Capítulo 23°

1.4K 146 5
                                    

Abby encarou o próprio corpo, procurando alguma sujeira no vestido de seda rosa bebê. Um casal jovem olhava fixamente para ela, deixando-a paranóica. Passou o dia inteiro vasculhando o guarda roupa a procura de sua peça mais elegante, não exagerou na maquiagem, mas tinha certeza que estava bem.

Dante e Caden estavam de tirar o fôlego, ela queria sentar no colo deles desde que os viu dentro daqueles ternos, mas segurou essa vontade sexual louca por enquanto. Tinha que manter o foco para ajudar Leroy de uma vez, fazia parte do plano.

— Boa noite, você é...? — A mulher ruiva se aproximou com um sorriso misterioso. Usava um vestido longo estilo sereia, moldando o corpinho de modelo. O acompanhante dela se manteu atrás segurando a taça de champanhe.

— Abby Graham. — Ela apertou a mão da moça. — Prazer em conhecê-la, Srta...?

— Sou Noora Winston. — Respondeu imediatamente. — Então você é a pintora famosa que namora os Haddock, ouvimos falar de você. Esse é Rickie, meu namorado.

— Olá. — Abby acenou amigável, recebendo uma piscadinha sugestiva do rapaz, ato que passou despercebido pela companheira.

— Queria te fazer uma proposta irrecusável! — Noora fez um bico analítico, apertando os olhos.

Negócios? Abby tossiu mordendo o lábio inferior, desejando que um dos namorados, ou até os dois, brotassem do chão naquele momento.

— Sabemos que você tem uma galeria famosa, que atualmente é ponto de referência no Kansas. — Rickie bebericou a bebida.

— Sim...?

— Podemos nos ajudar, o que você acha? — Noora sugeriu. — Você pinta ou desenha uma tela minha e expõe na sua galeria de artes, assim eu atraio público para você e vice-versa.

A Winston sorriu largamente, piscando os olhos azuis de forma confiante. Abby continuou em silêncio, entendendo o quão valiosa aquela mulher diante dela se considerava. Bem, errada Noora não tava, mas ela não trabalhava dessa forma pediu-levou.

— Olha Noora, eu não funciono assim. — Esclareceu, matando o sorriso da modelo. — A inspiração fluindo conta muito, eu me expresso, é algo que eu sinto e coloco nas telas, entende?

— Está dizendo que eu não inspiro você?! — Esbravejou ofendida, apertando os lábios.

— Infelizmente não. — Abby deu de ombros tranquilamente. — Pinturas tem um significado por trás, surgem do inusitado, do sentimento de cada pintor, assim é a arte.

— Sabe que está desperdiçando a melhor oportunidade da sua vida, né? — Noora insistiu. — Eu sou uma figura pública muito famosa, você só tem a ganhar!

Abby mordeu a língua para não despejar em cima da ruiva que nunca tinha ouvido falar dela. Talvez porque não gostava de olhar sites celebrits ou aqueles envolvidos em fofocas.

— Podem manter contato, caso você mude de ideia. — Rickie propôs. — Minha mulher está sempre aberta a negociações, certo querida?

— Não estou interessada, Srta. Winston. — Decretou firme, procurando alguém conhecido nas redondezas. — Com licença!

Abby se foi quase correndo, caminhou até chegar próxima a mesa onde os gêmeos descansavam, conversando com Martin. Ela viu o momento exato que Leroy entrou dentro de casa transtornado, sendo seguido por Alicia Hill, igualmente possuída.

Abby os seguiu, passando despercebida, tirou os saltos andando na pontinha dos pés pelo corredor atrás do "casal". Diferente dela, alguém não sabia ser discreto, não era a única enxerida naquela perseguição.

O toc toc afobado dos sapatos de Glenda veio um pouco atrás. A loira tentava correr de braços abertos, semelhante a uma pata aprendendo a andar. Abby fechou a cara, estendendo as mãos a frente do corpo para pausar a corrida desengonçada da amiga.

— Shhhiu! Tira a porra dos sapatos, Glen.

— Tá, tá bom! — Sussurrou removendo os saltos. — Vamos rápido...

— Fofoqueira!

— Hipócrita! A ideia foi sua.

