22 - Eu sou a Herdeira

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Catarina Allen

 . As folhas e galhos secos estalavam sob nossos calçados, as árvores farfalhavam com a brisa, além dos sons dos seres inanimados, nada mais se ouvia, como se a floresta tentasse se passar despercebida por algo ou alguém. Suspiro mais uma vez, aquela corda, seu aperto me rouba o ar, é incomodo, doloroso até, uma dor fantasma, como se estivesse apenas parcialmente presente.

- Cat, qual lado agora? - Anny pergunta me encarando, eu apoiava a mão direita em uma árvore e respirava fundo, tensa, estou tensa.

- Noroeste - é a única coisa que digo antes de voltar a caminhar.

- Allen! Espera! - Louis se apressa para me alcançar e segura meu pulso esquerdo, me viro para ele irritada, temos que continuar, estamos perto, não podemos perder tempo.

- O que é? - ele pisca com o meu tom rude, mas sua face continua séria.

- Temos que ir com calma, provavelmente estão nos esperando - ele diz, franzo a testa com impaciência.

- Ele tem razão Cat, precisamos analisar o perímetro em volta - Anny concorda com LeBlanc, eu bufo descontente.

- Cat...como sabe? Como consegue sentir a direção? - Percy pergunta, ele parecia refletir enquanto seus olhos me analisavam.

- Eu...é como uma corda - eu coloco a mão direita em meu peito - quanto mais perto estamos, mais ela aperta meu coração - eu digo, desviando os olhares de todos ali e olhando para noroeste.

 . Um sussurro, doce e sedutor, me chamando, me incitando a correr até ele.

 . Mal percebo quando estou correndo em sua direção, ouço as vozes deles abafadas, eles me chamam, mas esse sussurro sedutor é a única coisa que preenche meus ouvidos. Desvio de troncos de árvores e arbustos, tentando me aproximar o mais rápido possível, sinto algo se repuxar em meus estômago, faço uma careta em meio a corrida, é como se estivessem tentando puxar algo de dentro de mim, eu luto contra essa sensação, é como um cabo de guerra, eu puxando de um lado e outro alguém puxando a ponta oposta, o puxão se intensifica e eu sinto a terra tremer mais uma vez, interrompendo minha corrida.

 . Freio bruscamente quando uma árvore cai a minha frente, eu puxo a corda com mais força, ouço estrondos, grandes estrondos, como se algo desmoronasse, mais árvores caem com grandes estrondos, vejo pássaros debandarem e animais correndo para todos os lados. Fecho os olhos e respiro fundo, visualizo aquela corda, aquele fio azul cobalto, estendo minhas mãos em sua direção, sinto algo se agitar em mim, espreitando minha pele, me concentro naquela sensação, fecho meu punho com força em torno daquele fio.

 . Um grito esganiçado de ira em sua forma mais pura ecoa por meus ossos, eu travo o maxilar e franzo as sobrancelhas, não sei direito o que estou fazendo, mas sinto que devo continuar. A corda é tensionada com mais força, estão puxando, eu puxo de volta. Mais um brado de ódio ecoa, meus dentes rangem com o esforço que estou fazendo. Abro meus olhos, já não estou na floresta, estou em uma caverna ampla, o mesmo altar do meu último sonho no meio dela, a esfera azul no mesmo lugar, o fio azul cobalto se ligava a ela. Gritos de dor e agonia preenchiam meus ouvidos misturados ao guincho de ódio, palavras desconexas soam por entre os gritos distintos. Mãos pálidas sobre a esfera e cabelos loiros são reconhecidos por mim, eu arregalei os olhos ao constatar mais uma vez que aquele terceiro sonho que tive era uma premonição, ela chorava em desespero, eu podia ver as veias de seu corpo se sobressaltarem em um tom azul como o da esfera.

- Puxe! - sibila a voz irada.

 . Ela puxa mais uma vez, raiva domina todos os meus sentidos, eu praticamente rosno de ódio e puxo aquele maldito fio com toda a força que tenho, eu vejo a energia na esfera se revirar e se agitar, até que um clarão azul ofusca minha visão.

 . Sinto-me cair na grama, eu abro os olhos que percebi estarem fechados, olho assustada ao redor, estou novamente na floresta onde ocorreu o terremoto, me sento colocando uma mão em minha cabeça, estou ofegante e com uma maldita dor de cabeça, tudo parece girar e girar. Vejo um esquilo se aproximar de mim.

- Ei humana, o que houve aqui?! Não costumamos ter terremotos assim - ele pergunta subindo em meu joelho.

- Eu não sei... - respondo cansada.

- Você tá um caco! - ele inclina a cabeça, o vejo tirar uma noz da boca - Toma, você parece precisar mais do que eu.

 . Pego a noz com um sorriso, o quão acabada devo estar para esse esquilo me dar sua noz? Decido pensar nisso depois. Olho ao redor mais uma vez, nem um sinal dos meus companheiros de missão, olho novamente para o esquilo.

- Desculpe, mas por acaso o Sr não viu mais três humanos por essa floresta, acho que me perdi deles - ele parece pensar.

- Eu tenho visto alguns humanos como você por esses lados ultimamente, mas esse terremoto deve ter mandado todos eles pra bem longe - ele coça sua cabeça - Mas eu posso perguntar por ai! Me dá um minutinho! 

 . Ele desce do meu joelho e corre para o meio das árvores que resistiram em pé. Eu suspiro me levantando e batendo minhas roupas, olho para a noz que me foi dada pelo esquilo e faço uma careta, não tenho nada para abri-la aqui, decido guardá-la em minha jaqueta para comê-la em outro momento. Ouço um barulho nas folhas e me viro atenta a movimentação, mas apenas vejo o esquilo retornar com a companhia de um pica-pau. Eles param a minha frente.

- Voltei! Ele disse que viu seus amigos - o esquilo olha para o pica-pau.

- Olá admirável dama - ele me cumprimenta fazendo uma profunda reverência com a cabeça, eu o olho confusa, mas devolvo a reverência.

- Olá... Cavalheiro? - respondo incerta.

- Vi seus companheiros a uma hora atrás, eles estavam rendidos por degenerados encapuzados e seguiam para noroeste, bela dama - eu arregalo os olhos.

- Uma hora atrás? - Quanto tempo eu fiquei nessa visão? Faz tanto tempo assim que me afastei deles? Céus, eu preciso achá-los e descobrir quem os sequestrou - O brigada pela informação, tenho que ir agora.

 . Eu os agradeço e apresso meu passo, continuando em direção a noroeste, tenho que ajudar meus amigos, tenho que descobrir quem está fazendo esse caos, tenho que salvar Melissa daquela voz cruel. Quem ousa desafiar aos Deuses? Quem ousa desafiar a mim? Quem ousa sequestrar meus amigos? Esse alguém irá pagar por me subestimar.

 . Eu não vou desistir até salvá-los, até resolver esse problema, até completar essa missão, não vou desistir sem lutar.

 . Afinal de contas, eu sou uma Deusa. A Joia do Olimpo. Filha do todo poderoso Zeus e da toda poderosa Hera.

Eu sou a Herdeira

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1154 palavras

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⏰ Última atualização: Jul 25, 2022 ⏰

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