III: Tempo não é a resposta

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Semana II, dia III. 

"Quando vierem até mim
mais uma vez para dizer, 
— Tempo cura tudo, espere e confie
Vou me lembrar de todos esses dias,
Onde nenhuma palavra foi dita 
E onde o tempo foi
a ferida aberta
sangrando em
meus sonhos 
de amor." 

[...]

Uma semana depois, aquela ficou marcada como nossa única conversa. Suas palavras rodeavam minha mente o tempo todo, mas quando estávamos juntos, o silêncio era nosso convidado de honra e os toques e olhares eram as proibições. 

Isso me estressou. 

Queria escutar ele, mesmo que não fosse responder, e não queria pedir isso para ele. E era ridículo porque, óbvio, eu estava exigindo demais sem oferecer nada; eu sabia perfeitamente que estava sendo muito egoísta.

Pensei que talvez eu pudesse iniciar um diálogo, e ele transformaria no dobro. Eu podia tocar seu joelho com o meu embaixo da mesa no jantar e esperar estar em seus braços depois. Oferecer um pouco, suficiente para ele perceber que eu queria isso, uma iniciativa sutil, e então eu só deveria desejar ardentemente que ele entendesse o recado e tivesse uma resposta.

— Bem lógico, Hanabi... —  Murmurei com um bico, fechando o livro em meu colo e jogando a cabeça para trás. Meu corpo estalou inteiro, como se eu fosse uma bolacha, e soltei um riso baixo. Eu estava sentada ali a bastante tempo, de frente para o berço, tentando escrever algo bom.


Eu recebia meu chá da tarde no quarto, então não me preocupava muito em sair dali. Na verdade, desde que eu tinha me mudado, aquele era o único quarto que eu utilizava. O quarto onde minha mãe tinha ninado a mim e minha irmã, onde tínhamos passado nossos primeiros meses. Agora, era meu de novo, e dos meus filhos. Com minhas roupas e as deles no armário grande de madeira, a cama grande com seus travesseiros e suas roupinhas jogadas; nosso universo. Era minha zona de conforto.

E eu gostava dessa ideia. Até porque, quando eu saía dali, para o quarto de minha irmã, para as salas de reunião ou para a biblioteca...nenhum continha lembranças que fossem totalmente boas. Havia muita tristeza intrínseca naquelas corredores. 

Muita...

Desperto do meu momento de personagem principal refletindo quando um dos gêmeos começa a chorar. Mais do que rápido, eu deixo o caderno de lado e me levanto, observando os bebês. É Hitomi quem está chorando. 

Eu o pego no colo, e ele está vermelho, a boca aberta além do que deveria ser possível; nos primeiros segundos ele chora quase como o usual, muito dengoso, mas logo percebo que seu choro é de dor, estridente e estressado. Não é atoa que Kanae está com os olhos do tamanho de pratos, provavelmente sem entender o berreiro do irmão mais novo, que começa a perdurar e, consequentemente, incomodar a ela.

Eu acaricio as costas do meu filho, sinto-o tremer contra mim, suas mãos apertadas em punho, seus olhos cerrados, lágrimas escorrendo, o que não é nada comum. Eu inclino a cabeça para o lado, tentando desvendar sua dor. 

— Cólica? — Questiono para mim mesma, tocando sua barriga. Hitomi engole o ar, engasga e então solta um berro tão alto que meus tímpanos parecem prestes a sangrar. — Meu Deus, chorão. Isso você puxou do seu pai, mamãe não é dramática assim, sabia? 

Eu suspiro e penso por um momento. Me aproximo para pegar Kanae também, equilibrando ambos os bebês cuidadosamente em meu peito para poder descer até o andar debaixo e comunicar os criados da situação. Um deles me ajuda de imediato ao pegar a garota, que já está bem incomodada e também prestes a chorar, o que alivia meu coração; eu sou a mãe deles, e nem mesmo isso me torna capaz de segurar os dois juntos sem sentir receio, gosto de ter sempre a certeza de que estão seguros, em colos separados de preferência. 

HitoshiOnde histórias criam vida. Descubra agora