04. Orgulho e joaninha

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Acontece que a ideia de Ohm era levar Fluke a uma livraria que ele sabia que ainda estava aberta àquela hora. Ele ainda não havia comprado os livros sugeridos pelo professor e decidiu que seria uma boa ideia contar com a ajuda pessoal do homem em tal tarefa. Se eles iriam passar mais tempo juntos por causa disso era algo que apenas Ohm sabia que estava incluído em seus planos!

O ambiente tranquilo não parecia intimidar seus clientes àquela hora. O lugar estava lotado de muita gente que parecia absorta em ler livros nas mesas ali disponíveis ou em busca de um novo título nas prateleiras.

Depois de encontrar o último livro da lista que Fluke lhe dera, Ohm percebeu que havia perdido o homem em questão.

"Já volto!", disse ao caixa após pagar a compra e depois voltou para o interior da livraria. Andando entre as prateleiras cheias de livros e os corredores com leitores, Ohm encontrou Fluke absorto em um livro cuja capa lhe era familiar. Ao se aproximar do homem, ele confirmou que era "Orgulho e Preconceito" de Jane Austen.

Fluke parecia distraído, mas a proximidade de Ohm fez seu sexto sentido ativar e ele desviou o olhar da leitura. Ele não tinha certeza de como isso tinha acontecido, mas Ohm estava muito perto dele, a apenas um passo de distância. Estava tão perto que o professor sentiu o cheiro amadeirado do perfume que o empresário usava.

Ainda sob o efeito da discussão acalorada entre Mr. Darcy e Elizabeth Bennett, Fluke sentiu como se estivesse vendo o herói do romance bem diante de seus olhos, ambos eram altos, morenos, e Ohm tinha uma voz que poderia fazer seu coração disparar. Uma de suas últimas células cerebrais que não estavam funcionando mal surgiu com a cena da Sra. Bennett desmaiando, o que provavelmente aconteceria com ele agora.

Os olhos de Fluke vagaram lentamente pelas feições de Ohm, como se ele o estivesse vendo pela primeira vez. Durante as aulas de inglês eles costumavam sentar-se lado a lado, mas muito ocupados com as aulas, não tinham tempo de olhar de perto o rosto um do outro. Só agora ele percebeu que o arco do Cupido de Ohm era tão bem definido que parecia ter sido desenhado à mão e que ele tinha sobrancelhas grossas que emolduravam perfeitamente seus penetrantes olhos escuros. Quando ele percebeu, aquele par de olhos também parecia estar focado nele com a mesma atenção.

"Ohm...", ele sussurrou e o som quase se perdeu no espaço entre eles.

"You have bewitched me, body and soul, and I love, I love, I love you" ("Você me enfeitiçou, corpo e alma, e eu amo, eu amo, eu amo você"), disse Ohm de repente, olhando profundamente nos olhos de Fluke como se pudesse ler sua alma.

Ouvir a confissão inesperada com um sotaque que ao mesmo tempo indicava a inexperiência de Ohm com o idioma e deixava evidente seu nervosismo não diminuiu seu efeito. Fluke sentiu o coração batendo contra as costelas, como se estivesse prestes a explodir do peito. Ele provavelmente estava corando mais a cada segundo que passava, até que Ohm coçou a nuca e apontou para o livro que estava segurando.

"Orgulho e Preconceito! Assisti o filme e gostei muito! Será que ler o romance pode me ajudar no meu inglês?", ele perguntou um pouco nervoso, com um sorriso tímido no rosto.

Fluke sentiu a respiração ficar presa na garganta ao perceber que estava lendo o momento incorretamente. Sua única reação foi limpar a garganta e revirar os olhos.

"Acho que para você uma leitura mais leve seria o ideal, garotão!", disse ele virando-se rapidamente para a estante em busca de um título específico, mas também para esconder seu constrangimento. Quando encontrou o livro que queria, entregou-o a Ohm e dirigiu-se ao caixa, sem prestar muita atenção no outro.

"A joaninha?!", Ohm leu em voz alta o título do livro infantil que tinha um desenho do inseto na capa.

Enquanto esperavam sua vez na fila, Fluke pegou o livro da mão de Ohm e o colocou no balcão. Ele tirou uma caneta da bolsa e escreveu algo dentro da capa.

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