CAPÍTULO 10

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 O brilho da manhã seguinte invadia o quarto escuro de Jade, após rolar de um lado para o outro pelo menos umas três vezes a mulher se deu por vencida e decidiu se levantar. Mais um dia de trabalho se iniciaria em breve. 

Enquanto se arrumava ela programou mentalmente quais seriam suas rotas naquele dia, pretendia sair mais cedo para assim poder visitar Levi sem se atrasar para o trabalho. Acreditava que o amigo estaria bem melhor naquele dia graças aos remédios preparados por ela na noite anterior, mas mesmo assim iria conferir para poder seguir seu dia tranquila.

 Diferente dos dois últimos dias Marley amanheceu ensolarada, a chuva parecia ter dado uma trégua, mas por precaução Jade colocou a capa de chuva na bolsa assim como todos seus outros pertences, tomou café na cozinha acompanhada se seus pais e saiu mais cedo como o planejado. Apesar de não terem comentado sobre Levi os Shinkai sabiam sobre os últimos acontecimentos e o porquê de sua primogênita ter saído tão cedo, mas não a intimidariam mais a respeito do assunto.

 Não demorou muito para que a mulher chegasse na residência do Ackerman. Deu dois toques e não demorou para que o mais velho abrisse a porta, seu semblante frio mudou para um surpreso quando a viu, Levi não parecia ter se acostumado ainda com o constante cuidado e preocupação de sua amiga.

-Bom dia -disse Jade sorridente.

-Bom... dia -respondeu -O que faz aqui tão cedo? -deu espaço para que ela entrasse.

-Não posso faltar no trabalho hoje, então passei aqui mais cedo para saber como você está -respondeu.

-Estou bem, pode cuidar das suas coisas, eu não quero que pare sua vida por minha causa.

-Não foi nada, sei que faria o mesmo por mim -sorriu novamente. Sua fala assustou Levi um pouco quando o mesmo parou pra refletir que ele realmente faria. -Enfim, como foi sua noite?

 Apesar dos sintomas gripais terem praticamente desaparecido, Levi não havia tido uma noite calma. O homem não conseguiu dormir muito bem com a incerteza da chegada segura de Jade em sua casa, já se passavam das quatro da manhã quando ele se convenceu que se algo de ruim tivesse acontecido ele já estaria sabendo, e só então ele conseguiu pregar os olhos.

-Foi normal, eu dormi -respondeu seco.

-Haha, engraçadinho! Pelo menos isso é um sinal de melhora -levou a mão direita até a testa de Levi, -Nada de febre!

-Eu estou bem, não tem com o que se preocupar.

-ótimo! Se alimente bem e tome seus remédios, eu preciso ir agora mas te vejo no final do dia -antes de responder qualquer coisa Jade envolveu seus braços no pescoço do Ackerman o surpreendendo com um abraço.

 Sem reação. Eram assim que Levi se encontrava. O rapaz sequer conseguiu se despedir ou dizer qualquer coisa que fosse antes de sua amiga sair pela porta. Estava confuso, inseguro e com medo de nutrir sentimentos irreais por aquela mulher, pois sabia que alguém como ela jamais teria olhos para ele, e tudo que ele menos queria era uma decepção amorosa naquela altura do campeonato, ou ainda pior, machucar alguém tão boa para ele.

 Levi se jogou no sofá sentindo sua mente explodir em pensamentos que não deveriam estar lá, ele sequer se reconhecia diante dos sentimentos desconhecidos que transbordavam seu corpo, Foi então que ele se deu conta de como as coisas mudaram desde que ele conheceu Jade, ele já não se recordava com tanta frequência de todas as desgraças que o cercou por toda a sua vida e nem passava os dias sofrendo por isso, agora ele tinha conversas descontraídas com Jade, passeios e mesmo quando não estavam juntos ela ocupava boa parte de seus pensamentos. Levi estava se apaixonando.

 Jade abria as portas da floricultura contente pelo dia de sol que com certeza seria favorável às vendas, suspirou ajeitando as flores e se sentou atrás de seu balcão. Na primeira meia hora atendeu três clientes, o dia estava agradável para a moça em muitos aspectos. Antes das oito da manhã Mia, sua patroa, adentrou o estabelecimento acompanhada de seu bebê Henry.

-Bom dia Jade -sorriu a mais velha.

-Bom dia Mia -devolveu o sorriso -Olá Henry! -tocou a mão da criança em um gesto carinhoso.

 Mia se sentou em uma cadeira a frente do balcão e observou Jade atender um cliente que acabara de entrar na loja. Assim que terminou sua tarefa a funcionária retornou ao seu posto para dar atenção para suas visitas.

-Então, como está seu irmão? -a mais nova inevitavelmente arregalou os olhos. Odiava ter que mentir.

-Oh, ele está bem melhor. Quase são eu diria -sorriu sem jeito.

-Como mesmo você me disse que ele se chamava? -continuou Mia.

-Juleo, ele se chama Juleo -respondeu encarando o chão.

-Sério? Eu podia jurar que ele se chamava Levi -a mais velha coçou o queixo em um gesto de pensativa.

-O q... Como assim? -Jade agora além de olhos arregalados tinha a boca entreaberta.

-Pelo menos foi o que disseram as crianças que vieram te procurar aqui ontem a tarde -Jade abaixou o olhar com vergonha e uma leve vontade de chorar -Jade, quer me contar alguma coisa? -disse paciente.

-Eu menti para você, não saí para cuidar do meu irmão, saí para cuidar do meu amigo Levi -ainda que paciente, o rosto de Mia agora esboçava decepção -Me desculpe.

-Por que não foi sincera? Eu teria agido da mesma maneira.

-Por que eu trabalho aqui há uma semana, além do fato de que Levi é de Paradis, eu não tenho conhecimento sobre seu posicionamento a respeito da inclusão dessas pessoas. Esse emprego é muito importante pra mim e eu tive muito medo de perdê-lo, mas tudo que fiz foi arruinar tudo ainda mais -lágrimas já desciam por sua face.

-Eu não tenho nada a ver com seus relacionamentos, não me importa que seu amigo seja de Paradis, o pai do meu filho é um eldiano -Henry sem entender nada sorriu -Só queria que você fosse transparente para que pudéssemos construir uma relação de confiança. Eu estranhamente confio em você Jade, não quero ter que quebrar essa imagem boa que eu construí.

-Tudo que posso fazer é pedir desculpas por estragar tudo, você foi ótima pra mim, eu que fui totalmente errada nessa história toda. Sinto muito. -a mais nova se levantou decidida a voltar para casa.

-Estou disposta a te dar uma segunda chance -disse Mia surpreendendo a jovem a sua frente -Eu vejo algo bom em você e entendo seu ponto, o que não torna a situação correta, mas serviu para o crescimento da nossa relação. Você fica? -em meio as lágrimas o sorriso de Jade voltou a aparecer. 

-Eu nem sei como te agradecer, garanto que nunca mais serei tonta dessa forma -saltitou alegremente.

-Certo, certo. Agora volte ao trabalho para que no final do expediente você possa visitar esse amigo tão especial -Mia fez uma cara sugestiva fazendo a mais nova revirar os olhos.

 Antes de retornar ao posto de atendente Jade lavou seu rosto vermelho de choro e colocou seu melhor sorriso para disfarçar a situação que estava tentando digerir. Se despediu das visitas que estavam indo embora e fez uma nota mental de estrangular Gabi e Falco assim que os visse. Aquela era sem dúvidas a manhã mais conturbada de Jade em tempos, mas por ora tudo havia acabado bem.

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After Chaos | Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora