Prólogo

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Carrapato.

Era isso o que Petruchio era: um car-ra-pa-to.

Com todas as letras que carrapato tinha. E em todos os seus significados e também sinônimos.

Aquele homem não a largava por nada. Até serenata havia lhe feito e além disso havia inventado aquele apelido horroroso: Favo de mel.

Só de lembrar da barba dele lhe roçando o rosto e o beijo dele lhe fazendo ficar com as pernas bambas, lhe causando arrepios. Arrepios que ela nunca havia sentido - muito menos admitido que havia sentido - antes em toda a sua vida. Ela não queria mais sentir essas sensações. Precisava dar um fim nesse carrapato.

Tinha um plano naquela noite e se tudo desse certo ia se livrar daquele carrapato para sempre.

O único problema era a fantasia que ele estava usando. Homem das cavernas, seu peitoral praticamente nu, todas as mulheres da festa olhando para ele. Catarina não se aguentou, quando deu por si já estava questionando:

— Como se atreve a vir pelado?

Ele lhe deu a resposta que só estava fantasiado, ao mesmo tempo em que mulheres passavam ao lado dizendo que ele era um pedaço de mau caminho. Catarina ficou com raiva, mas tinha um sentimento dentro dela que nunca havia sentido, não queria falar que era ciúmes. Pegou Dinorá pelo braço que passava ao lado e falou:

— Dinorá, que bom que veio, diga a esse senhor que isso não é traje para vir numa casa de respeito. - não conseguia nem dizer seu nome.

— Dinorá, Dinorá, que bom que veio, diga a essa moça que fantasia é fantasia e que minha fantasia é tão inocente quanto uma brincadeira de criança.

— Dinorá! Diga a esse senhor… - sua voz já estava completamente raivosa. - Para ele ir embora imediatamente.

Dinorá não conseguiu falar pela terceira vez seguida, Petruchio começou a rir sarcasticamente, o que só aumentava o ódio de Catarina.

— Dinorá! Diga a essa senhorita que embora eu não vou memo, que eu sou convidado, tão convidado quanto os outros.

Catarina ia dizer, mas Dinorá estava exausta.

— Quer saber? Briguem sozinhos! - ela saiu ao mesmo tempo em que uma mulher desconhecida com um vestido branco com rosas vermelhas passava ao lado.

— Eu que queria ser agarrada pelos cabelos.

O monstro dentro de Catarina rugiu e ela não controlou-se mais.

— Ou… ou bota uma roupa decente ou não fale mais comigo!

Catarina saiu de perto dele tremendo de ódio. Só podia estar tremendo de ódio, não de qualquer outro sentimento que o ciúme.

Claro que Petruchio concluiu que ela estava com ciúme e disse isso com todas as letras para Calixto, ria feliz da vida que tinha conseguido toda a atenção da pretendente pelo menos uma vez na vida. Calixto logo cortou seu barato dizendo que ela estava era com raiva. Petruchio não ligou, voltou a dançar feliz da vida atraindo a atenção de todas as outras mulheres da festa.

Catarina não aguentava mais ver aquela cena, abriu a porta do escritório de seu pai com toda força:

— Papai! O senhor deve colocar o Petruchio para fora! A fantasia dele é um atentado ao pudor.

Batista sentiu sua gastrite lhe apertar o estômago na mesma hora, mas ficou curioso quanto a fantasia que tinha tirado a filha dos eixos e tinha feito ela lhe pedir socorro, Catarina nunca lhe pedia socorro pra espantar nenhum pretendente.

De repente no futuroOnde histórias criam vida. Descubra agora