21.02.2022
Já se passou uma semana desde que a universidade está ativa nesse novo ano letivo, mas apenas hoje os estudos realmente começam. Foi incrível conhecer a faculdade nesses dias livres, mesmo não conhecendo ninguém da minha turma, além de Christopher. Bem, eu prefiro o chamar de Chris, é mais simples.
Chris não é completamente coreano. Fala inglês fluentemente e tem descendência Australiana. Ele é um cara muito legal. Não pense nada errado, ele é um cara hétero e eu não tenho certeza da minha sexualidade. Não senti nada diferente com ele.
Agora tenho um novo e único amigo, não posso perde-lo por causa de paranóias. Faz anos que não tenho amigos e normalmente não tenho amizades masculinas por sofrer um pouco de... bullying? Eu acho patético usar essa palavra, mas eu acho que é o mais correto mesmo que eu não saiba qual o motivo específico de os caras sempre me odiarem. Eles dizem que é porque eu pareço uma "Bichinha" por passar maquiagem e cuidar da minha pele, sendo que eles têm metade do rosto ocupado por espinhas.
Eu agradeço muito por ter crescido sem masculinidade frágil.
Chris não tem todas as aulas comigo. Ele me disse que já está no segundo ano da faculdade e pretende trabalhar em estúdios de fotografia ou até abrir seu próprio estúdio.
O primeiro tempo de aulas acaba de terminar, tenho um intervalo de 20 minutos para comer alguma coisa, então decidi ir até uma máquina de guloseimas que havia no corredor próximo a porta da sala que seria a aula seguinte.
Encontro Christopher, que chegou a máquina antes de mim.
- Hey, Chris!
- Oh! Felix! Como você está? 'Tá gostando daqui? - Perguntou-me sorridente, logo depois de ter pego seu refrigerante na máquina.
- Eu não sei bem, só tive algumas horas de aula e tenho raciocínio lento. - Soltei um riso, acompanhado de Christopher. - Não estou com muita fome agora porque minha mãe fez questão que eu estivesse de barriga cheia no meu primeiro dia.
- Sua mãe parece ser alguém muito legal, eu acho que me daria bem com ela. - Ele tomou um gole de seu refrigerante. - Inclusive, fiquei sabendo que agora tem um professor novo que tem mais de 70 anos. Você já teve aula com ele?
Ele falou sobre o Prof. Kang. Um velhinho divertido que na juventude se apaixonou pela fotografia quando viajou para Paris, pela primeira vez saindo da Coreia na sua vida inteira.
Ele sempre faz questão de contar, a cada aula, um pedacinho da sua história com a fotografia e o quanto ela mudou sua vida.
- Tive. Ele é super fofinho e gosta de fazer bastante aula prática. - Me direcionei a frente da máquina para pegar uma batata chips. - Também acho que minha mãe iria gostar de você, você tem alma de velho!
Rimos em harmonia até que o sinal tocou, indicando que o intervalo havia terminado.
Agora minha aula é com professor Wayle. Pois é, ele é americano. Pelo o que Chris me contou, ele nasceu no Brasil mas se mudou para os Estados Unidos bem novinho e quando se formou veio para cá pois o sonho dele era viver em um país com cultura asiática ou em um próprio país asiático.
Sou um dos primeiros a chegar na sala e sento no centro da penúltima fileira com oito cadeiras, que havia apenas um aluno sentado na ponta direita. Fiquei de cabeça baixa por um tempo para descansar a vista enquanto esperava para a aula e fiquei assim até chegar alguém e se sentar bem ao meu lado.
Tantos lugares desocupados, a turma não é grande. Por que se sentar aqui? Eu não quero ter a obrigação de socializar.
Levantei o rosto e olhei para o ser ao meu lado. Era o garoto de mais cedo no auditório, aquele com beleza esplêndida mesmo com máscara no rosto. E em questões de segundos eu não me importei dele se sentar alí, eu apreciaria seus olhos o dia todo.
Aos poucos eu o vi tirando a máscara e depois olhando para mim, e então eu finalmente percebi o que estava na ponta do meu nariz.
Era Hyunjin.
- Eu gostava do seu cabelo roxo, confesso que esse é ainda melhor, mas foi difícil te reconhecer de cara. - O loiro, agora moreno, falava com tranquilidade.
No ensino médio eu tinha o cabelo tingido de roxo e agora decidi deixá-lo loiro e acho que está mais natural assim. Hyunjin também acha que agora está melhor que o roxo, e eu concordo com ele.
