São Paulo, 13 de Dezembro de 2011
Estudei durante quatro horas com a Jade, ela me ajudou em algumas matérias que eu tinha dificuldade, e eu ajudei ela em outras. Nós fazíamos uma dupla incrível.
Eu tinha um carinho enorme pela Jade, e ela era a única mulher no mundo que eu sentia isso, era a única que eu sabia que se estivesse em crise, iria me acalmar. A única.
Já tinha amanhecido, como de costume, eu não dormi absolutamente nada. Não podia mais faltar a escola, a diretora me avisou que mais uma falta e eu reprovaria, não estava afim de reprovar logo no meu último ano.
Levantei da cama, parei em frente ao espelho vendo o meu lamentável reflexo.
- Você é um babaca. - Disse a mim mesmo, eu realmente era.
Tomei um banho rápido, vesti a primeira roupa que eu vi e desci para a cozinha.
- Bom dia família, um péssimo dia para todos vocês. - Abri um sorriso falso, olhando para minha mãe, meu irmão e minha irmã. - Menos para você, Rebeca, você está no meu coração.
- Bom dia, Ivan. Deveria ser mais simpático com o resto da família, não acha? - Rebeca retrucou, colocando um pedaço de bacon em sua boca.
- Não, essa família além de falsa é ridícula. - Me sentei ao lado do Emílio e soltei uma gargalhada. - Esse aqui é o pior, filho realmente de Marisol.
- Não me chame por esse nome! - Minha mãe não suportava a ideia de ter um nome "pobre".
- Desculpe, Mari. - Abafei uma pequena risada, pegando uma panqueca e colocando em meu prato, começando a comer.
- Ivan, não deveria ser tão duro com a sua família. - Meu pai apareceu ali, se sentando em sua cadeira. - Nós que te ajudamos quando precisa.
- Vocês me ajudam porque infelizmente sou menor de idade, e também porque infelizmente vocês me tiveram. - Era a verdade, tudo que minha mãe queria era que eu saísse dessa casa e nunca mais voltasse.
Desde que sou pequeno, eu sempre fui rejeitado, minha família sempre escolheu o Emílio, ele sempre foi o mais doce, o mais legal, o mais esperto, o mais incrível, e eu sempre fui...o Ivan. Sempre o Ivan, sem nenhum tipo de amor de nenhuma parte.
Quando nos mudamos para o Brasil, quando eu ainda tinha sete anos, eu não falava nada de português, o meu espanhol já estava bem construído em minha mente e em minha fala, e até hoje, todos os idiomas que eu falo tem muito sotaque por conta do espanhol, inclusive o português.
Quando eu cheguei aqui, eu ainda era absolutamente ninguém, mas mesmo assim, alguém por uma única vez na vida, me escolheu.
Jade.
Jade me escolheu ao invés do Emílio, ela sempre me escolheu. Seja nas brincadeiras, ou quando ela se machucava e precisava de um abraço, quando se apaixonou por um garoto na quinta série e ele beijou outra garota em sua frente, ela me escolheu para conforta-la.
Jade era a única que sempre me escolheu.
Quando meu pai me enviou para um internato, quando eu tinha onze anos, lembro-me que quando voltava pro Natal, ela chorava como um bebê quando está com fome. Dizia o quanto estava com saudades, o quão difícil foi o ano dela sem mim.
O meu ano também era difícil sem você, Jade.
Eu passei seis anos idiotas naquele internato, ou melhor, naquele inferno.
Eu morria um pouco mais a cada dia que passava naquele lugar.
O motivo de eu ter ido? Simplesmente porque bati de frente com o meu pai, e segundo ele, eu eu precisava aprender o que era a vida de verdade.
Seis anos.
- Isso não é verdade, Ivan. - Meu pai me tirou dos meus pensamentos, soltei uma risada.
- Não? Quando eu era pequeno, vocês me trancavam dentro do quarto quando tinha festa, simplesmente porque falavam que iria estragar tudo. - Me levantei da cadeira, ficando em pé na mesa. - Eu tinha cinco anos e vocês já me odiavam, me odiavam porque eu precisava de atenção a mais que o Emílio, me odiavam porque eu tenho o mesmo nível de poder que o seu e a qualquer momento eu poderia simplesmente pegar fogo, afinal, você nunca soube. - Apertei minhas mãos na borda da mesa, mas as tirei dali quando senti o cheio de queimado. Eu tinha queimado a parte onde estava minhas mãos.
- Desde quando seus poderes estão fortes dessa forma? - Meu pai se levantou, caminhando até chegar perto de mim, mas me afastei rapidamente
- Não é da sua conta, estou indo para a escola. - Peguei minha mochila, mas antes de sair, me virei para eles. - Não esqueçam, minha formatura é na sexta e no sábado eu estou indo embora desse país, finalmente vou para Londres, para bem longe de vocês.
Saí daquela casa o mais rápido possível, entrando no meu carro e parando em frente a casa da Jade, buzinando repetidas vezes.
Inferno de dia.
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Demons
FanfictionVocê vai odiar e amar este livro. Vai sentir ódio e amor pelos personagens. Jade não tem uma vida nem um pouco perfeita, mas tem algo muito melhor do que a perfeição...Ivan Martinez. Eles são melhores amigos desde que são pequenos, e até mesmo na...