Capítulo 7

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POV Laura

   Sempre procurei ser uma mulher centrada e  objetiva  quando  queria  alguma coisa eu  lutava até realmente  conseguir aquilo ,  e não  foi diferente  com  o meu relacionamento . Conheci   Miguel  quando  estávamos  de residência  no hospital ele me  encantou com  toda a sua  simpatia e  aqueles  olhos  azuis  lindos  dele , nós tínhamos  muitos  momentos ótimos  juntos  e mesmo  com a correria de sermos  médicos  e  universitários   nos víamos quando realmente dava.  Eu  nunca  quis formar  família , ter filhos sempre  fui muito  focada em  minha carreira, mas todo esse  tempo junto  nos rendeu um casamento e  consequentemente  uma gravidez que para Miguel era  um milagre para  mim  não foi . Eu não queria aquilo , não queria  ter que  me dividir entre a maternidade  e a minha  carreira então resolvi deixar tudo para traz minha carreira   de lado e seguir  adiante com essa gravidez  pois assim tinha Miguel aqui  comigo, mais apaixonado do que nunca . Aos  7 meses  ainda não conseguia aceitar aquilo  tudo , enquanto Miguel  vivia em um mundo de roupinhas e  preparativos eu  vivia em modo automático  sorrindo  como  um robô . Eu me  sentia  sem voz  e   foi  então  que  ao pesquisar  por algumas  clinicas de aborto pelo Rio de Janeiro . Fiquei  sabendo de  uma planta que faria esse  serviço  ,  esperei  que Miguel fosse para o hospital e  que a governanta  nojenta  dele  estivesse  fora, tomei alguns remédios que sabia que seriam eficazes nesse momento ealgumas  horas depois   comecei a  passar  mal , liguei  para Miguel que  logo  veio me  socorrer . Eu pensei que  morreria  naquele  momento  ,  tudo  seria  melhor  do que  essa  vida mesquinha  eu  pensava comigo .  Eu tive uma  pré-eclâmpsia  , a criança já não estava dentro de mim  quando eu  acordei no outro  dia  e  só  o que   restou  foi o fantasma  de Miguel que  nunca mais   foi o mesmo  e a minha  culpa .   Depois de voltar para casa e olhar  todo aquele mundo  azul que   foi montado para aquele ser que nem  chegou a vir  ao  mundo  eu me culpei . Miguel  começou a trabalhar  mais  do que o  normal  e nunca mais  parou  em casa  e quando  parava estava  cheirando a bebida .  Agora  estou aqui .  Depois  de 5 anos  gastos   da minha   vida e  de tanto  tentar fazer  meu marido ser meu novamente estou fazendo as minhas  malas  para  ir embora . Mas  isso não sairia  barato para ele , não depois de  eu  dar tudo  de mim  nesse  casamento fracassado .  Angelina Depois que  Miguel  foi embora, Marluce me  esperava  na  porta do quarto  onde ele  estava . Ela  me entregou  o dinheiro  do programa que ele  havia  deixado mesmo  assim .
— Aqui está a grana . Mas não pense que  você  vai continuar  com  esse  comportamento e vai  ficar tudo  bem .  Da  próxima  vez que  trouxer  alguém  para  o quarto e sair correndo  igual a  uma virgem  desesperada  você está  fora .
— Tudo  bem Marluce  , me perdoe  isso  não ocorrerá mais . Saio  dali e  me certifico que  Miguel não está mais  pela boate. Ainda  converso com alguns  caras  mas depois do que aconteceu  mais  cedo não  vou subir  com mais  ninguém o  que é  ridículo  para uma  garota de programa .  A  noite  acaba  e  vou  para  casa com  minha amiga  buzinando  muito no meu ouvido ,  passo a  noite  em  claro  com  Miguel na  cabeça . Cada vez que eu  fechava  meus olhos eu  sentia  suas  mãos  passando pelo  meu corpo e  sua boca  passando pela minha pele .  Ah, que  homem  gostoso do  caralho ! A noite  passa  em um  piscar de  olhos e me levanto sentindo  meu corpo moído . Faço minha  higiene matinal , pego algo para comer agora  estou  indo  em  direção   ao hospital como  sempre faço   ver a minha mãe, ela não  teve  muitas  melhoras  nesse  tempo mas  também   não piorou o que já é ótimo . Falo com a recepcionista que me  dá um crachá e subo  para  a ala  que ela está internada e há ali uma movimentação estranha , algo se aperta dentro de mim e corro até a porta  do quarto sentindo uma  mão me  segurar  eu me  viro e encontro  Miguel com um olhar  pesado e  eu já  podia  imaginar  o que  estava  acontecendo, só que eu  não consigo  digerir ... não é possível
. — Eu sinto muito anjo , nós tentamos  de tudo .
— Não ! minha mãezinha ! Ela  não pode me deixar .  Me desvencilho de  suas  mãos e  corro até  o  quarto onde estão  todos  os enfermeiros e  alguns médicos e seguro as mãos  da minha  mãe que estão geladas e sem vida, o bipe onde antes  haviam seus  batimentos ecoava agora num único  barulho por aquela  sala  fria de hospital.
— Mãe ... não me deixe, você é a minha única  família .
— Vamos, Angelina , agora você  não pode  ficar aqui . Miguel me  abraça e me arrasta para fora daquela sala .
— Você não está sozinha , se acalme . Não conseguia  me acalmar , eu tinha  tanta  esperança que tudo ficaria  bem ! Fecho meus  punhos e soco  o que está pela  minha  frente  até os nós dos meus  dedos  ficarem  brancos. Miguel pega   meu rosto com  suas  mão e  sua  íris  azul brilhante  em  minha  direção.