Isso me assusta. Reencontrar-me com Hyunjin me assusta. Ele me trouxe dias de paixão, mas ao mesmo tempo me trouxe tantos traumas que são impossíveis de me esquecer. Eu era rejeitado e maltratado por todos os seus amigos enquanto ele apenas observava, sem muita reação. Não demonstrava apoio, mas também não demonstrava rejeição. Eu não sei se ele tem o dom de iludir ou se às vezes ele falava comigo só por educação mesmo. Eu não quero que esses sentimentos voltem, e eles não podem voltar. Eu sinto como se tudo que eu fiz para supera-lo durantes esses seis anos fosse jogado no lixo, amassado e incinerado. Minha cabeça está prestes a explodir, são mil emoções ao mesmo tempo mas não sei reconhecer se são negativas ou positivas.
Eu preciso falar alguma coisa, vou parecer um idiota.
- Você... pintou o cabelo? - Comecei péssimo, porém foi a primeira coisa que pensei. - Me lembro de ser loiro.
- Na verdade, agora eu o deixo natural. Desisti desse negócio de ter trabalho com cabelo. - Deu uma pausa breve. - Parou de usar óculos?
- Lentes...
- Ah... Você não ficava mal de óculos. - Você poderia ter me dito isso quando estávamos no ensino médio. Se não queria dizer na frente dos seus amigos, por que não falou quando estávamos fazendo trabalho em dupla na sua casa? Por que nunca se quer tentou perceber o quanto sempre fui apaixonado por você?
Hyunjin talvez seja aquele tipo de cara hétero que finge que outras sexualidades não existem, ou então se fazem de bobos como se não soubessem de nada. Talvez Hyunjin seja apenas um rostinho bonito... Belíssimo.
- Obrigado.
O professor entrou na sala de aula, Hyunjin continuou sentado alí mesmo depois que terminamos de conversar. Eu tentava evitar, mas sempre me pegava encarando-o. Sorte que ele não olhou pra mim sequer uma vez até agora. Eu não sei se fico feliz ou decepcionado.
No almoço, a primeira coisa que fiz foi procurar por Christopher, o achei depois de pegar minha comida e me sentei com ele. Eu não sei muito bem como contar essa história pro Chris, mas eu preciso de alguém para me dar conselhos sobre isso, e Chris é ótimo com conselhos. Eu percebi isso no dia que o conheci, quando falei que não tinha nenhum amigo aqui e ele disse que eu não precisava ter tantos amigos pra ser feliz e que ele promete ser um bom amigo pra mim durante bastante tempo.
Chris é o tipo de pessoa que provavelmente ninguém odeia, e se odeia, é por inveja da sua bondade, beleza e simpatia.
Ele é um cara alto, com cachos morenos grandes no seu cabelo curto. Seu cabelo é fofo, eu só tinha visto desse tipo em filmes. Chris provavelmente é um dos poucos cacheados daqui, mesmo sendo cachos quase ondas.
No almoço, contei tudo sobre Hyunjin para Chris mas não tive tempo de ver sua reação muito bem pois tínhamos aula na em alguns minutos. Novamente, em salas diferentes.
Chego na sala de aula, olho em volta, paro em Hyunjin, que me fazia sinais com as os braços para me sentar com ele. É uma sala com cadeiras em dupla, eu realmente não quero ficar sozinho nem fazer dupla com um completo desconhecido, então me direcionei ao moreno que me chamava.
- Oi, Felix! Senta aqui. - Ele falou em tom calmo.
Esse Hyunjin é tão diferente do Hyunjin de anos atrás... Ou talvez ele apenas esteja querendo me fazer de palhaço pra depois jogar na cara dos amigos dele.
- Você mudou muito, seu rosto parece complemente diferente sem óculos. - Ele voltou ao assunto da aula de mais cedo.
- Como você me reconheceu se diz isso? - Disse em tom cômico, mesmo que, um pouco inseguro com a resposta.
Ele poderia responder "Seu jeito irritante e tímido é realmente único e muito chato" ou talvez ele fosse mais educado e falasse "Tenho boa memória sobre meus colegas de classe". Ele definitivamente vai responder algo assim, Felix provavelmente me odeia e tá se forçando a fazer isso por pena de que eu fique sozinho.
- Eu nunca me esqueceria de suas sardinhas.
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There We Go Again | Hyunlix
FanfictionEu fui apaixonado por Hyunjin desde a sétima série até o ensino médio. Nunca imaginaria, na minha vida, que o encontraria de novo depois de tantos anos. Mas agora ele está completamente diferente do que era antes. Será que ele se lembrará de mim? ©v...