Sonhos

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I'm back garças as mensagens de incentivo da Lady_De_Vil.
Espero que gostem do cap
Beijinhos!!!!

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Ella sentia-se flutuar, como se o corpo estivesse leve demais e a única coisa a prendê-la àquela vida miserável fosse sua teimosia em permanecer viva. Ainda não sabia pelo que exatamente lutava, devia haver um propósito maior do que simplesmente lutar por cada dia que sobrevivia. À essa altura a dor já era uma memória distante, algo que se restringia ao corpo físico, e Ella já estava bem longe disso.

Aos poucos a escuridão se esvaiu, como se o sol iniciasse a sua subida no horizonte para colorir tudo, e Ella se viu parada em uma sala de estar pequena, simples, mas bem iluminada e aconchegante.

Não teve tempo de absorver muita coisa antes que uma voz límpida, carinhosa e que começava a ser esquecida, chamou pelo seu nome.

- Mãe?

Sua mãe lhe sorriu e acenou. Estava exatamente como Ella a viu pela última vez, os cabelos loiros e longos caindo em cascata sobre os ombros, e nunca pareceu tão bonita; Ella havia se esquecido de como se pareciam, de como tinham as mesmas covinhas, os mesmos olhos, mesmo sorriso... Ou talvez fosse apenas sua mente lhe pregando peças com sua memória deteriorada.

- Mãe?

A mãe acenou mais uma vez, mas não sorriu. Sua expressão mudou para a tristeza, como se sentisse tanta saudade de Ella quanto Ella sentia da mãe; olharam-se por alguns segundos ou mais, tão perto e ao mesmo tempo tão distantes como se uma barreira as separasse. Ella não sabia o que a impedia de correr e abraçar a mãe, aperta-la entre os braços para tentar impedi-la de desaparecer e deixá-la mas uma vez sozinha, mas simplesmente não conseguia se mover por mais que assim desejasse.

As feições de sua mãe se transformaram da tristeza para o terror absoluto e Ella mal teve tempo de se virar para ver que a porta da sala estava aberta e uma horda de zumbis se aproximava rapidamente pelo corredor; gritou a plenos pulmões para que a mãe corresse, no desespero chegou a procurar algo que poderia ser usado como arma, mas ao voltar-se em direção à cozinha  viu a mãe caída no chão com pelo três zumbis se refastelando com sua carne. O tempo pareceu desacelerar consideravelmente, um dos zumbis – que parecia mais uma adolescente e Ella notou, com horror, que ainda usava aparelho ortodôntico nos dentes apodrecidos – enfiou os dedos carcomidos no abdômen de sua mãe e arrancou um punhado do intestino e meteu na boca como se fosse um tipo de macarrão bizarro e sangrento.

 Ella gritou, mas o som ficou preso em sua garganta e tudo o que saiu foi um grasnido estrangulado.

Os zumbis do corredor se aproximaram rapidamente, atravessaram a porta e o cheiro de podridão se espalhou pela sala, como merda velha que passou dias sendo cozinhada em banha rançosa, o cheiro que tomou o mundo e o transformou em um grande campo de decomposição a céu aberto. Deixando-se levar pelo instinto, Ella pulou a janela da sala e caiu com um baque na escadaria de incêndio do lado de fora do prédio, os zumbis se amontoaram contra o pequeno espaço e só por isso não conseguiram segui-la, mas os braços apodrecidos se esticaram para tentar acalmar qualquer pedacinho seu que estivesse ao alcance e Ella se esquivou deles ao subir a escadas em direção ao andar superior.

A escada balançou sob seu peso, mas não deu indícios de que iria ceder. A primeira janela que alcançou mostrou  um homem sentado na poltrona, debatendo-se e gritando desesperadamente enquanto a mulher morta, provavelmente sua esposa ou mãe, arrancava grandes pedaços do seu rosto com os dentes; o vestido florido que usava estava completamente manchado e sangue e, Ella reparou, alguns pedaços de carne.

Virou-se e voltou a subir antes que aquela zumbi resolvesse-se persegui-la também. A segunda janela quase a fez gritar – quase, porque Ella sabia que não devia fazer isso a não ser que desejasse tocar a sineta do jantar – mas ainda assim congelou no lugar em que estava. Uma mulher se enforcou no ventilador da sala, não fosse horrível o suficiente ver o seu corpo inerte girando lentamente três crianças pequenas – dois meninos e uma menina, seus filhos – arranhavam e tentavam morder suas pernas, quando conseguiam arrancavam nacos de carne sangrenta com a mesma voracidade com que devoravam os doces antes de se transformaram em pequenos monstrinhos; no chão, a apenas alguns metros da cena grotesca, o corpo de um homem jazia inerte após ter toda a carne do rosto consumida e até mesmo seus olhos foram arrancados deixando apenas espaços vazios que pareciam encarar Ella.

Dias Passados (fanfic Lady Dimitrescu)Onde histórias criam vida. Descubra agora