Capítulo 3

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Angelina

Entro no apê de Tetê e ela já me esperava na porta. Ela abre os braços com   cara de choro.
— Vem cá chapeuzinho. — Sthefany me abraça e aceito seu carinho.
— Obrigado por me deixar ficar aqui amiga, Miguel queria que eu ficasse em um apartamento dele.
Ela me solta e segura meus ombros.
— Quem é Miguel Angelina? — Ela está com as sobrancelhas levantadas já pronta para me encher de perguntas.
— Ele é o médico da minha mãe Tetê, ele me trouxe para casa hoje de madrugada e por incrível de   pareça ele   apareceu lá em casa na hora que aquele monstro ... — respiro fundo tentando fazer o choro não vir   novamente.
- Tudo bem amiga, não vamos mais falar sobre isso ok? Vamos apenas ficar aqui, ver alguma série e comer besteira. Por que você não toma banho? o outro quarto está arrumado para você.
O apartamento de Tetê não era muito grande, mas era arrumadinho e eu tinha orgulho de tudo o que ela havia conquistado com seus esforços.
— Tudo bem amiga, estou precisando mesmo.
Tomo meu banho pensando   em porque Miguel foi até minha casa e se ele não tivesse chegado a tempo ali algo muito ruim poderia   ter acontecido. Muitas coisas passavam pela minha mente naquele momento, eu precisava tanto da minha mãe, queria tanto que ela tivesse aqui agora bem e lúcida, mas nós não mandamos no destino, infelizmente. Saio do banho me sentindo nova em folha e me sento com Tetê que já está com as coisas arrumadas na sala e com a televisão ligada.
— Hoje você não vai para a boate? — Digo sentando-se ao seu lado e me cobrindo com uma manta.
— Não. Hoje eu sou exclusivamente sua. — Ela  sorri levantando  o copo de  refrigerante e sou  grata a  minha amiga , sei que ela  tenta   me animar  mesmo eu querendo me enrolar em um  canto da cama e  terminar  de chorar  tudo o que eu tinha para chorar .
— Chapeuzinho, acho melhor você não ir para a boate. Você tem condições de arrumar outro emprego e eu posso ir te ajudando conforme meu salário vai saindo.
— Nem me diga uma coisa dessas Sthefany! Eu já procurei e tudo quanto foi canto e agora mais do que nunca eu preciso de dinheiro para ajudar no pagamento do tratamento da minha mãe.
— Eu sei amiga, mas...
— Não tem mais amiga. Quando   você vai novamente à boate?
Ela bufa e fecha os olhos.
— Amanhã, Angelina.
- Então nós vamos juntas.
— Como quiser, chapeuzinho.
A noite logo chegou e o sofá quase nos engoliu de tanto que ficamos jogadas nele. Depois de uma pizza e mais alguns filmes de comédia romântica nós adormecemos.
Acordo me espreguiçando sentindo braços por cima do meu corpo e vejo ser de Sthefany que está com a boca aberta ressonando. Tiro seus braços e me levanto olhando as horas no celular, eu teria que ir ao hospital visitar minha mãe se não perderia o horário da visita.
Vou até o banheiro, escovo meus dentes e tento deixar minha cara um pouco mais apresentável, mas minhas olheiras e minha cara inchada entregam meu choro da madrugada.
— Angelina? — Sthefany chama ainda com a voz grogue.
— Oi, estou aqui — digo indo em direção ao quarto onde ela tinha colocado minhas roupas e pego uma calça e uma regata qualquer. Aqui no Rio de Janeiro era bem difícil fazer muito frio, os dias eram muito quentes e as noites  mais chuvosas. — Tenho que ir visitar mamãe hoje, está quase na hora a visita.
— Ah sim, então eu vou com você e de lá nós vamos comprar algumas roupas para ir a boate mais tarde. já se esqueceu?
Como eu esqueceria daquilo?  Ainda estava com aquela proposta entalada na minha garganta depois de das coisas que me aconteceram, eu não sei se iria conseguir deixar alguém encostar em mim. Mas por outro lado preciso do dinheiro e a boate paga em uma noite o que eu suaria para conseguir em um mês ou mais.
—Claro que não Tetê. Vai lá se arrumar, só não demora muito ok?
Ela assente e corre para o banheiro me deixando na sala divagando sobre a minha vida e como tudo se tornou esse grande amontoado de problemas. Eu nunca fui de reclamar de nada, preferia muito mais levantar e fazer algo para resolver a situação, ou então quando não podia fazer nada eu apenas fazia o que podia e ponto. Porém as coisas estão bem estranhas ultimamente, e uma das coisas que mais me intrigam não é bem uma coisa e sim uma pessoa. Miguel. Por que ele queria tanto me proteger? e por que ele estava no prédio ontem, quando aquele porco me atacou?
Suspiro frustrada.
— Acorda chapeuzinho, vamos lá?
Pegamos nossas bolsas e Sthefany pede um carro de aplicativo.  Em alguns minutos já estamos na porta do hospital, vou até a secretária que   anota meu nome e passo o crachá para nós duas. Subimos para a ala B onde minha mãe estava.