— Que seja, é por uma boa causa.

— Vamos calar a boca. Vem vem.

Abby se escondeu no canto da parede, atrás da cortina vermelha, sentindo o corpo de Glenda pressionar atrás do seu, encostando o queixo no seu ombro. Leroy e Alicia discutiam avidamente na sala, ela quis pegar os dois pelo pescoço antes que se matassem.

— Abby, Vai! Vai! Me dá logo! — Glenda sussurrou no ouvido dela, Abby entregou bolsa na mão da loira, prestando atenção na briga verbal.

Estavam se saindo belas malucas, apesar de que nunca foram normais antes. Abby levou a mão até a boca para abafar a vontade de gritar uma pequena torcida para Leroy. O desejo de esganar aquela mulher era grande, só não maior que sua vontade de estragar os planos sujos dela.

— Você não tem escrúpulos? Isso é ridículo! — Esbravejou o Beaumont possesso. — Casamento não é brincadeira, Alicia!

— Eu sei, você que não parece entender! — Retrucou a patricinha.

— Ninguém deveria ser obrigado a satisfazer os seus caprichos de menininha famosa! Eu me apaixonei, caralho! Quero correr atrás da minha felicidade e você está me impedindo com essa sua ambição sem fim.

— E você quer que eu me passe por idiota? Eu finalmente alcancei o patamar que tanto almejei, você não vai estragar tudo, essa cidade inteira e milhares a fora querem nos dois juntos! — Alicia riu desdenhosa. — Que vá para o inferno esse seu amor de merda, eu não dou a porra da mínima seu imbecil!!

— Claro... — Leroy bateu palmas, furioso. — Você só se importa com você mesma, com fama e dinheiro...

— Que doida... — Abby sussurrou.

— Vaca maluca. — Glenda acrescentou baixo. — Morde a língua. Morde a língua. Morde a língua.

Shhhiu, coisinha púrpura!

— Tente abandonar tudo, quem vai pagar o parto é o seu querido pai, a carreira dele vai cair mais rápido que um relâmpago. — Alicia estalou a língua, assumindo pose vitoriosa. — Fora que eu vou fazer questão de transformar sua vida em um inferno, tenho milhares de seguidores, eles vão adorar apoiar a noiva traída, sempre apoiam. A vadia que você escolheu como amante será massacrada em todo lugar, bem... Eu posso fazer muito pior do que isso se é que me entende.

— Meu Deus! — Leroy esfregou o rosto rindo desacreditado. — Você é tão podre! Pretende manter essa sua farsa de boa menina para sempre?

— Até onde me convém. — Alicia soltou uma respiração profunda e olhou ao redor. Abby empurrou Glenda para se esconder mais atrás, tapando a boca da Maxwell. — Está avisado, amorzinho. Que fique claro, eu não brinco em serviço. Não me desafie, seja um bom marido e nada saí do controle. Vamos voltar até a área externa e fingir que somos um casal perfeito. Lembre-se, você me idolatra e me ama muito. Eu não me incomodaria em manipular os internautas sedentos por fofoca ao meu favor, eles estão na palma da minha mão.

Glenda fez um joinha fechando a bolsa e a enfiou debaixo do braço, aumentando as expectativas da pintora. Abby a puxou correndo na ponta dos pés, com medo de ser pega.

Foram para longe colocando os saltos novamente, esbarrando em uma funcionária da casa.

— Posso ajudar em alguma coisa, Srta. Abby? — Edith se prontificou.

— Siim, ainda bem que você apareceu. Não achamos o banheiro, esse lugar é tão grande que ficamos perdidas.

— Normal, às vezes eu me perco também. Sigam-me. — Foi andando na frente. — Nos primeiros dias tive que andar sempre acompanhada do senhor Leroy para decorar os cômodos com exatidão.

— Não julgo, esse lugar é um labirinto!

— Hum... Edith, quem foram os responsáveis pelo preparo dos canapés? — Glenda perguntou como quem não quer nada.

Abby riu brincalhona, dando um pequeno soco no braço da amiga, que resmungou baixo.

— Pare de ser esfomeada, Glenda!

ELES - Reconstruindo AbbyOnde histórias criam vida. Descubra agora