I: O conflito inicial

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Eu nunca fui parecida com a minha irmã.

Acho que isso é um fato, não um devaneio meu. Somos diferentes desde o cabelo até os ossos, de dentro para fora, de lado a lado, cada centímetro. Se temos uma coisa em comum, é só o sangue, o que não é bem algo muito relevante quando você nos conhece. Meu pai, por exemplo, com anos de convivência, me descreveria como encrenqueira e teimosa, enquanto minha irmã seria justa e obstinada.

Não sei se isso faz de mim uma mulher de personalidade forte ou uma maluca. Um pouco dos dois, talvez? De certo, não sou uma elegante princesa como minha irmã. Tenho essa certeza enquanto a vejo na minha frente, recitando baboseiras em sua voz de líder nata, vestindo púrpura e jóias douradas, enquanto estou viajando em meus pensamentos e fingindo prestar atenção.

Mas Hinata é sagaz o suficiente para perceber e dar um peteleco na minha testa. Eu resmungo, esfregando o local. Diferente dela, eu uso um vestido laranja-queimado nada sofisticado, descalça e com os cabelos presos num rabo-de-cavalo baixo. Pareço só uma garota simples, morando numa casa maior do que meu ser.

— Escutou alguma coisa, Hanabi?

Eu escolho mentir, porque eu tive uma noite difícil cuidando dos meus filhos e gostaria de apenas tirar um cochilo.

— Aham.

— E tudo bem para você? — Ela levanta a sobrancelha, pousando as mãos na cintura. Hinata está ridiculamente radiante, como se a gestação fosse uma benção dourada sob ela, realçando sua beleza. Enquanto isso, estou lidando lentamente com o fato de que meus seios nunca mais serão os mesmos, tampouco meus quadris. Como percebo o som de malícia na voz dela, já que sei que ela está tentando me fazer admitir que eu não estava escutando, então apenas solto um resmungo cansado. Ela entende que eu quis dizer para ela repetir tudo de novo. — Quero que você e Konohamaru sejam meus padrinhos, nossos padrinhos... — Ela se refere a Naruto, cuidadosamente. — Na cerimônia do nosso casamento. É difícil juntar as tradições de ambos os clãs, e os conselhos estão cobrando muito disso, então...seria ótimo poder incorporar algo tão mais fácil que outros detalhes e, claro, incluir vocês.

— Incluir nós? — Solto, meio sem jeito. Konohamaru e eu não formamos muito bem um casal; desde que os bebês nasceram, ele havia se tornado uma presença constante em minha vida, mas isso não indicava que tínhamos diálogo, ou mesmo contato. Se referir a eu e ele como "nós" era como por muita confiança em algo que não existia. — Não sei como...nós poderíamos significar algo nisso, nee-chan.

— Vocês são a família secundária agora, Hanabi.

Isso me faz ter uma sensação estranha. Eu sempre soube que seria a linhagem secundária, que meus filhos seriam os próximos herdeiros na sucessão, mas aquele ponto, era estranho estar realmente vivenciando aquilo.

— Eu sei — Murmuro, procurando palavras para me explicar. — Mas não somos uma unidade, um pronome plural, uma família menos ainda.

Hinata da um sorriso torto. E eu respondo com um idêntico.

— Precisamos de vocês juntos nisso, mais do que nunca. Oficializar o relacionamento de vocês e as crianças como herdeiras diretas depois dos meus filhos é dizer com todas as letras que as próximas linhagens serão, sem exceção, mestiços dos dois clãs. E isso vai diminuir as dúvidas quanto a veracidade do nosso desinteresse em concentrar o poder em um dos clãs, sabe?

Eu continuo sorrindo. Odeio quando minha irmã começa a falar de lógica, política, e as coisas que ela entende e que me dão náusea. Não quero que meus filhos sejam alvo das críticas e da atenção de todos; desde que os segurei pela primeira vez no meu peito, soube que tudo que queria era uma vida normal para eles. Sem espadas e sem guerras políticas ou bélicas.

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