamente o olhar fingindo ler o livro quando na verdade estava se martirizando por ter gaguejado tanto.

 Então a mulher viu de canto de olho o moreno se agachar com um pouco de dificuldade e se sentar ao seu lado alguns centímetros separado de seu corpo. A essa altura seu irmão e amigos já estavam do outro lado do extenso parque correndo com outros de sua idade enquanto ela e o ex-capitão viviam aquele momento constrangedor. A pequena distância fazia com que ela sentisse o calor do corpo do homem ao seu lado, queria começar falar de alguma coisa como sempre faziam mas sentia-se insegura para quebrar o silêncio.

-Acho que te devo um pedido de desculpas -A mulher não esperava ouvir aquela voz grave tão cedo. Lentamente virou seu rosto encontrando seus olhos acinzentados. -Eu não devia ter dito daquela forma, não era minha intenção afastar você -a morena abriu a boca para falar mas imediatamente foi cortada -Acontece que... e-eu acho que também sinto... a-alguma coisa estranha por você -Jade soltou um riso nasal por sua voz desconsertada -Mas eu nunca gostei de alguém assim, assim como ninguém gostou de mim, e eu não sei bem como essas coisas funcionam. Não quero te decepcionar.

-Podemos aprender um com o outro se você se permitir tentar -Jade disse serena -Eu não pretendo te forçar a nada, sei que seu passado foi conturbado e ainda há muito dele que eu desconheço, sei que leva tempo para que feridas tão profundas quanto eu imagino que sejam se curem. Mas se permitir viver de outras formas daqui pra frente e me permitir fazer parte dessa vida eu estarei aqui te esperando -o moreno sorriu um pouco e respirou fundo.

-E se essa espera for muito longa pra você? E se no meio desse caminho você perceber que não vale a pena esperar por mim? Então eu vou voltar a perder pessoas?

 Jade jurou poder ouvir o barulho de seu coração se quebrando ao ouvir aquelas palavras. Só após ouvir aquilo se deu conta de que Levi estava mais quebrado do que sua mente poderia imaginar, sentiu uma lágrima solitária descer por sua bochecha e sentiu vontade de abraçá-lo forte e nunca mais soltá-lo do aperto.

-Eu não posso te prometer o infinito porque nenhum de nós tem o controle a respeito disso. O que eu posso te oferecer sou eu aqui e agora, te ajudando a superar seus traumas, a se amar mais e a ver beleza nesse mundo mesmo diante de todo esse caos. O amanhã eu só posso deixar pra Jade do futuro viver.

 Levi ouvia tudo encarando a iris esverdeada da mulher e não enxergando nada além de verdade em seus olhos brilhantes. Queria abraçá-la, escolher viver por si mesmo ao menos uma vez e ser feliz ao lado daquela mulher que parecia tão disposta a ser seu porto seguro.

-Sabe -Jade passou a encarar os prédios a sua frente -Eu não estou te propondo um casamento -riu um pouco fazendo a feição de Levi ficar mais serena -Só acho que se nós dois temos sentimentos assim um pelo outro nós podemos tentar passar mais tempos juntos ou coisa do tipo, com o tempo vamos descobrindo se pode dar certo ou não. De qualquer forma, eu garanto que estarei na sua vida, nem que seja sentada ao seu lado em baixo de uma árvore sendo consumida por um silêncio constrangedor -com aquela fala a mais nova conseguiu arrancar uma risada anasalada do rapaz que apenas acenou em concordância.

-A-Acho que você está certa -e lá estava ele querendo bater a cabeça contra aquela árvore por ter gaguejado mais uma vez na frente dela.

 De forma repentina Jade entrelaçou seu braço ao dele e apoiou a cabeça em seu obro sentindo a brisa daquela tarde bater em seu rosto. Levi tinha uma cara de espanto pela atitude, mas essa cara logo deu lugar a um semblante relaxado que possuía até o esboço de um sorriso. De fato ele não sabia bem como reagir a aquela demonstração de afeto ou até mesmo retribuir, mas admitia que tê-la próxima a si de maneira tão íntima lhe trazia uma das melhores sensações de sua vida. E então o Ackerman olhou uma última vez para a mulher que lia seu livro com a cabeça apoiada em seu obro e se permitiu apoiar a cabeça naquela árvore, fechar os olhos e relaxar sentindo a brisa fresca e uma imensa paz em seu coração.
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After Chaos | Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora