Catarina Allen:
. Minhas pernas estão cansadas, sinto meus músculos doloridos, mas aquele aperto no peito era pior, algo me puxa com força, em uma direção, para longe de qualquer estrada, mais fundo na mata.
- Não podemos parar e descansar um pouco? - LeBlanc pergunta ofegante.
- Não...estamos perto - eu digo seguindo em frente, sinto uma mão pesada em meu ombro, olho para o rosto bronzeado e cansado de Percy.
- Bem, se estamos perto, precisamos descansar pra estarmos em condições de fazer algo contra quem estiver lá - ele diz, eu bufo descontente, mas meus ossos rangem em alívio quando me sento recostada em uma árvore.
- O que acham que encontraremos? - Pergunto aos dois mais velhos ali, fechando meus olhos cansados, ouço os outros desabarem na grama.
- Não sei...mas algo bom não é - Anny fala, sua voz recheada de incerteza e cansaço.
- Cat...como sabe a direção? - Louis pergunta, abro os olhos novamente e olho para a copa das árvores que deixam apenas alguns raios de sol ultrapassarem.
- Não sei...eu só...sinto - dou de ombros, o aperto em meu coração me incomoda, mas meus olhos pesam mais, não durmo a um bom tempo e logo irá anoitecer.
. Me mexo desconfortável contra a árvore, a casca se prendendo mais aos meus cabelos, fecho os olhos de novo, deixando que minha cabeça tombasse para o lado, acordaria com uma bela dor no pescoço.
. Sinto uma mão quente contra minha bochecha, seguida de um ombro minimamente confortável, senti o calor da pessoa ao meu lado, que me embalou carinhosamente, me mexi um pouco mais me fazendo confortável ali, até que pudesse enfim deixar que minha mente descansasse.
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. Abro os olhos ao sentir uma luz forte em meu rosto, azul, meus olhos não desviavam em momento algum daquela esfera de energia azul, eu parecia ser puxada para ela, a corda que me puxava desde Manhattan terminava ali, naquela esfera, tão tentadora. O cheiro de grama molhada e pólen enche meus pulmões, vinha daquela esfera, eu sabia.
. Tentei levantar meu braço para toca-la, mas meu corpo não respondia, não importa o quanto eu forçasse, nenhum músculo meu se movia.
. Um soluço, baixinho e quase inaudível, mas um soluço, murmúrios, suplicas, o máximo que consegui foi mover meus olhos, por mais difícil que fosse desviar a atenção da esfera. Em um canto, coberto por sombras, alguém se encolhia e chorava, não sabia quem era, mas meu coração pesava ao ver a cena.
. Os soluços cessaram e a pessoa se fundiu as sombras, sumindo completamente, meus olhos voltaram para a esfera.
- Pegue... - sussurrava a voz, a voz do meu outro sonho - Faça o que tem que fazer...
- N-Não... - chorava a voz, entrecortada por um soluço - P-Por favor...N-Não...
- Faça... - incentivava a voz - Intermedeie entre nós...meu poder...e eu....
- P-Por favor...C-Catarina... - arregalo os olhos, sendo a única coisa que posso fazer diante o horror que senti ao reconhecer...aquela voz.
. Tentei a todo custo abrir meus lábios e gritar, falar qualquer coisa, parar aquilo, um sonho, um pesadelo, o pior que já tive.
- Ande...Faça, criança...Ou outro pagará por você... - ameaçou a voz, um tom doce com o amargo veneno que escorria das palavras.
- N-Não é seu... - chiou a voz assustada.
- Sempre foi...e sempre será!
. Fechei os olhos que ardiam com as lágrimas não derramadas, os fechei com toda a força que pude, acordar, eu quero acordar!
. Eu cai, para a mais profunda escuridão.
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. Acordo em um pulo, ofegante, olho ao redor perdida, onde estou? Vejo Percy e Anny a frente, ressonando baixo, reconheço onde estou, estou em uma missão, no meio da mata. Ainda tremia um pouco quando senti uma mão em meu ombro, olho assustada para o lado, encontrando os olhos castanhos de Louis.
- Cat, tá tudo bem? - ele perguntou, eu expiro acalmando meu coração.
- Tô, foi só...um sonho ruim - eu engulo em seco, me recostando contra a árvore, os olhos bem abertos.
. O sol já havia se posto, os sons noturnos enchiam meus ouvidos, o farfalhar das árvores, o barulho das corujas, a musica dos grilos. Sinto Louis se recostar na árvore também, então foi ele que ofereceu o ombro para eu dormir.
- A pesar de assustadora...a noite é linda, não é? - ouço-o perguntar a mim, eu olho para o céu, um tanto envergonhada por estarmos tão próximos.
" O que sente toda vez que o vê?"
- Não acho tão assustadora...a floresta é assustadora, mas a noite não, a noite é...apenas calma, silenciosa - eu respondo, as palavras de Afrodite ressoando em meus ouvidos, o que sinto?
- Sabe, eu costumava subir até o terraço do meu prédio na Califórnia e observar as estrelas, me ajudava a pensar - ele conta, o olho pelo canto dos olhos, sua expressão é sonhadora, nostálgica, melancólica.
- No que você pensava? - ele suspira.
- Na doença do meu avô, éramos só nós dois depois que minha mãe morreu - ele fala, não com pesar, mas com...saudade.
- Deve ter sido doloroso, passar por isso tudo e ainda se descobrir um semideus - eu digo, ouço ele rir baixinho.
- Na verdade...me descobrir um semideus foi como...uma válvula de escape, sabe? Treinar com a espada me salvou de muitas noites conturbadas - ele disse, eu o olho pensativa, a luz da lua iluminava seus traços, suas sardas, ele não se parece tanto com Ares quanto eu pensava.
- ...Você não se ressente? - ele me olha questionador - Do seu pai...por abandonar você, soube que muitos semideuses se ressentem dos parentes divinos - eu expliquei, ele solta o ar pelo nariz, uma risada.
- Pra falar a verdade...no começo, eu sentia raiva dele, o odiava...mas então eu simplesmente deixei de ligar, quer dizer, eles são Deuses! O que seus filhos sentirão por eles durante algumas décadas não vai fazer diferença em sua imortalidade - ele dá de ombros, eu volto a olhar para o céu.
- Gosto da maneira que você pensa, LeBlanc - eu digo.
- Obrigado, Allen...também gosto da maneira que penso - eu rio da sua autoconfiança - tá melhor? - ele pergunta.
- Sim...valeu - o agradeço.
- De nada, Vossa Divindade - ele diz zombeteiro, eu o empurro com o ombro.
- Para, não sou uma Deusa - eu falo.
- É claro que é, é uma Deusa menor - ele fala, eu rolo os olhos.
- Nem mesmo sou imortal, eu sangro e não tenho grandes poderes além de falar com os animais - eu listo tudo aquilo que me desqualifica como deusa.
- Isso não muda quem você é - ele diz, dessa vez virando o rosto para me olhar, eu o olho de volta.
" O que sente toda vez que o vê?"
- Droga, Dite... - eu resmungo, ainda olhando aqueles olhos tão castanhos.
- O que disse? - ele franze a testa.
- Que tenho renite, esse ambiente úmido tá me matando - fungo um pouco dando ênfase a minha afirmação.
. Afrodite...que sementinha tola foi essa que você plantou no meu coração?
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1170 palavras
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A Herdeira
Fanfiction"Uma profecia" "Uma garota" "Uma família" "Uma história" "Catarina"