Capítulo 16 | Ivan

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Atenção: o capítulo a seguir contém gatilhos, não leia se for sensível.

Eu me sentia mal por ter deixado aquele desgraçado tocar na Jade, não porque ela era ela, mas sim porque eu sabia exatamente a sensação de ser invadido, de ser destruído de dentro pra fora.

•São Paulo, Brasil, 7 de outubro de 2007

Meus pais tinham organizado um pequeno jantar para os parentes mais próximos. A família da Jade estaria presente, o que fez com que o Emílio passasse o dia organizando os mínimos detalhes, Emílio faria qualquer coisa pra ter qualquer tipo de atenção da Jade.

Eu passei o dia na rua com alguns amigos, era muito melhor do que ter que suportar todo aquele falsa alegria da minha casa. Mas a noite, eu tive que voltar para casa.

Cheguei em casa, vendo todos aqueles empregados andando de um lado para o outro. Porra, precisava mesmo disso? É apenas um jantar íntimo.

Meus olhos caíram em minha mãe vindo na minha direção, ela vestia um lindo vestido preto, com um pequena fenda na perna e seu habitual louboutin preto, o salto tão fino que eu me perguntava como ela conseguia andar naquilo.

- Ivan! - Ela exclamou deixando um beijo em minha bochecha - Por quê ainda não está pronto? Onde você estava? Já viu seu irmão? - Suas ondas de perguntas me encheram de uma só vez.

- Não mãe, não vi o Emílio. Estou indo me arrumar agora, ok? - Abri um fraco sorriso de canto, sem mostrar os dentes. Subi o mais rápido possível para meu quarto, entrando em baixo do chuveiro. Porra, como eu odiava todos aqueles jantares.

Saí do banho quase dez minutos depois, me enfiando em uma calça preta alfaiataria e uma camisa branca. Eu não preciso me arrumar tanto, eu viria pro quarto antes mesmo da sobremesa.

Quarenta minutos depois, todos estavam na mesa de jantar. Tinham o total de dez pessoas na mesa, mas apenas uma não fazia parte das duas famílias. Elisa. Ela era uma amiga íntima da minha família, mas não era ninguém importante, pelo menos não para mim.

- Ivan. - Minha mãe me chamou, levantei meu olhar para ela, implorando mentalmente para que ela não começasse com suas habituais perguntas constrangedoras. - Pode ir buscar um vinho na adega, por favor?

- Claro. - Agradeci por sair dali, mesmo que por alguns minutos.

- Eu posso ir com você, modéstia parte eu sou ótima em escolher vinhos. - Elisa disse se levantando e lançando um sorriso para mim. Que inferno, não!

- Não precisa, Elisa, meu pai me ensinou a escolher um vinho. - As palavras acabaram saindo mais duras do que eu esperava.

- Eu faço questão. - Revirei os olhos, sem forças para discutir.

O caminho até a adega foi silencioso, contei cada segundo dentro do elevador, agradecendo quando chegou.

- Eu pensei em la Romanée de 1945. - Disse após alguns segundos olhos os vinhos.

- É uma ótima escolha, Ivan. - Elisa disse parando atrás de mim, passando suas mãos pelo meu peito. - O que você acha da gente aproveitar esse tempo sozinhos? - Meu corpo congelou, minha boca secou e minhas mãos começaram a tremer.

- Elisa, eu tenho treze anos. - Elisa tinha vinte e sete anos.

- Você parece mais velho do que realmente é, Ivan. - Sua mão foi até um pouco acima do meu pau. - Você é tão fortinho pra sua idade, seu corpo é tão bonito. - Meu pau me traiu quando endureceu assim que sua mão começou a acaricia-lo. Meus olhos marejaram assim que eu senti o que estava acontecendo. Eu não queria aquilo.

- Elisa, por favor. - Supliquei, torcendo para que ela parasse. Elisa era uma vampira, soubemos assim que ela começou a frequentar nossa casa. Ela era mais forte e mais rápida do que eu, seria burrice entrar em uma briga física com ela.

- Shii, quietinho, olha como seu corpo reage ao meu toque. - Elisa levou as mãos até meu abdômen, cravando as unhas ali com força, eu podia sentir o sangue começar a escorrer da minha barriga.

Foram apenas cerca de três minutos entre todos aqueles arranhados, mas para mim duraram horas.

Quando Elisa se deu por satisfeita, ela me virou para ela, ficando de frente para mim.

- Vai ser nosso segredinho. - Seus lábios se curvaram em um sorriso sádico, juntando nossos lábios em um longo, demorado e forçado selinho. - Lá Romanée é uma ótima escolha. - Ela esticou um pouco as mãos, pegando a garrafa atrás de mim. - Vou avisar a sua mãe que você se sentiu mal.

Escutei quando o elevador começou a subir, e eu continei por longos minutos ali, parado. Quando finalmente tomei coragem, subi direto para o meu quarto, trancando a porta atrás de mim e correndo para o banheiro.

Me abaixei em frente ao vaso sanitário, deixando que o enjoo me levasse, colocando todo aquele sentimento descontroladamente ruim para fora. Finalmente senti que tudo tinha saído, então me levantei indo para frente do espelho. Tirei minha blusa, vendo as marcas das unhas ali, minha blusa branca, que agora tinha muitas manchas vermelhas.

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, alguém bateu na porta do meu quarto, praguejei quem quer que fosse.

- Não vou voltar, não estou me sentindo bem. - Gritei de dentro do quarto, esperando que a pessoa fosse embora.

- Ivan, sou eu. - Escutei a voz da Jade do outro lado da porta. Porra!

- Um segundo. - Eu não podia mandar ela embora sem mais nem menos, precisava atende-la, apenas ela. Eu conseguia.

Coloquei uma camisa preta, torcendo para que os furos parassem de sangrar. Abri a porta dando de cara com a Jade com seu típico sorrisinho.

- Posso entrar? - Dei espaço para ela, fechando a porta e a trancando assim que ela entrou em meu quarto. - A Elisa disse que você não estava se sentindo bem, mas não é verdade, eu sei que você fugiu do jantar. - Seus olhos verdes se fixaram em meu rosto, então ela abriu um fraco sorriso. - Posso ficar aqui? Te fazer companhia.

- Eu acho melhor não Jade, você... - Antes que eu terminasse a frase, ela me envolveu em um abraço apertado.

- Você não precisa conversar comigo, eu só quero ficar. - Me amaldiçoei por ter desejado que ela fosse embora.

- Tudo bem. - Eu disse devolvendo o abraço, caminhando com ela até minha cama, me deitando. Ela se aconchegou em meu peito, levantando o olhar para mim.

- Te amo, ursinho. - "Ursinho" ela me deu esse apelido quando tínhamos apenas seis anos, eu o odiava, mas não quando vinha dela.

- Eu também te amo. - Não era mentira, eu a amava, como uma irmã.

Mas quando ela fez um carinho em meu rosto, senti todo o sentimento ruim me invadir novamente, e dessa vez, eu não consegui conter as lágrimas grossas que desciam pelo meu rosto.

- Desculpa. - Pedi entre soluços, eu não queria estar chorando na frente dela.

- Tudo bem, você não precisa me contar o que tá acontecendo. - Ela me abraçou mais forte enquanto eu enfiava meu rosto em seu pescoço e deixava toda aquelas lágrimas saírem.

E foi assim que eu passei o resto da minha noite, chorando compulsivamente por horas enquanto me sentia sujo, invadido, desrespeitado e ofendido.

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