O som suave de sinos emitidos de um Furin* ecoou no ambiente quando a rainha abriu a porta. Como esperado o lugar estava empoeirado, mas sem teias de aranha, o que demonstrava que ele havia sido limpo recentemente, talvez há uma semana no mínimo. Ela passou um pano na mesa antes de colocar a bandeja que trouxe sobre ela. Depois pegou uma vassoura e varreu o ambiente. Quando terminou, posicionou três almofadas ao redor da mesa e se sentou de frente a estátua que estava no local. Ela serviu três xícaras de chá e três bolinhos da Lua.
Os bolinhos da Lua* eram uma receita exclusiva da rainha, a massa era crocante por fora, mas derretia na boca, recheados com geleia de morango e ainda tinha um amargor suave de licor ou vinho dando uma quebra perfeita e complementar ao doce da geleia. Ao contrário de sua mãe, Akame era uma excelente cozinheira e suas receitas eram extremamente saborosas. Os soldados faziam fila para comer mais de duas tigelas de suas comidas e as crianças do orfanato também.
Quando ela fez essa receita pela primeira vez, tinha apenas 13 anos, que foi na ocasião em que ela ganhou esse mini templo escondido dentro da floresta, perto da nascente do rio. Seus pais tinham uma aversão ao deus da sucata, o Príncipe Herdeiro de Xian Le e o rei fantasma, Chuva de Sangue atingindo uma flor. Entretanto, eles sempre foram os preferidos de Akame. Ela tinha um carinho grande por eles e sempre quis uma imagem deles dois, mas seus pais eram enfáticos quanto a decisão de não adorá-los.
Um pouco depois do seu aniversário de 13 anos, sua avó lhe deu esse templo escondido de presente que se tornou seu porto seguro. Esse se tornou um segredo só delas, nem Jiao Kueng, nem Li Huang sabiam da existência desse templo. Desde que o ganhou, Akame sempre fez um esforço para visitá-lo ao menos uma vez no ano (de preferência em seu aniversário), após se tornar rainha as visitas aumentaram, visitando mensalmente seu querido lugar para não levantar muita suspeita e chamar atenção para o que ela fazia.
— Hoje é meu aniversário de 21 anos, mas eu sinto como se estivesse fazendo cinquenta. Esses anos não foram fáceis, foram cansativos, mas eu sei que foi por um bem maior. — falou Akame conversando com a estátua.
A estátua retratava Xie Lian e Hua Cheng, se abraçando de lado, com os braços direito e esquerdo respectivamente, passando por trás das costas deles. Suas outras mãos estavam uma sobre a outra e seus rostos estavam inclinados na direção de Akame, como se olhassem e sorrissem para ela. A estátua apesar de serem duas pessoas, era uma só e era perfeita como se o escultor conhecesse o real rosto e vestimentas do casal. Quando ela ganhou aquele templo ela percebeu que esqueceram de colocar um item importante: o fio vermelho no dedo deles. Como ela não tinha um fio vermelho na época, ela pegou a fita vermelha que prendia seus longos cabelos negros e amarrou as mãos que estavam sobrepostas e fez um laço. Não ficou tão delicado quanto um fio vermelho, mas ela gostou da cor viva que aquela fita trouxe àquela estátua feita com alguma rocha escura.
Ela conversou com a estátua por um tempo, relatando a discussão do café da manhã com sua mãe, os sonhos que teve e os planos para sua festa de aniversário à noite. Ela nunca fazia pedidos como as pessoas comuns, ela sempre ia ao templo para limpá-lo, comer e conversar com a estátua, fazer outras oferendas e acender incensos. Ela não pedia prosperidade, vitória em batalhas, casamento, fertilidade, nada disso. Ela só queria passar um tempo com a estátua, desabafar com alguém que parecia ouvi-la, mas infelizmente não conseguia responder. As vezes ela sentava ali até o chá esfriar, ansiando do fundo do seu âmago que alguém falasse com ela e respondesse suas perguntas, mas tirando o som dos doces sinos, o silêncio era sua única resposta.
Ela terminou de comer seu bolinho da Lua e tomar o chá. Olhou mais uma vez para a estátua e suspirou:
— As pessoas sempre me dizem que eu sou especial, bela, orgulhosa, determinada, que nem mesmo o céu é um limite para mim. Elas sempre me questionam sobre marido e filhos, sobre o amor... Todas as minhas irmãs encontraram seus caminhos em direção ao amor, mas eu não acho que consigo encontrar esse caminho. — Ela se levantou, andou até a estátua e colocou a mão direita sobre as mãos que estavam sobrepostas da estátua e sussurrou: — Como posso encontrar o caminho do amor, se eu nem ao menos sei como é se sentir amada por alguém?
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O Resplendor de um Destino
Fanfiction"Sabe quando as coisas acontecem de repente? E você diz que foi o destino que fez assim? O destino pode até não ter forma, mas ele pode te impedir de seguir seu próprio caminho, se ele estiver sendo controlado por mãos malignas." "O amor tem várias...