CAPÍTULO 2

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Levi agora saboreava seu algodão doce observando a figura de cerca de um metro e sessenta que partira para outro lugar. Não podia negar para si mesmo que havia achado a moça extremamente bonita e interessante, mas imediatamente reprimiu qualquer interesse amoroso que pudesse surgir, até porque em sua mente uma mulher como ela não poderia sentir nada além de pena e nojo de um homem como ele, cheio de marcas e cicatrizes de sua vida infeliz. Concluiu tal pensamento ao se lembrar que a moça conhecia o mundo não só além das muralhas mas também além de Marley.

Já mais adiante Jade andava curiosa e fascinada pelo homem que acabara de conhecer. Queria se aproximar de Levi queria descobrir por meio dele sobre a vida atrás das muralhas, sobre sua vida em particular, suas perdas e se possível até ajuda-lo com seus traumas pois sabia que alguém que viveu tudo aquilo não estaria emocionalmente estável.

De volta ao banco em que os três amigos estavam, Gabi ainda encarava Falco com os olhos cerrados e uma expressão de ciúmes

-Falco, quem era aquela mulher? -Levi riu baixinho pela expressão de ciúmes da mais nova. Sabia que Jade deveria ter mais ou menos sua idade, logo seria impossível ter qualquer interesse amoroso em Falco.

-Jade é uma antiga conhecida. Apesar de ser de Marley sua família sempre tratou a minha bem, sempre que tínhamos permissão para sair dos campos de concentração eu brincava com seu irmão mais novo, Juleo -explicou -Ela trabalha fotografando lugares e pessoas, alguns anos atrás ela viajou para outro continente para fotografar várias paisagens, eu quero ver todas elas quando a encontrar novamente. -o sorriso do menor foi de orelha a orelha ao citar aquilo e atraiu a atenção dos amigos.

Ela conhecia outra parte do mundo, outros tipos de pessoas e seu trabalho era registrar tudo isso. Era impressionante para Levi, ele adoraria ver essas fotos também, conhecer tudo aquilo olhando apenas alguns pedaços de papel, era como conhecer um pedacinho do lugar, e se ele um dia pudesse ver aquelas fotos teria conhecimento de como eram as paisagens, era quase uma mini viagem.

-Nossa, isso parece legal! Eu também quero ver as tais fotografias -Disse Gabi parecendo deixar de lado a antipatia pela mais velha.

-Estou cansado de olhar essas pessoas, me leve para casa por favor -Interferiu Levi.

-Mas Senhor...

-Eu disse que não iria demorar, vocês podem voltar depois. E parem de me chamar de senhor, diferente do que aparenta eu não tenho oitenta anos -concluiu já forcando sua cadeira de rodas a se mover.

-Tudo bem, desculpe. -Disse Falco voltando a mover a cadeira de volta para o apartamento de Levi, que ficava a duas quadras da praça.

Levi passou o resto do sábado sozinho em casa, aproveitou o tempo para limpar o que estava a seu alcance e ficou contente por conseguir se locomover pela casa, ainda que se apoiando em objetos. A tarde iniciou uma nova leitura na varanda da pequena casa, essa o prendeu o bastante para se estender noite a dentro, o fazendo tirar um tempinho para observar as luzes da cidade. Marley era uma realidade completamente diferente de qualquer coisa que Levi pudesse um dia imaginar, um mundo completamente diferente de tudo que ele viveu durante toda a sua vida, sua cabeça explodia só de se lembrar que não muito tempo atrás sequer tinha noção de que existiam humanos além daquelas enormes muralhas.

Tirando o foco das ruas iluminadas ele começou a observar o céu. Chegou a conclusão que aquelas luzes artificiais ofuscavam o brilho das estrelas que em Paradis eram extremamente visíveis em meio a escuridão. Em suas missões diversas vezes teve que passar a noite nas florestas, sua constante insônia o fazia observar o céu em maioria delas, era um habito que ele gostava, mas estava decidido que Marley não tinha o mesmo céu de sua terra.

