Capítulo 11 - O colar Ankh

193 21 4
                                    

Robert

      Jane me olhou de modo carinhoso, enquanto ela acariciava meu rosto; pude senti-la novamente; a sensação era muito agradável! Minha mulher estava realmente viva! Eu a abracei fortemente; pude reviver, naquele simples abraço, as lembranças que um dia reparti com ela.

- Pensei que eu havia perdido você para sempre! - disse emocionado. Jane me apertou ainda mais forte quando eu disse isto, e depois me soltou. Ela me fitou durante alguns segundos, como se quisesse me falar algo, mas não poderia naquele exato momento. Aaron deu um grito horripilante. Ele ainda estava sendo engolido pela areia movediça.

- Tirem esse saqueador daí! - exclamou Jane para uma espécie de soldado zumbi que a acompanhava e, aparentemente, ele obedecia as suas ordens. Aaron foi salvo por duas criaturas, mas ele não parava de relutar.

- O que está acontecendo!? - perguntei desentendido, vendo que um dos mortos vivos retirava de seu bolso meio rasgado e velho um pano molhado por álcool. Ele colocou no nariz do Aaron para que o arqueólogo inalasse o cheiro e desmaiasse; e foi isso que ocorreu. - Pelo que eu sei múmias não fazem isso - cruzei os braços. - Que palhaçada está acontecendo aqui? - questionei furioso.

- Precisamos conversar - Jane respondeu de modo carinhoso.

     Fomos para fora da sala secreta. Eu realmente estava muito feliz por ver Jane novamente; mas, perguntas sem respostas tomavam conta da minha mente. Nós paramos de andar em cima da rampa.

- Você recebeu meu diário? - Jane questionou calmamente.

- Sim, mas nele só estavam escritos seu primeiro dia e as outras páginas pareciam ter sido arrancadas - respondi confuso. Jane franziu a testa.

- Mas eu escrevi tudo - ela comentou, estranhando a resposta. - Vou lhe contar a história desde do início então:

Jane

( Primeiro dia na escavação)

       Jorge  havia me chamado para ver o quê os escavadores haviam encontrado. Percebi que O'Conell estava nos seguindo, então, meu irmão, Kanope e eu passamos por vários caminhos,  desviando, para poder depistá-lo. Fomos parar num comércio, próximo dali; lá havia várias barracas, cheias de cores e mercadorias diferentes.

- Jane, - Jorge parou de andar e disse susurrando - o que nós encontramos pode trazer grandes perigos para a escavação e para quem possuir o objeto.

- O que vocês acharam!? - perguntei eufórica.

- O colar ankh  - ele respondeu e Kanope tirou de sua bolsa um pedaço de pano, e enrolado naquele tecido; havia um colar de ouro em formato do símbolo da vida egípcio; no centro dele havia uma pedra verde, aparentando ser uma esmeralda.

       Me aproximei de meu irmão e peguei cuidadosamente de sua mão o colar tão valioso. Fiquei hipnotizada pelo objeto. Aquilo trazia a mim uma sensação muito boa e assustadora ao mesmo tempo.

- Qual é a história desse colar? - questionei muito curiosa, pois eu nunca ouvi falar sobre ele.

- No ano 42 A.C, os romanos invadiram o Egito. Cleópatra, a última dos faraós, escapou pelo Rio Nilo. O reino dela estava em decadência, mas ela ainda era a rainha do Egito. Cleópatra prometeu defender os tesouros do seu povo, velejando para aquela pirâmide - ele apontou para o perímetro da escavação. - Lá, há uma tumba secreta. Um labirinto impenetrável, repleto de armadilhas e perigos, guardados por toda a eternidade por um terror  antigo. O exército dos mortos, mil guerreiros mumificados esperam o grande chamado da rainha para
levantarem-se do túmulo e defenderem o maior tesouro do Egito, o colar ankh, a chave da vida, o símbolo egípcio da vida eterna, que representa a união entre os reinos do céu e da terra. Esse colar tem o poder de controlar todos os reinos da terra. As armadilhas foram preparadas e a tumba selada. Pela coroa de ouro de Ísis, ela invocou, a maldição, a praga, colocando todo o seu poder e até sua alma dentro do colar; que até agora não havia sido encontrado - Jorge respondeu empolgado e continuou sem polpar fôlego :

- Quem for digno o bastante de carregá-lo poderá ter o poder supremo que está depositado nesse colar. Pausa dramática - ele respirou profundamente. - Mas é claro que a maior parte dessa história era só para impressionar os saqueadores da época, que só queriam o tesouro.

