Capítulo 1 - A saída

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Robert

- Você não pode ir pra lá! É muito perigoso! - gritei furioso, mas Jane me ignorou e continuou a colocar as roupas na mala.

- Eu vou - ela disse calmamente.

- Pelo amor de Deus! Você está grávida! - surtei.

- Antes de você se casar comigo, nós combinamos que levaríamos nossos filhos nas costas se fosse preciso para não abandonarmos as nossas profissões. E essa história toda de mesmo com os impedimentos nós iríamos fazer o que é certo? O quê aconteceu com ela? - questionou me encarando.

- Era ingenuidade - respondi nervoso.

- Nossos valores!? - Jane perguntou ficando com raiva.

     Aproximei-me dela e olhei bem dentro dos seus olhos cor de mel. Jane é linda, ela possui os cabelos longos pretos, sua origem é árabe. Ela é única e insubstituível para mim.

- Não quero que você vá - falei seriamente. - Não quero perdê-la.

- E não vai - ela sorriu amigavelmente pegando minha mão. - Retornarei daqui dois meses - Jane me puxou para um beijo.

- Sabe que eu não consigo resistir a você - comentei sentindo seu cheiro doce.

- Sei sim - ela riu. - O bebê ficará bem... A não ser que uma múmia se levante da tumba.

- Não concordo com sua saída, mas você sempre foi assim, livre. Não te impedirei - falei fraco.

- Obrigada Robert - Jane disse me abraçando fortemente. - Vou sentir sua falta.

- Eu também - susurrei no seu ouvido. Ela se separou de mim e foi em direção à cama onde a mala estava.

- Me ajuda a terminar de arrumá-la? - ela indagou pegando algumas roupas do nosso guarda-roupa.

- Claro - respondi desistindo de ficar furioso com minha mulher.

  Após ajudá-la a organizar suas bagagens, eu a levei para o aeroporto. Chegando lá, nós nos encontramos com a equipe de escavação que aguardava as ordens da sua chefe, Jane. Comprimentei cada homem, que, a qualquer instante, poderiam perder suas vidas no deserto para o bem da ciência.

- Doutor Robert Jones - o homem mais poderoso do ramo de descobertas arqueológicas apertou minha mão. - Quanto tempo! - ele me abraçou rapidamente.

- Senhor O'Conell - demonstrei uma suposta alegria em revê-lo. Afinal, nunca gostei dele. - Você também irá para essa missão? - questionei interessado.

- Sim - ele respondeu tirando um charuto de dentro do terno manchado de comida.

  O'Conell, 49 anos, gordo, baixo ( diria até que aparenta ser um anão), calvo e com um péssimo gosto para escolher cigarros. Esse senhor sempre esteve no ramo de encontrar múmias desde que me entendo por gente.

- Eu sei que você não concorda que sua esposa vá sozinha para o Egito, - disse o anão - mas eu não tenho dinheiro suficiente para financiar a viagem para que vocês dois possam ir juntos. Sabe, - ele bateu no meu ombro - anos difíceis.

- Sei - falei friamente.

  Nunca ouvi tanta mentira numa fala só! Ele tem dinheiro para levar 30 homens especializados em escavações (que cobram caro pelo serviço) e não tem grana para enviar um simples doutor? Se quer me enganar, faça direito! Assim que o calvo saiu, eu fui até Jane, que acertava os detalhes da viagem. Ajudei-a a despachar suas duas malas.

- Tome cuidado com o O'Conell - comentei para minha companheira. - Não confio nele.

- Você não confia em ninguém Robert - afirmou sorridente como sempre. - Eu sei me proteger.

- Aquelas aulas de karatê renderam pelo visto - falei.

- Sim - Jane riu, mas logo seu sorriso desapareceu quando ouviu a primeira chamada para seu vôo. - Vou te ligar todos os dias! Contarei todos os detalhes! - afirmou empolgada. - Espero encontrar besouros carnívoros e escorpiões ainda conservados.

      Ela sempre foi fascinada com a mitologia egípcia. A história que mais a deixa interessada é o conto de Anúbis. Desde garotinha, seu sonho foi encontrar uma pirâmide, desvendar seus mistérios e enigmas; acho que, finalmente ela realizará esse desejo.

- Divirta-se - disse sincero.  Agachei-me e beijei a barriga já protuberante.

- Não vai me beijar não? - ela questionou levantando uma das sobrancelhas.

- Calma - respondi ainda me despedindo do bebê. - Sua mãe é muito apressadinha - falei com o nosso filho.

    Ainda não sabíamos se era menina ou menino. Queríamos que fosse surpresa, assim sempre foi mais divertido e interessante.

    Levantei e segurei as mãos geladas de Jane. Olhei para ela como na primeira vez em que a vi, na feira de antiguidades. Curvei minha cabeça e fui até seus lábios carnudos e vermelhos. Beijamo-nos apaixonadamente.

- Adeus Robert - ela se separou de mim e me deu um último olhar.

- Volta logo - falei já sentindo saudades dela.

- Pode deixar - ela disse e depois foi andando junto com seu grupo para o portão onde o avião partiría.

    Jane se foi.

A pirâmideOnde histórias criam vida. Descubra agora