Semana IV, dia II.
É uma manhã barulhenta, que difere muito do silêncio confortável ao qual estou habituada. Criados se movimentam de cá para lá nos corredores; conversas sussurradas, copos batendo na madeira, risadas incontidas, comida fervendo, tampas batendo em panelas e talheres tilintando contra os pratos. A sinfonia desordenada me persegue, passo a passo, até eu me encontrar na sala de jantar.
Meus olhos vislumbram uma imagem que meu coração não está mais acostumado. Mesa posta, com todas as deliciosas opções existentes, e cadeiras preenchidas. Minha irmã e cunhado estão sentados lado a lado, com expressões difíceis de decifrar; parecem relaxados, mas não compartilham sorrisos íntimos como de costume, o que expressa uma certa tensão entre eles. Kushina e Minato estão sentados no lado oposto, e mais uma vez me vejo surpresa pela presença dele. Konohamaru está sentado ao norte na mesa, com um lugar vago à sua esquerda, e os bebês estão dormindo muito serenos em um cestinho sobre uma mesa baixa a sua direita. Eu caminho na direção dos meus filhos primeiramente, deslizando os dedos por seus rostinhos delicados, deixando um sorriso surgir. Os danadinhos que não dormem em casa a menos que um silêncio extremo e total calmaria estejam instaurados, nem se mexem quando toco neles. Estão inerentes à cacofonia. Eu suspiro.
— Bom dia — Konohamaru sussurra, e eu me viro para ele, dando uma boa olhada em seu rosto bonito e...
— Deuses, o que você fez no olho? — Abro a boca, e ele puxa a cadeira para eu me sentar. Eu me sento, e toco o hematoma em tons de roxo e azul que bagunça a parte esquerda de sua face. Avalio o estrago que se estende desde o ápice da maçã de seu rosto, bem próximo de sua temporã, até a parte superior medial de sua bochecha.
— Baa-chan achou que eu tinha te batido ontem.
Eu seguro o riso.
— Você!? Me bater? — Nós dois compartilhamos uma risada baixa, mas ele me encara por um momento muito longo, e eu começo a ficar vermelha, o que rapidamente me faz mudar de assunto. — Por que não disse a ela?
— Não tive tempo. Quando abri a boca, corri o risco de perder os dentes. Minha sorte foi desviar rápido...só pegou de raspão.
— O que ela disse quando você explicou? — Eu pauso, pensativa, e completo: — E o que você explicou?
— Expliquei a verdade. — Cubro a boca, chocada. Oh, Deuses, Kushina Uzumaki sabe que eu transo. Kushina Uzumaki sabe que eu transo com Konohamaru Sarutobi. Que vergonha! Que vexame... — Ela ficou igual uma pimenta e pediu desculpas, e me abraçou dizendo que logo a dor ia passar.
— É bom destacar que ela mentiu. Parece que isso vai doer por um bom tempo.
Konohamaru encolhe os ombros de maneira indefesa, mas depois sorri com certa animação.
— Estou feliz, de qualquer forma. — Sua mão se estende e toca minha cintura de maneira íntima, e ele se inclina em minha direção, me roubando um beijo. Por um segundo, a mesa toda parece silenciosa, o que torna o momento ainda mais embaraçoso; mas quando os sons voltam, eu olho para Konohamaru e percebo, em uma epifania muito romântica, que era exatamente o que deveria ter acontecido.
Eu sorrio de um jeito tão doce, que ele expressa um olhar confuso, coeso com a situação; talvez ele nunca tenha me visto tão delicada. E me sinto triste em saber disso. Estou olhando para o único homem que ... em toda minha vida, sinto por ele um ciúmes maligno e intenso, tenho ele como pai dos meus filhos, e eu nunca sorri docemente para ele.
Eu me inclino, e o beijo rapidamente também. Do outro lado da mesa, escuto Kushina rir baixinho, de um jeito entusiasmado.
[...]
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Hitoshi
RomanceHanabi e Konohamaru começaram sua história pelo final. Eles são um casal de estranhos vivendo sob o mesmo teto, com dois bebês e um conflito com seus sentimentos. A falta de diálogo e as mágoas criam uma mirabolante distância entre eles, e suas con...