Capitulo 2

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Capítulo 2

Tão cansado de andar na linha
E para todo lugar que você se vira
Há abutres e ladrões nas suas costas
E a tempestade continua se retorcendo
Você continua construindo as mentiras
Que você inventa por causa de tudo que você não tem
Não faz nenhuma diferença
Escapar uma última vez
É mais fácil acreditar nesta doce loucura, oh
Esta gloriosa tristeza que me deixa de joelhos
Angel — Sara Mclachlan

Miguel

Eu estava exausto, arrumo minhas  coisas para  sair  do hospital . Mais um plantão  difícil  com  famílias  se despedindo  de entes queridos .  Eu fui  forçado a  aprender  a ser  assim  , duro e   profissional . Mas no final do  dia parecia  que não tinha feito o suficiente ,aquelas famílias precisavam ter  seus entes queridos ali  e eu mesmo  fazendo   de tudo  não conseguia  salva—los . É FRUSTRANTE. 
O  que destoou  do meu  dia normal e monótono  nesse  hospital hoje   foi Angelina . Aquela  garota  parecia tão frágil, que  sentia como se ela  pudesse  quebrar em qualquer momento . Mas havia algo em seu olhar , um “que” de força e  desejo que  me  intrigava .
Eu já fiquei com mulheres mais novas, mas não sou maluco de me aproximar dela dessa forma. Depois da forma que a vi, me senti mau por não conseguir ajudar mais sua mãe. Sabia que todo o tratamento era muito caro e ela não poderia pagar. Entro em meu carro fugindo da chuva que   cai insistente , são três horas da manhã e eu não vejo a hora de deitar em minha cama e descansar desse dia longo .  A rua está vazia, poucos carros transitavam ali porém os bares e boates estavam abertos  e havia  bastante  gente pela  cidade. Paro em um sinal de trânsito e olho através da janela molhada de meu carro , uma  menina  está andando  sob a chuva  com a  cabeça  baixa   o que é  bem  ruim  , pois uma  hora dessa  na cidade  em que  vivemos  é completamente  perigoso . Observo mais um pouco aquela garota, cabelos longos molhados e colados ao corpo, um casaco vermelho com gorro e calça jeans em minha cabeça há um estalo e me lembro que Angelina estava com essa mesma roupa ao sair do hospital.
Diminuo a velocidade   e abaixo o vidro. Chamo a garota que está toda molhada, ela parece andar mais rápido, mas depois olha para trás. Ela parece assustada.
— Entre Angelina, vai pegar um resfriado toda molhada desse jeito!  — ela  já tinha a mãe doente ,  não poderia  vê—la  se  pegasse um resfriado .
Ela ainda hesita, mas entra no carro me olha por alguns segundos e depois abaixa a  cabeça  olhando para as mãos e passando— as  pela  calça molhada e  posso  ver que ela está tremendo .  Puxo um casaco extra que sempre deixo em meu carro e entrego
—Obrigada, Dr. Miguel— ela agradece e se aconchega, respiro fundo tentando não transparecer o quanto aquela menina me deixa nervoso. Um cara da minha idade, ridículo.
—Me chama de Miguel, agora me diz você de fato ia ficar no ponto de ônibus deserto às três da manhã? Sozinha? —questiono e a vejo bufar irritada.
— Qual o problema nisso? Eu preciso voltar para casa de alguma forma. —— Ela me responde, rude e vejo que Angelina não é só uma menina frágil que demonstra ser no hospital.  Isso me faz sorrir de alguma forma é bonitinho ver as suas bochechas e a ponta de seu nariz ficando avermelhadas com a timidez. E inconscientemente estico meu braço e acaricio sua bochecha a deixando petrificada no banco.
— Ei pequena tudo bem, não precisa ficar com vergonha, eu te levo ,só me diga onde mora — Ela apenas me olha e balança a cabeça e logo a seguir me diz seu endereço.
Eu conhecia aquele lugar e sabia que não era  tão seguro assim  , isso  me preocupa . E me preocupa mais ainda esse sentimento de proteção que explode em meu peito, eu queria cuidar de Angelina como se fosse minha, mas não podia. A viagem até que foi tranquila e a companhia dela ali era agradável , diferente de outras mulheres que  se insinuavam para mim  Angelina  apenas  conversou e foi  simpática  o tempo todo  acabei a dizendo a  ela  sobre meu  pai e minha  família  da Itália , coisa que não compartilhava nem  com Laura minha esposa . Paro o carro onde ela indica e tira o cinto e se vira em minha direção.
Sinto uma vontade enorme de me aproximar e segurar seu rosto em minhas mãos, contemplar aqueles olhos um pouco mais de perto. Ela sorri e apenas diz:
—Obrigada Miguel, pela carona e por cuidar da minha mãe.
