IV: Força gravitacional

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Semana II, dia IV.

[...]

Mesmo no jeito pacífico que cumprimos as atividades aquela noite, eu pude sentir a tensão. Banho, jantar, banho nos bebês. Então sentamos juntos a cama, próximos. Minha camisola amarelo-triste de botões pequenos encostando em sua calça de moletom, a escuridão escondendo nossas expressões, seja lá qual fossem.

Era a noite em que eu sabia que deveríamos ficar quietos, e no entanto, assim que eu terminei de amamentar os bebês e os colocamos nos berços, acabei soltando;

— Kushina disse que você andava de mal humor.

Ele me encara, as mãos apoiadas no berço.

— E?

— E? — Retruco, meio ofendida. Normalmente sou eu quem fujo das explicações, e descubro o quão irritante isso é. — Quero saber o motivo.

— Ah, você quer saber o motivo?

— É, caralho. — Cruzo os braços. Eu não vou defender a mim mesma, eu sei que meu temperamento deixa a desejar. Posso me justificar dessa vez por sentir Konohamaru sorrir na minha direção, cínico. — Ela disse que você estava maltratando os guerreiros.

— Ela disse? — Ele parece realmente ofendido. — Ela veio aqui para fofocar ou ver os bebês?

— Aconteceu alguma coisa?

— Aonde você quer chegar?

Foi o ponto daquela conversa onde eu soube que não daria em nada bom. Eu deveria simplesmente calar a boca.

Mas não calei.

— Eu te irritei tanto assim que você descontou no trabalho?

— Hanabi, não é bem isso — Escutei sua voz irritada. Tudo bem, eu não estava realmente vendo seu rosto direito, mas tinha certeza de que ele estava rangendo os dentes. Podia sentir isso. Dei um passo à frente, sussurrando raivosamente;

— Bom, é o que parece, é o que eu sei que ela quis insinuar, e se for isso, eu só quero-...

— Não foi isso.

— Não me interrompe!

— Você 'tá indo para o lado errado!

— Então me diz o lado certo! — Cutuco seu peito com meu indicador, bufando.  — Eu não ligo se eu te irrito, estou pouco me-...

Hanabi! — Ele aumenta o tom e segura meus braços. Não da maneira agressiva, é da maneira estranha. Konohamaru me mantém imóvel, seus dedos pressionando minha pele com uma leveza hesitante, como se não quisesse fazer aquilo. — Não quero falar sobre isso.

— Ótimo, mais uma proibição. Só para saber, quais assuntos ainda podemos conversar?

— Hanabi...

— Não podemos falar sobre quais assuntos ainda podemos falar?

— Ah, Hanabi-kore!  — Ele me solta e dá dois passos para trás. Quando o luar atinge seu rosto, percebo que está vermelho.

Um silêncio cai sobre nós, e não dura nem cinco segundos.

— Kore?

Ele fica mais vermelho. Eu me aproximo. Inclino a cabeça.

— Uma verdade — Sussurro. Ele desvia o olhar. Eu coloco minhas mãos com as suas, num movimento impulsivo que muda a situação por inteiro.

Seus dedos estão quentes como fogo.

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