— Bom dia Angelina. — Aquela voz grossa...eu apenas consigo respirar fundo e me virar com os olhos de Tetê presenciando tudo.
— Bom dia Miguel. — Digo e lhe dou um sorriso tímido.
Minha amiga me olha e cochicha:
— Caralho, esse que é o seu Miguel? que gostoso.
— Cala a boca. — Arregalo meus olhos para ela e me viro para Miguel que ainda estava parado ali sorrindo.
— Você está melhor Angelina?
— Um pouco. Obrigada pela ajuda ontem tá? E como minha mãe está?
— Ela está estável agora, ainda está sendo feito o uso de muitos remédios para que ela fique bem. Nós precisamos diminuir isso mas ainda não conseguimos fazer o desmame deles.
— Mas você acha que ela pode melhorar ? — Eu precisava sempre dessa esperança mesmo sabendo que o caso dela era bem grave.
— Olha Angelina nós estamos fazendo o tudo o que é possível para que ela fique bem.  Agora só o tempo dirá.
Ele afaga meu braço e não consigo olhar—lo pois sei que minhas lágrimas estão próximas de cair. Ele apenas acena e sai entrando em uma outra sala com outro paciente.
— Caraca Angelina, esse médico te olha com tanto tesão que até eu fiquei molhada aqui... ui. — Ela se abana e consegue tirar um sorriso dos meus lábios.
— Fica quietinha sua maluquinha. Vamos entrar. — Nós entramos no quarto austero, o cheiro de éter invadindo meu nariz me faz coça—lo de nervoso. Minha mãe está deitada na cama, seu rosto magro e vários fios saem de seu peito e há um tubo em sua boca. vou até ela e pegou a sua mão fria.
— Oi mãe. Você vai sair dessa, eu prometo. — Digo com meus olhos enchendo d’água.  Tetê chega mais perto e afaga meu braço.
Ficamos ali por pelo menos meia hora e depois tivemos que sair pois terminou a visita. Me despeço de minha mãe com o coração doendo.  Tetê me puxa pela mão e saímos do hospital, ela me leva até a boate que trabalha, a Lux e me sinto nervosa ao entrar naquele lugar. As paredes eram forradas com um tecido vermelho e havia mesas espalhas e algumas poltronas espelhadas pelo lugar, tudo ali gritava luxúria e isso me dava medo cada vez mais. Uma mulher que parece mais uma modelo malhada nos recepciona e chegamos até uma sala onde uma loira com roupas muito coladas e batom muito vermelho nos recepciona.
— Marluce, essa é Angelina a menina que te falei. — Ela me olha, depois olha meu corpo e sorri.
— Olá menina, você é linda. E essa sua timidez chamará a atenção dos rapazes, tem certeza que quer entrar pra essa vida garota?
Eu não tinha escolha ... era isso ou minha mãe definhando ainda mais em um hospital público então.
— Sim senhora. Preciso muito desse dinheiro.
— Senhora está no céu garota, me chama de Marluce. Acho que Sthefany já falou pra você como isso aqui funciona, metade dos ganhos da noite são da boate e quem escolhe os caras é você.
— Tudo bem.
— Você usará sua máscara e seu nome será outro. Tudo que acontece na Lux permanece na Lux. Sthefany leve ela para conhecer o espaço e dê algumas aulas de sensualidade a ela, você começa essa noite. Então se prepare.
Tetê me leva aos quartos que ficam na parte de cima da boate e eles são completamente luxuosos e eu não esperava outra coisa.
Depois fomos a um quarto onde mais parecia um closet, lá havia uma penteadeira extensa com um espelho enorme na parede. Algumas meninas estavam ali se maquiando, Sthefany me empurra porta adentro e todas param para me olhar. ótimo.
— E aí vadias! essa é Angelina, ela vai começar hoje aqui.
Eu sorrio sem graça.
— Mas olha só!  Carne nova no pedaço. — Uma mulher loira com um corpete preto diz, eu poderia até dizer que ela era linda, mas sua cara de nojo me fez pensar ao contrário.
— Não liga, ela é desgostosa da vida. — Uma outra mulher morena com uma lingerie vermelha e cabelo perfeitamente ondulados me sorri e me estende a mão.
— Seja bem vinda, sou Janaína, mas pode me chamar de Jana.
— Prazer Jana.
— Jana, precisamos de uma fantasia para a chapeuzinho ... — Tetê diz me girando.
— Chapeuzinho?
— Sim, ela me chama assim desde pequena. — Sorrio com a lembrança, não lembro quando foi ao certo que Sthefany começou a me chamar assim, mas sei que era por conta de todos os casacos de capuz que eu sempre gostei de usar.
— Então já sei! — ela vai até uma arara com algumas roupas no canto quarto e tira uma fantasia de chapeuzinho vermelho.
Quando dou por mim estou de frente para um espelho, meus cabelos que eram lisos estão ondulados e tenho em meu rosto uma maquiagem que me deixa alguns anos   mais velha e isso nem de longe é ruim.  A fantasia é um corselete vermelho que abraça meu corpo e a saia é um pouco curta, passo as mãos pelo vestido e suspiro.
— Agora preciso seguir em frente.

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