— Angelina, eu preciso que  você  se  acalme, ok ? - Eu sabia  que   precisava me acalmar , sabia também que  isso  seria impossível por   conta de toda  a situação, eu me sentia  quebrada .  As  horas passavam sem nem  mesmo eu me  importar . Ele  me coloca sentada  em uma  das cadeiras e sinto meu  corpo  estático ,  todos  os momentos que eu tive  com a minha mãe  passando  bem na  minha  frente . Lembranças que  ficariam para sempre minha mãe nunca me veria casar e nem ter netos , não me veria  ser alguém na vida .
—Olá , você deve  ser  a Angelina— Uma  voz me chama a atenção mas   continuo agarrada às minhas  lembranças e  não consigo  responder  essa mulher.
— Angelina  eu preciso que você venha comigo . Como  a  sua  responsável  legal faleceu , nós  teremos  que  levá-la  a um abrigo  .  Saio  do meu transe e  olho para aquela  mulher que  não tinha  culpa  da minha vida  ser uma   droga .
—  Isso não é possível . Eu sou emancipada ... a minha mãe ela ... A mulher  apenas  abaixa  os óculos e  balança a  cabeça , isso  foi  mais  uma coisa  que  minha mãe  disse  que  faria , mas não fez .
— Você  precisa  vir comigo agora Angelina . — Ela   diz  se  aproximando  junto com  dois   homens  que estavam ali a  sua espera
— Ninguém me  tira daqui !  ouviu bem ? — Grito aos  quatro  cantos daquele  hospital .
  — O que está acontecendo  aqui ? — Escuto  uma voz e não preciso me  virar  para  ver que é Miguel que está ali
— Olá  Dr. Miguel   viemos  até para  levar Angelina , pois  ela  é de menor e  com a morte de  sua mãe precisamos   levar ela  para um abrigo . —   Não  há  ninguém  que  possa ficar com a sua  tutela ? — Ele  pergunta  preocupado .
— Tem  o meu  pai , mas liguei para ele assim que minha  mãe foi internada e ele pediu para que  eu não o procurasse mais . Abraço  o meu corpo  sentindo  novamente  o peso das palavras daquele  homem  que eu havia   amado   tanto desde  de  pequena .
— Eu poderia entrar  com o processo  para ser o  tutor de Angelina ? Me viro  rapidamente  para Miguel , e me  pergunto  como  seria  aquela  situação . — Miguel  , não precisa  fazer  isso . Muito  obrigada, mas  vou para o abrigo - me levanto e me viro em direção a saída ,porém ele segura a minha mão me parando seus  olhos que  eram de uma  azul  brilhante estão escuros agora e ele  me  fita, porém  volta  a  olhar  para a mulher como  se eu  não estivesse ali .
— Respondendo a  sua pergunta Doutor , você pode entrar  como  o tutor de Angelina pelo menos por enquanto. Posso agilizar a papelada que  vai ser preciso .
— Então está feito .
— Preciso que  Angelina  vá hoje  mesmo  para  sua  casa . Se não for isso devemos levá—la. Pareciam que eu nem estava naquela sala pois os dois combinavam algo sem nem ao menos se importar com a minha opinião. Isso estava me irritando — Mas eu moro com uma amiga , tenho  minhas  obrigações .
— Mas  você é menor , e por isso  precisa de estudo e  alguém que  lhe forneça segurança nesse  momento, Angelina .  Abaixo  minha cabeça derrotada . A mulher se despede de nós e paro em frente a Miguel .
— Isso é  loucura Miguel ! Eu moro com a Sthefany .
— Mas agora você precisa mudar Angelina  , nem que  seja por enquanto . Hoje  mesmo  passo  lá em sua  casa e te ajudo  com  toda mudança , vou  aproveitar que hoje aqui  está tranquilo . Ele  levanta uma das mãos e passa  sobre meus  cabelos .
— Não fica assim , anjo . Tudo vai se ajeitar .
— Eu espero que  sim ...  Peço um Uber para o apartamento de Sthefany e quando entro encontro-a com alguns amigos e a música alta . Nem parece que ficamos a madrugada inteira trabalhando passo por eles sem falar com ninguém entro em meu quarto e me sento na cama, dormente .O pedacinho de família que eu tinha se foi só o que me conforta nisso tudo é que agora minha mãezinha está descansando mas só de pensar que estou sozinha nesse mundo me dói tanto . Sthefany entra no quarto sorrindo mas logo muda o semblante ao me vê chorando .
- Ei chapeuzinho , o que ouve ?
- Minha mãe Sthefany . Ela se foi .
- Ah meu Deus amiga , eu sinto muito ! Ela me abraça e chora junto comigo .
- O pior de tudo amiga é que ela disse que me emanciparia , mas não fez. A assistente social do hospital queria me levar para um abrigo .
- Puta que pariu ! E agora ?
- O Miguel estava lá e ficou responsável por mim como um tutor , vou ter que me mudar para a casa dele hoje ainda .
- Meu Deus do céu ! Isso só piora Angelina , você vai morar na casa do gostoso ...
- Chega Sthefany , não é algo que eu quero isso foi resolvido sem a minha opinião que não conta por eu ser "menor" Me levanto e começo a arrumar as minhas coisas , meu coração doendo e todas as lembranças e sorrisos passando por minha cabeça .
Tudo agora é incerto.

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