A solidão e a falta de sono traziam à Levi pensamentos e lembranças desagradáveis que seguiam por quase toda noite, por isso ele gostava quando seus amigos estavam por perto e ele podia se distrair com outras coisas. No domingo Gabi veio busca-lo logo cedo, já era comum que Levi fosse passar o dia com seus familiares, sua tia ainda tinha certo receio pelo povo de Paradis, mas aos poucos ia desvinculando a visão errada sobre aquelas pessoas que teve por toda a sua vida.

Levi gostava dos domingos. Conversava com pessoas sobre assuntos banais e por alguns minutos se esquecia da guerra e das mortes, Gabi ficava feliz em ver o amigo daquela forma, ela tinha ciência de tudo que passava pela cabeça do homem ao lembrar de como foi sua vida até aquele momento, ele merecia aquela paz e tranquilidade que estava recebendo.

-Quais os seus planos para essa semana? -Questionou Gabi o levando para sua casa no fim da tarde.

-Não há nada de especial que eu possa fazer, pretendo apenas buscar novos livros na livraria para me entreter um pouco. Ainda estou me acostumando com essa calmaria.

-É uma pena que eu e Falco não possamos ficar com você durante a semana, nós sempre nos divertimos bastante e te apresentamos lugares novos -disse a menor empolgada.

-É verdade, mas vocês precisam frequentar a escola. Não tem problema eu ficar sozinho por esses dias, sem contar que preciso aprender a me virar sozinho.

Gabi apenas assentiu levemente com a cabeça e seguiu. Mesmo Levi conhecendo outras pessoas do outro lado do oceano ainda não eram tão próximos, e os antigos guerreiros estavam em Paradis lidando com conflitos que os apoiadores dos irmãos Yeager ainda causavam. Apenas o Ackerman resolveu deixar toda aquela situação para trás.

A noite de domingo também foi tediosa, Levi apenas esquentou seu jantar que havia sido preparado pela mãe de Gabi e comeu sozinho olhando a rua. De repente pensou em adotar um bichinho, seria ótimo ter algo para lhe fazer companhia, mas logo decidiu que não daria conta de cuidar de um animal. Naquela noite dormiu tranquilo e não teve pesadelos durante o sonho. Aquela semana parecia ter começado um pouco melhor.

Na segunda Levi decidiu ficar na cama até mais tarde, e quando se levantou resolveu ir até a livraria comprar novos livros. Assim o fez, as ruas estavam movimentadas e isso o deixava feliz, cumprimentou a maioria das pessoas eu seu caminho dificultoso, já que ele mesmo movia sua cadeira de rodas. O senhor Yoshida, dono da livraria, adorava a presença de Levi e assim que o viu foi contente ajudar, conversaram um pouco até o mais novo adentar entre as prateleiras para procurar novas obras. Estava imerso em sua busca quando foi interrompido por uma voz feminina.

-Você! Não achei que fosse te encontrar tão rápido. -Levi olhou para trás e se deparou com Jade, estava surpreso, diferente dela que parecia empolgada.

-Me encontrar? -perguntou o homem.

-Sim! Eu queria ter conversado com você naquele dia, mas tive que sair para resolver uns problemas, estou em busca de trabalho desde que retornei -comentou simpática -Mas é ótimo que tenhamos tido essa oportunidade, acho que podemos nos dar muito bem.

-Não imaginei que quisesse saber coisas a meu respeito, na verdade acho que sou bastante desinteressante.

-Pois está enganado. E então, o que busca nessas prateleiras?

-Eu não sei ao certo, aqui tem muito mais livros do que em Paradis, sem contar que a visão de mundo é completamente diferente. Há coisas aqui descritas que eu nunca imaginei -Jade deu um pequeno sorriso para o homem que ainda encarava as prateleiras.

-Eu posso te ajudar, se não for incômodo -Levi assentiu e ela começou olhar os livros - Drácula é um bom tema se você gostar de fantasia, não sei se em Paradis vocês tinham conhecimentos sobre a lenda dos vampiros.

-Vampiros? -Levi leu a sinopse e parecia ansioso para ler a obra -Obrigado.

-Por nada. -sorriu, como sempre simpática -Levi, você tem tempo para um chá? Eu adoraria conhecer mais sobre você.

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After Chaos | Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora