Semana I, dia I.
Acordo na manhã seguinte planejando ir a casa da minha irmã e xingar ela até a última geração para aliviar minha angústia e estresse.
Os gêmeos estão pendurados em mim em sua mamada matinal, e as janelas abertas permitem que a brisa e a luz entrem. Eu tive tempo de escovar os dentes e buscar uma xícara de chá antes deles abrirem as bocas para uma grande choradeira, entretanto continuo vestida no pijama, os cabelos emaranhados e o rosto ainda amassado pelo sono. Kanae e Hitomi, em meus braços, pequenos, olhos fechados, bochechas rosadas, cada um em um seio, parecem satisfeitos.
Inclino a cabeça para o lado, agraciada com a visão. Eu os coloquei para fora da minha boceta num esforço infernal e pensei que iria ficar com um buraco entre as pernas para o resto da vida, tinha mais estrias do que podia contar e minha rotina nunca mais seria a mesma. Mas tudo isso se tornava pífio quando eu os observava, meus filhos, meu sangue e minha carne, e possivelmente, a única prova de que eu não era uma pessoa incapaz de sentir amor incondicional e altruísta.
Se havia algum sentimento em mim, ele era drenado até a última gota para meus filhos.
— Bom dia.
Meu coração da um tropeço pelo susto. Provavelmente estava viajando e não notei a presença ao meu lado, e quando meus olhos o pegam, me sinto burra por estar tão desleixada. Konohamaru está pronto para o dia de trabalho como general; a armadura azul-marinho cobrindo as roupas escuras, o cabelo úmido penteado, o forte aroma do sabonete de sálvia que costuma usar e o hálito de menta são uma mistura que fazem minha cabeça zunir.
Eu respondo ele após alguns segundos.
— Você ainda não foi trabalhar? — Ele costuma sair mais cedo, sei disso. Quando Konohamaru inclina a cabeça e me encara, eu tenho alguns calafrios.
— Estamos tentando, lembra? — Eu devo ter feito uma expressão bem confusa, pois ele rapidamente emendou; — Não quero sair de casa sem te ver de manhã.
Fico vermelha, o que é ridículo naquela situação. Konohamaru é ridículo. Suas palavras são ridículas. E mais do que tudo, o que ele faz comigo é ridículo. Estamos sem conversar a semanas, ainda que vivendo sob o mesmo teto, e de repente quando ele decide me dizer "bom dia" todos os dias que se passaram somem da minha memória. E me parece até fofo que ele esteja verdadeiramente tentando.
— Ah — É minha resposta, e sai mais desanimado do que eu planejei. Possivelmente isso foi a causa da queda da expressão dele, que se torna menos calorosa. Me sinto uma idiota, e desvio o olhar. — Já me viu, então.
Eu não escuto mais nada. Só sinto ele se aproximar, e sua mão grande e quente apoiada em meu ombro quando ele beija a cabeça dos gêmeos antes de sair, a armadura tilintando para longe do cômodo.
Encosto a cabeça na parede atrás da cama e sinto meu coração afundar.
[...]
Eu não visito minha irmã porque ela tem razão demais e eu tenho argumentos de menos.
Quando a manhã termina, eu almoço sozinha. Os bebês acordam da soneca, eu alimento eles. Eles dormem de novo, eu me deito na cama do quarto deles e escrevo algumas coisas em meu caderno, e depois o deixo de lado. O dia se passa lentamente pelas janelas, os bebês acordam de novo, eu os alimento. Quando os deixo no berço dessa vez, no entanto, já está quase no fim da tarde. Eu peço para um criado observar os bebês para mim; ele fica surpreso, porque não deixo ninguém com meus filhos, porque ninguém entra no berçário, porque todos sabem que eu fiquei reclusa depois que dei a luz.
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Hitoshi
RomanceHanabi e Konohamaru começaram sua história pelo final. Eles são um casal de estranhos vivendo sob o mesmo teto, com dois bebês e um conflito com seus sentimentos. A falta de diálogo e as mágoas criam uma mirabolante distância entre eles, e suas con...