—Não me agradeça anjo, foi um prazer trazê-la até aqui e cuidar da sua mãe é o meu trabalho. Pegue meu cartão, aqui está meu telefone pessoal se precisar de algo pode me chamar— Ela aceita o cartão e sorri, ainda fico ali parado por um tempo olhando subir as escadas. E penso em como pode depois de tanto tempo eu me sentir atraído por alguém assim. Dou meia volta e vou em direção a minha casa, naquela noite não dormi pensando nos olhos daquela menina. Saio de casa assim que amanhece e deixo minha mulher ainda dormindo, as vezes era até melhor dessa forma.
Penso em passar na casa de Angelina para  busca—lá  , seria certo ? Quando dou por mim já estou a caminho do seu apartamento. De dia eu podia ver que aquele lugar não era lugar para Angelina de uma vez por todas, paro minha mente e balanço minha cabeça tentando reprimir todo o meu desejo de manter essa garota segura, talvez seja porque a vi sofrendo no hospital, é talvez seja. O apartamento é antigo e há um grupo de pessoas estranhas na porta fumando, chego até o balcão do balcão do porteiro que me olha de cara fechada, mas me diz o endereço dela sem desconfiar de nada. Subo as escadas escutando vozes alteradas e vejo uma porta aberta os gritos ecoam lá de dentro me fazendo chutar a porta e o que eu encontro deixa meu sangue fervendo, um velho filho da puta agarrando Angelina que se debate desesperada.
— Solta ela porra! — voo em cima daquele canalha e só não o mato porque o porteiro chega e me segura.  Ainda consigo dar mais um chute nas costelas do nojento que geme no chão, estuprador Filho da puta! Meus olhos buscam Angelina que está na outra ponta do cômodo que não é muito grande abraçada as pernas e olhando para um ponto fixo. Eu abaixo e seguro seu rosto e ela parece acordar, me abraça e chora descontroladamente.
—  Calma anjo. — Digo percebendo que ver essa mulher sofrer me dói de uma forma estranha.
— V—você?  Mas ... Como?
— Se acalme, vem cá. — Eu   puxo sua mão levantando-se—a.
Ela volta a chorar em um ímpeto de proteção a abraço.
— Calma Angelina. Agora você está segura, vou te ajudar a arrumar outro lugar para ficar. E esse idiota vai para a cadeia.
Os policiais chegam e levam aquele maldito que ainda estava caído no canto da sala, converso com eles pedindo para que deixassem o depoimento da garota para outro dia, pois ela estava muito abalada e o corpo de delito e todas as outras coisas seriam feitas em outro dia. Angelina pega uma mala e coloca os seus pertences em uma mala e liga para uma amiga, mesmo com todos os meus protestos para que eu pudesse ajudar—lá ela não aceita. Algum tempo depois estamos chegando perto da casa de sua melhor amiga, espero que aqui ela possa viver melhor do que aquele lugar horrível que ela vivia, estaciono o carro e não consigo me controlar em olhar mais uma vez para  ela . Seu nariz vermelho e olhos inchados denunciavam todo seu choro, mesmo assim ela conseguia ser linda.
— Até mais Anjo. você vai ficar bem? — controlo minhas mãos para não toca—lá novamente.
Ela olha para baixo, com algum traço de timidez e acena.
— Vou sim Miguel, obrigada por tudo.
— Por nada Angelina.
Ela entra no apartamento e sinto que algo mudou, eu estou bem fodido agora.  Meu telefone toca e vejo o nome de Laura brilhando na tela me   fazendo pensar o que deveria ter acontecido agora.
— Oi Laura bom dia.
— Oi amor bom dia, você saiu tão cedo que não consegui te ver de novo. Miguel temos que conversar sobre seus horários no hospital.
— Laura você é médica e sabe muito bem como funcionam os horários do hospital.
— Você faz questão de não folgar nenhum dia Miguel, nenhum misero dia para ficarmos   juntos.
Suspiro cansado. Meu casamento com Laura estava indo de mal a pior e as vezes sair dele me parecia a única saída para todos os nossos problemas, posso dizer que já tentei de tudo para ter paz e vivermos bem como um casal, mas hoje eu apenas me esquivo das suas cobranças.
— Foi para isso que me ligou Laura? Para discutir relação pelo telefone?
— Miguel eu não aguento mais essa sua ignorância comigo, eu mereço muito mais do que um homem que não para em casa e só vive para o trabalho.
— Basta Laura! se você   acha que merece mais ,então procure alguém melhor já que eu o homem que trabalha o tempo todo e sustenta todos os seus luxos não está bom para você. tenho que ir
Desligo o telefone e sigo para o hospital puto.  Aperto tanto o volante que sinto os nós dos meus dedos doerem, hoje seria um dia corrido novamente   acho que é tudo o que eu preciso nesse momento.

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