- E sua conclusão é? - levantei a sobrancelha.

- Que nós devemos usá-lo para afastar os ladrões daqui. Ontem mesmo quase entrei nos tapas com uns caras que queriam entrar sem autorização na escavação. Nós podemos perder essa descoberta para ladrões; isso é um risco real Jane.

- E seu plano é?  - indaguei, ciente da loucura que iríamos estar prestes a fazer.

- Pegarei as pessoas em que eu mais confio naquela escavação e os contratarei para que sejam o exército dos mortos; você seria a rainha Cleópatra e eu seria uma espécie de disfarce, para que ninguém suspeite de nada - ele respondeu calmamente, como se o que este acabará de dizer não fosse uma loucura.

- Uou! É muita coisa para caber na minha cabeça - fiquei pensativa. - Mas eu faço de tudo para salvar o que eu procurei minha vida inteira.

     Então, de repente minhas mãos começaram a ficar quentes; elas pareciam estar levando uma grande  carga. Estranhei, mas achei que fosse da minha cabeça.

- Tome - ergui a mão para entregar o  colar para Jorge.

- Eu preciso que você o guarde em segurança. Comigo não é seguro - ele comentou. - Você sabe como eu sou supersticioso e creio que não sou digno de levá-lo.

- Eu o protegerei - falei firmemente.

      Coloquei o colar em meu pescoço e o tampei com a gola da minha camisa suja de poeira. Jorge, Kanope, e eu passamos o final da tarde planejando tudo; como e quando nós agiríamos, se os saqueadores chegassem. Meu irmão pediu muitos favores para amigos, tanto no aspecto do figurino que iríamos usar como dos "efeitos especiais ".

      Logo chegou o final da tarde, o sol estava se pondo, eu estava terminando de ajeitar alguns detalhes da minha fantasia de rainha, quando o colar começou a esquentar em meu peito. Olhei para ele e percebi que sua pedra preciosa que outrora era verde estava vermelha; toquei na pedra e instantaneamente eu recebi uma visão do Rio Nilo; uma voz me atraia à ir até lá, e foi o que eu fiz.
   
     Chegando no local determinado, o colar parou de pesar sobre mim. Eu olhei para o sol que desaparecia bem lentamente atrás dos montes de areia e acabei me sentando à beira do rio. Observei atentamente as canoas irem embora; o ambiente ficou bem tranquilo. Alguém se sentou ao meu lado, era Akira. Ele estava segurando um diário. Entregou-me e disse :

- Tome, eu quero que você escreva todas as suas experiências nesse pequeno caderno.

- Obrigada - agradeci, guardando ele no meu bolso da blusa.

- Você acredita que o colar tem o  poder de Ísis? - questionou pensativo.

- Acho! - respondi com um sorriso simpático. Akira arregaçou a manca da blusa e eu pude perceber que ele possuía uma tatuagem no anti-braço; um desenho  de escorpião amarelo. Estremeci toda, quando vi aquele símbolo, representando que algo de ruim iria acontecer.

- Eu tenho que ir - ele se levantou e eu acenti com a cabeça. Akira saiu apressadamente.

      Nem reparei que o tempo havia passado tão rapidamente, quando fui perceber as horas, o céu já estava escuro e cheio de estrelas, o vento estava começando a ficar bem frio; clima típico de deserto. O bebê começou a chutar muito minha barriga e eu passei a minha mão sobre ela, pensando em Robert. Levantei do chão para ver se a ferinha dentro de mim se alcamava, mas quando fiz isso, levei uma grande susto, um homem a dois metros de distância apontou para mim uma arma. As mãos do sujeito tremiam muito, meu coração disparou desesperadamente. Não conseguia ver nitidamente o homem, mas ele me parecia familiar.

- Me desculpe - o indivíduo falou com insegurança na voz e atirou em meu peito.

    Senti meu sangue ferver. Olhei para baixo e tive uma visão que eu nunca esperava presenciar. Eu caí para trás, nas águas do Rio Nilo.

- Não! - o atirador exclamou, se aproximando da beira do rio, mas a corrente marinha me levou para longe.

     Meus olhos foram se fechando bem devagar; a minha última visão ainda com vida foram as estrelas.

A pirâmideOnde histórias criam vida. Descubra agora