Jantar de anunciação

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Para Laura Batista.

Olá mamãe, como vai? Queria lhe dizer que está tudo bem por aqui, mas não está. Refleti muito nesses poucos dias que estou nessa nova realidade e… a verdade é que… eu não sei o que fazer! Não sei o porquê que estou aqui, não sei por quê o tempo me pregou essa peça, não sei por quê estou tendo que passar por essa lição, eu só sei que queria conversar com a senhora, por isso decidi escrever. O tempo todo eu lembro da senhora, mamãe. Eu lembro da senhora penteando meus cabelos antes de dormir, eu lembro da senhora me contando o quanto os homens eram horríveis me fazendo prometer que jamais confiaria neles, eu lembro da senhora me fazendo prometer que iria cuidar de minha irmãzinha. Eu lembro da senhora principalmente agora que me descobri grávida. Grávida mamãe! Estou grávida! Como isso pode ser possível? Sempre que coloco a mão em meu ventre eu sinto o amor, a responsabilidade e a forma de mãe em todos os aspectos surgindo em mim. Maternidade? Eu não sei ser mãe.. E os gêmeos! São tão diferentes, tão singulares em cada particularidade que não tem como, eu já ando pela casa preocupada com o que eles vão pensar de mim, já arrumo suas roupas pós banho e me vejo brincando com eles, conversando, acariciando quando precisam de mim. Isso é ser mãe? Eu não sei ser mãe! Eu não me preparei para isso! Eu me preparei para discursos feministas, lutas diárias para direitos das mulheres, para afugentar meus bajuladores com vasos, não me preparei para isso. Uma vida a dois que se multiplica com filhos e filhos. A senhora me perdoaria se estivesse viva? A senhora seria feliz casando com o homem que amava e teria filhos com ele por vontade própria? A senhora renegaria o nome, a sua fortuna, em nome de um amor verdadeiro como a mãe de Petruchio fez? Eu não existiria e nem Bianca se você estivesse sido feliz, mas imagino seus outros filhos como teriam sido felizes nessa outra realidade e talvez a senhora não tivesse morrido… E eu mãe? O que faço?...

Catarina parou de escrever, estava chorando muito ao ponto de não enxergar nada. Fechou o caderno no qual se desabafava e deitou sua cabeça sob ele. Seu corpo sacudia enquanto chorava, foi a hora que Petruchio entrou no quarto. Reparou nela a distância, lhe era permitido se aproximar e a acalentar? Ela parecia tão frágil quanto um vaso em sua mão, andou depressa até ela preocupado e colocou a mão em seu ombro, sem medo.

— Catarina, não chore. - pediu aos sussurros.

Ela ergueu os olhos e reparou no olhar de preocupação dele, encostou sua cabeça em seu peito e esperou que ele a abraçasse.

— Tô me sentindo tão perdida. - confessou.

— Mas não se sinta, eu tô aqui pra te ajudar. - ele começou a dar palmadinhas em suas costas bem de leve.

Ela levantou o rosto o encarando, ficou pensando em tudo o que havia acontecido naquele dia até o momento, tudo o que havia lido sobre ele no diário. Petruchio parecia diferente de qualquer homem que já havia lhe cortejado. Ele respeitava seu espaço, era companheiro, se preocupava consigo e era um pai espetacular.

— Obrigada. - ela ergueu seu rosto o encarando.

Ela já estava com vontade de beijá-lo, não era difícil ceder a seus impulsos. Inclinou seu rosto até ele indicando o que desejava. Petruchio estranhou, mas esperou ela se aproximar mais, queria ter certeza que ela não iria fugir. Por fim, quando viu ela fechar os olhos, eliminou o resto da distância que tinham e a beijou, mas na testa.

Catarina abriu os olhos surpreendida pela atitude dele, ele sorriu para ela coçando seus cabelos da nuca.

— Não quero que ocê pense que tô abusando de sua dor aproveitando que tá triste pra beijar ocê.

Catarina respirava forte, como se tivesse corrido uma distância enorme para chegar até ali, seu coração não parava de bater desesperado. Havia sido pega de surpresa pelo desejo eminente e não conseguia disfarçar.

De repente no futuroOnde histórias criam vida. Descubra agora