Acidente

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Joguei água várias vezes até conseguir raciocinar corretamente. Em seguida, sequei o rosto na toalha e respirei fundo. Sentia meus olhos inchados e  cabelos despenteados, eu acreditava não ser muito bonita. Nesse estado, assustaria qualquer pessoa que estivesse diante de mim. No entanto, não estava me importando. Mal conseguia sentir meus dedos. Saí do quarto e desci as escadas. Estranhamente, apesar do inverno e da neve lá fora, um sol tímido despontava pela manhã, cobrindo a neve de uma forma bonita, com um tom acobreado.

— Bom dia!

Uma voz me chamou atenção. Virei-me na direção e vi o rosto sorridente de Hyu para mim.

— Bom dia, Hyu. — respondi ao terminar a descida e caminhar até o sofá.

Eu ainda estava vestida com a roupa que comprei para o velório, descalça e cabelo bagunçado.

— Vou trazer um chá para você, tudo bem?

— Ah, não precisa. Eu não gosto de chá. — respondi, enrolando meu cabelo num coque e me afundando no sofá em seguida.

— Querida, você não tem escolha. — Ela disse, saindo da sala em direção à cozinha.

Procurei meu celular nos bolsos da saia, mas me lembrei de repente que o havia quebrado, assim como muitas coisas em minha casa. Respirei fundo, apertando os olhos. Parecia uma ressaca que nunca terminava. Minha cabeça doía e latejava, meu corpo estava tão pesado. Era estranho, sentir que tinha voltado ao mundo real, com todos os problemas a serem resolvidos. O luto é algo complexo e esquisito.

Não demorou para que a senhora voltasse com a xícara de chá em mãos. Ela me entregou e sentou-se ao meu lado no sofá.

— Como você está se sentindo?

— Anestesiada. — respondi, tomando um gole do chá, mesmo sem vontade.

— Olha, não existem formas de evitar os sentimentos. Você só precisa senti-los. Quanto mais cedo, melhor.

Encarei a mulher por um tempo.

— O que você sabe?

— De tudo. — ela sorriu calmamente. — Sei que você é a babá da criança que eu mais amo no mundo, que você não tem modos, não se veste bem, é desbocada e tem personalidade forte...

— Hyu. — Interrompi a velha ao fechar os olhos.

— E de uma forma incompreensível, você faz total diferença para nós agora. Então, se precisar de algo, você tem todos nós aqui.

Pensei por um momento, mas não conseguia encontrar palavras de agradecimento ou algo positivo naquele momento.

— Hyu... — Ela me olhou atentamente. — Você ama mais a Min do que seu próprio filho?

Ela riu e se levantou, balançando seu avental.

— Querida, eu não tenho um filho.

Ela gargalhou enquanto se afastava. Continuei encarando-a até ela desaparecer. Não parecia certo, no dia em que me deixou sozinha, ela disse que iria cuidar do filho. Essa mulher era realmente uma safada.

Respirei fundo e percebi que precisava sair dali, tomar um banho e voltar a viver. Precisava decidir qual próximo passo tomar. Sentia que, se saísse daquela casa, a mafiosa Hwa voltaria a aparecer. E talvez eu não quisesse matar apenas o Moon, talvez eu quisesse matar também o Taehyung e todos os policiais que estavam com ele e permitiram que o homem fugisse.

Bufei e me levantei rapidamente, dando de cara com Jungkook. Não sei se fiquei assustada com ele ou se me levantei rápido demais, mas minha pressão caiu levemente. Fiquei em silêncio e ele também. No momento, não tinha motivos para dizer nada, mas evitá-lo já fazia parte do meu hábito.

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