Existe um lugar sombrio dentro de mim, onde várias vezes eu fiquei presa.
No começo, pensei que estava perdida para sempre. Mas, depois eu aprendi a gostar daquela escuridão. Ela me envolvia, era familiar e fazia com que eu me sentisse eu mesma.
Várias vezes recorri a este lugar sombrio quando precisei de consolo. Era lá que moravam as minhas melhores ideias.
O tempo foi passando e cada vez mais o lugar sombrio me chamava.
Mas, se tantas coisas boas vinham dele, a energia que ele me exigia era demais. Nunca era o suficiente e o lugar sombrio me drenava, mais e mais.
Eu estava disposta a fazer os sacrifícios todos os dias.
Só que, uma vez, eu cheguei ao fundo do poço. Não tinha mais energia. Nada de bom poderia me segurar no lugar sombrio.
E eu tive que gritar por ajuda - a única coisa que eu tinha forças para fazer.
Uma mão se estendeu e eu fui puxada. Saí do lugar sombrio, para a claridade sem fim.
Senti como se pudesse respirar de novo e descobri novamente que, a luz do dia, não era tão assustadora. Eu também me sentia bem ali.
Mas, por mais que eu me sentisse viva sob a luz do dia, faltava algo. E eu sabia o que era: o lugar sombrio - dentro de mim. De alguma maneira, eu sabia que ele estava lá, só esperando eu despertá-lo novamente. E eu também sabia, que eu precisava dele, tanto quanto ele de mim.
Confesso que tenho medo.
Tenho medo de me deixar ser levada para ao lugar sombrio, tão familiar, e ficar lá para sempre, de ficar sem energia e não conseguir voltar, de que não haja uma mão para me puxar, de que eu não consiga gritar por ajuda.
Mas ao mesmo tempo, eu preciso dele.
Preciso ir até a escuridão sem fim, pois ela me abraça e eu me sinto bem com isso.
É esquisito esse sentimento, essa dualidade.
Quero ter tudo. Quero estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Luz e Escuridão.
Mas não posso. Não devo.
Sei que se eu responder o chamado do lugar sombrio mais uma vez, talvez eu não volte nunca mais. E isso não é o que eu quero. Ou será que é?