CAPÍTULO 13

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Levi Ackerman passou aquela noite em claro. Sua mente estava explodindo com tudo que aconteceu na tarde do dia anterior: o beijo, as palavras, o furacão de sentimentos desconhecidos que tomaram seu corpo, tudo estava perturbando sua mente.

 Ele sabia que Jade era um ser humano incrível e que ele seria imensamente sortudo em ter alguém como ela ao seu lado, mas ele pensava todo tempo não ser suficiente. Levi viveu toda sua vida como um pássaro engaiolado, não conhecia o mundo fora das muralhas, não conhecia o sentimento de ser amado ou de amar alguém, destruiu inúmeras vidas e quase perdeu a sua. Enquanto Jade era seu completo oposto, conhecia o mundo, registrava suas belezas, tinha uma família ótima e além do mais era linda.

 Outro ponto sensível para o Ackerman definitivamente era sua aparência, ele nunca fora de se preocupar com isso, sequer tinha tempo para pensar, mas após a guerra olhar para todas aquelas cicatrizes lhe trazia memórias e sentimentos horríveis, ele não queria ter alguém conhecendo todas essas imperfeições tão de perto. O ponto é que Rivaille se sentia imensamente insuficiente para a mulher em questão e acreditava que ela encontraria em algum momento alguém à sua altura.

 Com todos esses pensamentos e seus sentimentos conturbados ele decidiu se levantar antes das cinco da manhã e, diferente do convencional, naquela manhã preparou uma grande xícara de café ao invés de seu chá de ervas. A tomou sentado na varanda ainda um pouco escura enquanto observava o sol nascer, nunca esteve tão confuso como agora e chegou a sentir falta de suas lutas com titãs, pareciam menos complicadas que tudo isso que estava acontecendo.

Jade, alguns quarteirões à frente, não estava tão diferente. Suas olheiras na hora do café entregavam sua noite mal dormida, seus pais haviam percebido que algo estava errado mas não questionaram já que ela não parecia aberta a falar. Comeu mais quieta que o normal, ajeitou suas coisas e saiu para trabalhar.

 Embora estivesse sempre se questionando, ela não se arrependera de se abrir sobre seus sentimentos, sempre fora uma pessoa direta e achou que Levi merecia sua sinceridade, no entanto, o fato de não ter recebido nada em troca era um pouco frustrante, a mesma tinha ideias da dificuldade de um relacionamento para Levi e ainda precisava conhecer pontos importantes de seu passado para que construíssem algo maior, mas mesmo assim ela queria muito saber se era recíproco e valeria sua espera e dedicação.

 E assim se seguiu o dia de ambos. Confuso e paranoico, com inúmeros questionamentos, mas o mais frequente era se eles haviam estragado sua amizade com aquele beijo, ambos a apreciavam muito para perdê-la.

 Jade almoçou em algum dos restaurantes  próximos da loja de flores, queria ficar sozinha para evitar questionamentos de seus familiares que com certeza notaram algo errado naquela manhã. No entanto, sentar-se sozinha durante uma hora dava espaço para ainda mais pensamentos a respeito da noite anterior e ela já estava cansada de dar tanta importância para aquilo.

 Foi então que Jade percebeu a entrada de duas pessoas conhecidas por ela no estabelecimento, amigos que ela tinha visto poucas vezes desde que voltou para Marley. Assim que a viu, o casal de amigos se aproximou. Mandy tinha cabelos quase tão escuros quanto seus olhos, e ao seu lado estava Ricky, de cabelos loiros e um olhar menos intenso.

-Jade! Quanto tempo -pontuou Mandy a puxando para um abraço.

-Sim, desde toda essa loucura de guerra as coisas estão um pouco estranhas para todos -Jade disse -Oi, Ricky -o abraçou após largar Mandy.

-Oi. Como você está? -questionou o rapaz e os três se sentaram à mesa.

-Tentando me adaptar com tudo isso. Parar de fazer o que eu gosto, voltar para a casa dos meus pais, tentar sobreviver...

-É, acho que estamos todos assim depois do estrondo. Acho que as coisas nunca mais serão como antes -Mandy suspirou.

-Você encontrou algum emprego temporário? -Ricky.

Jade apontou para a floricultura do outro lado da rua -Estou trabalhando naquela loja, o salário não é tão alto mas da pra ajudar os meus pais. Foi bem difícil consegui-lo, e também não posso pedir mais que o que me pagam já que eles estão sofrendo com a destruição do solo e as mudanças no clima.

-Eu imagino.

-Mas e vocês? -Shinkai perguntou.

-Eu estou trabalhando num mercado pequeno perto da minha casa, assim como você, não é muito mas ajuda -sorriu sem dentes -Já o Ricky ainda não conseguiu nada desde que tudo aconteceu.

-Tem sido tudo bem estranho desde então... -pontuou Jade em um leve devaneio.

-É. E os culpados por tudo isso seguem impunes -Ricky soltou fazendo Jade entreabrir a boca para questionar a fala do rapaz, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa a mesma foi interrompida por Mandy.

-O importante é que nós e nossas famílias estão bem, logo tudo voltará ao normal -sorriu.

 Os três amigos passaram todo o horário de almoço juntos conversando sobre várias coisas, contaram um pouco sobre suas atuais vidas, no entanto Jade não mencionou Levi e tudo que aconteceu nos últimos dois meses já que não viu necessidade de conversar sobre. Ricky e Mandy disseram que em breve voltariam para visitar Jade e que não perderiam a aproximação.

 Após o agradável reencontro, Jade retornou para o balcão de atendimento da floricultura de Mia. O resto do dia seguiu um curso normal: Pela tarde Mia e seu esposo entregaram novas flores e montaram arranjos junto à Shinkai, o movimento naquele dia foi ótimo e a loja vendeu super bem, o que deixou Jade super contente. Quase ao fim do expediente naquela tarde três empolgadas e ofegantes crianças adentraram o local. Gabi, Falco e Juleo, seu irmão.

-Crianças!? De onde estão vindo nessa correria? -perguntou.

-Viemos correndo da casa do Capitão até aqui com medo de que já estivesse fechado -explicou Gabi com as mãos apoiadas no joelho e ainda ofegante.

 Para não deixar aparente seu desconforto ao ouvir falarem de Levi a moça se apressou em pegar água para eles atrás do balcão.

-A é? Aconteceu alguma coisa? 

-É que combinamos com ele de ir ao parque sábado a tarde e queremos saber se você também vai -disse Juleo recebendo um copo d'água das mãos da irmã mais velha.

 Jade pensou por alguns segundos. Certamente eles ficariam sozinhos e seria constrangedor, mas ela não queria que as coisas entre eles acabassem com um afastamento repentino, então decidiu que iria e levaria um bom livro para caso as coisas ficassem estranhas demais entre os dois.

-Claro que vou. Estou precisando esfriar a cabeça -sorriu sem dentes.

 Os três comemoraram a vitória e Gabi e Falco se despediram dos irmãos Shinkai, já que Juleo voltaria para casa junto de Jade.

 Durante o caminho de volta ela desejou que as coisas se ajeitassem como devem ser e que Levi não precisasse sair de sua vida.

After Chaos | Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora