Capítulo 17 | Ivan

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Londres, Reino Unido, 25 dezembro de 2011, Véspera de Natal

O Natal tinha chego finalmente, e com ele as férias.

As coisas andam estranhas entre eu e Jade, depois daquele dia, ela ainda mais quieta e só fala comigo o necessário. No início eu senti falta, mas depois eu comecei a apreciar a solidão, eu convivia com ela a tantos anos, que não era mais doloroso.

Nossa casa estava completamente enfeitada, nossas famílias viriam passar o Natal aqui, já que eles apreciavam toda a vibe natalina que Londres dava.

Era clichê, meias na lareira, uma árvore de dois metros no meio da sala, grandes enfeites na porta da mansão, e a neve branquinha caindo lá fora. Éramos típicos ricos fodidos.

Exatamente as 23:30h, eu saí do meu quarto, no topo da escada, eu conseguia  ver Emílio parado em um canto conversando com Rebecca, nossa irmã. Porra, Rebecca veio. Pensei que ela não viria por conta da temporada de tênis.

Desci as escadas mais rápido do que esperava, quando cheguei ao final dela, vi o olhar da minha irmã para mim.

- Ivan! - Ela exclamou quando rapidamente meio que andou, meio que correu em minha direção, passando os braços pelo meu pescoço em um abraço apertado. Eu odiava abraços, mas o dela era o único que eu conseguia suportar. - Eu estava com tantas saudades, você cresceu. - Disse enquanto se afastava alguns centímetros de mim.

- Você continua do mesmo tamanho. - Rebecca não era baixa, ao contrário, ela esbanjava seus 1,78 m, mas comparada a mim e ao Emílio, que tínhamos mais de 1,90 m, ela era baixa. - Pensei que não viesse.

- Eu consegui que minha treinadora me liberasse esse ano, nem acredito que vou passar o Natal e o ano novo com a minha família. - Ela esbanjava um sorriso tão largo, que por um segundo, eu invejei a felicidade dela.

Vi quando Emílio se aproximou de nós, acenando levemente com a cabeça, fiz o mesmo, forçando um leve sorriso sem mostrar os dentes.

Para algumas pessoas isso é inaceitável, irmãos gêmeos que não se dão bem é quase impossível, afinal, vocês nascem com apenas alguns minutos de diferença. Mas minha relação com o Emílio sempre foi conturbada, mas ainda assim aceitável, então a Jade entrou na história e simplesmente não existia mais relação entre nós dois. Acabou.

- Queridos, que felicidade em ver vocês. - Mônica, a mãe da Jade disse entrando na sala. Ela vestia uma linda calça alfaiataria branca, uma blusa vermelha e saltos pretos nos pés. Sua maquiagem era simples, mas muito bem feita. - Vocês viram a Jade?

- Não, a última vez que eu a vi ela estava se arrumando e... - Emílio começou a falar, mas parou quando seus olhos azuis, idênticos ao meu, se fixaram na porta do elevador abrindo. Jade saiu de dentro com um fraco sorriso.

Ela vestia um vestido longo vermelho, com uma enorme fenda em sua perna, tão fodidamente aperto que por um segundo, apenas um segundo, eu imaginei como seria ter minhas mãos passeando por todo o seu corpo. Seu cabelo estava impecavel em um babyliss, sua maquiagem sem nenhuma falha.

Enquanto ela caminhava até nós, podia sentir a respiração pesada do Emílio, mas o que mais me deixava intrigado era como seu coração batia rápido por ela. Uma das características dos hellhound é a audição cem vezes melhor do que a dos humanos comuns.

- É tão bom ver todos vocês. - Jade disse enquanto abrindo um sorriso ainda mais largo quando parou ao nosso lado. - Oi mamãe. - Ela passou o braço pelo pescoço da sua mãe, dando um rápido abraço nela.

- Oi querida. - Mônica desceu os olhos por todo o seu corpo. - Você engordou.

Caralho. Por que ela sempre fazia isso? Ela sempre dava um jeito de estragar a noite de alguma forma.

- Você acha? - Jade perguntou ressentida, seu sorriso morrendo aos poucos.

- Eu não acho, acho que você está linda, Jade. Seu corpo tão perfeito que nem parece real. - Emílio disse antes que Mônica pudesse ao menos abrir a boca. Vi quando o sorriso da Jade voltou aos poucos.

- Obrigada, senti tanto sua falta. - Ela disse dando passos largos até chegar ao lado do Emílio.

- Crianças, o jantar já está sendo posto, vamos. - A mãe da Jade disse quando saiu da sala.

- Onde está o Leonardo? - Rebecca perguntou quando finalmente deu falta dele, mas sua pergunta foi respondida quando Leonardo entrou pela porta.

- Estou aqui, estava apenas...você sabe. - Fumando.

A sala de jantar estava perfeita, com uma mesa tão grande e bem posta, que parecia uma cena de filme.

Vinte minutos mais tarde, o relógio marcou meia noite, e todos se levantaram para desejar feliz natal uns aos outros, mas quatro horas mais tarde, todos já tinham se recolhido para seus quartos.

Decidi ir para o lado de fora da casa quando senti meu corpo esquentando mais do que deveria. Para minha surpresa, encontrei a Jade ali, encarando o nada.

- Ei. - Chamei quando cheguei perto dela. - Está nevando, você não deveria estar aqui fora. - Ela não se virou para mim, mas pude ver seus lábios mais vermelhos que o habitual.

- Queria me distrair um pouco. - Ela não queria, só estava em uma das suas crises.

- Vem, vamos entrar. - Segurei levemente seus ombros, entrando para dentro de casa com ela.

Não foi surpresa alguma ao ver o Emílio vindo em nossa direção em largos passos.

- Jade, o que estava fazendo lá fora? Podia pegar um resfriado. - Ele disse a puxando para si. Eu não protestei ou tentei fazer algo para impedir quando ela saiu em sua companhia. Era melhor assim.

Subi as escadas entrando para o meu quarto e me jogando na cama. Ah, o Natal...

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