Naquela noite eu tive um pesadelo horrível, parecia um pesadelo mais na verdade era o meu sub consciente mostrando o que estava a muitos anos bloqueado em minha memória, acordei ofegante e atordoado, fui até a pia da minha sela e lavei o rosto ainda em meio as lembranças que me atormentavam, foi quando percebi que havia alguém atrás de mim, me virei e eram uns 20 caras que não pareciam ter ido me dar as boas vindas, pelo jeito também não eram daquela ala, graças a Deus que estava fora da minha sela
Cavera: e aí mauricinho, vim bater um papo contigo, soube que você é famoso, montado na grana (sorri) também, é boa pinta
Ricardo: ( respira fundo) o que você quer?
Cavera: fazer negócio, um negócio que vai beneficiar nós dois, grana e poder meu amigo ( sorri)
Ricardo: minha resposta é não
Caveira: não quer ao menos ouvir?
Ricardo: não me interessa ouvir nada, agora saia e me deixe em paz
falei e dei as costas, a ultima coisa que consigo me lembrar foi a risada dele e o som do cadeado da minha sela abrindo, não havia mais espaço depois que todos os vinte caras entraram
Levei uma surra tão grande que fiquei desacordado, não sei como fui levado para a enfermaria e nem quando fui transferido para o hospital, fiquei em coma mais dentro de mim era como se a vida não tivesse parado, não sei se o que eu ouvia era realidade ou se era alguma ilusão criado por causa do coma, lembro de ouvir claramente o médico dar a notícia de que eu não acordaria mais, ouvi minha mãe chorando e também o Leandro falando com meu avô, é angustiante não poder falar, não ter reação alguma, todos os dias minha mãe falava que dia era e em que ano estávamos, era só por causa dela que eu sabia que já estava a mais de três anos em coma, se eu acreditasse em Deus diria que ele me colocou de castigo como um pai coloca um filho birrento, somete assim para que eu pudesse ouvir tudo que meu avô falava sobre ele, confesso que muitas vezes tinha vontade de matar meu avô mais em outras tive vontade de chorar, o tempo é algo muito curioso, ele nos revela, nos faz refletir, nos faz errar, nos faz querer voltar a trás, nos dar oportunidade mais também nos faz perde-las, nos ajuda a ganhar, aproximar mais também afastar, ele é o tesouro mais preciso que temos mais também a arma mais poderosa, o tempo é um presente, pena que muitos de nós não sabemos aprecia-lo, a ultima vez que falei com meu avô eu não queria nunca mais nem ouvir sua voz, hoje é uma das vozes que ouço todos os dias, mais houve um dia que ficou marcado dentro de mim, Dora veio me visitar, tenho certeza que era ela, sua voz é inconfundível
Dora: oi querido, sinto muita falta sua, espero que você possa voltar em breve, na vinda pra cá me lembrei de uma história que sempre contava a meu neto, a história do corvo e do pavão, mais chegando aqui e olhando para você Deus me fez lembrar de outra história, a do mestre do vale, vou te contar; 'havia em uma aldeia um mestre muito sábio que tinha poderes, ele morava em uma montanha muito alta e era muito difícil conseguir ir até lá, um certo dia, uma senhora foi até ele, estava desesperada, seu filho havia morrido, ela o amava muito, tanto que não conseguia mais ver razão em viver, ela queria que o mestre usasse seu poder para trazer ele de volta, ela chorava muito, então o mestre disse: se você encontrar alguém que nesse mundo nunca passou por nenhuma dor, trarei seu filho, então ela saiu por toda parte procurando uma pessoa que não tivesse passado por uma dor na sua vida, em uma dessa suas andanças ela encontrou uma senhora sorridente e muito doce, então ela pensou: certamente essa é a pessoa que procuro, aliviada por ter certeza que era a resposta que precisava, foi até essa senhora e começou a contar sua história e sua dor, a senhora ouviu tudo atentamente e sem dizer nada, logo depois a levou até sua casa, sempre muito gentil e atenciosa serviu uma xícara de chá e se sentou ao seu lado, com uma olhar meigo e uma voz serena disse: querida! tem apenas um mês que meu marido e meu único filho fizeram uma viagem na qual eu não pude ir, a mulher olhou pra ela e em volta, e ainda sem entender perguntou: como assim? quando senhora sorriu e abaixou a cabeça ela finalmente entendeu mais ainda assim questionou, como você pode não estar triste? não sente saudades? não......, antes que fizesse a próxima pergunta a senhora respondeu: sinto saudades todos os dias, mais Deus me fez entender que essa viagem todos nós iremos fazer, uns mais cedo outros mais tarde, porém todos irão fazer, que no dia em que eu a fizer, também vão chorar por mim, também vão sentir saudades, também sentirão dor por mim, isso nos mostra que ninguém nesse mundo ficará isento de sentir alguma dor nessa vida, que a escolha de como vamos viver aqui é nossa, a forma como encaramos o que nos acontece é nossa, parei de olhar para minha dor e passei a olhar para os momentos maravilhosos que tive com eles e que um dia iremos nos ver novamente, então não foi uma despedida e sim um até logo.'
Ricardo: como estava em coma e não poderia responder e nem rebater o que disse, a única opção seria ouvir tudo até o fim calado
Dora: foi isso que eu fiz querido, parei de alimentar a minha dor e ela acabou enfraquecendo, comecei a analisar as lições que poderia aprender com isso tudo, a me resgatar da prisão da amargura que estava, entendi que o mais importante não é a chegada e sim a viagem, só sabemos que realmente vencemos ou ganhamos, quando não importa se aparentemente perdemos, dentro de nós é como se fossemos sempre os campeões.
Ainda não sei explicar o que senti ouvindo tudo que ouvi, mais sei que naquele dia eu estava aprendendo uma lição que ainda não fazia ideia que estava apenas começando.
Olá anjos....deixem seu comentário.......
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Um plano para nós dois 2
RomanceTraçamos metas, planos, objetivos, sonhamos com a vida que desejamos ter e viver, mais nada disso nos garante que as coisas serão do jeito que queremos