Capítulo 4 - Biblioteca e tempestade

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Robert

     Planejei tomar uma atitude sobre esse mistério que tanto me incomodava e tirava o sossego. Fui até meu velho, sujo e obsoleto computador para pesquisar sobre os preços das passagens para ir ao Cairo; enquanto fazia isso, lembrei-me do meu amigo de infância, Evan, atual piloto, tradutor e professor de História na Universidade de Oxford, Inglaterra. Liguei para ele urgentemente e contei tudo que havia ocorrido até a parte em que eu queria alugar seu avião do último e mais caro modelo.

Evan : O quê?! - gritou do outro lado da linha. - Você quer ir com o meu Beechcraft Baron?!?!

Eu : Não conheço ninguém melhor para pilotar do que você! - respondi. - Por favor - pedi. - Quero encontrar minha esposa - houve silêncio pelo outro lado da linha.

Evan : Okay - ele suspirou. - Esteja aqui na minha casa às 15h30min. Não se atrase, nem por um segundo! - ordenou meu amigo, desligando o telefone,
tirando-me a oportunidade de agradecer seu grande favor.

    Consegui mover ações dentro do sistema governamental do Egito para adiantar a questão da nossa aceitação nesse país. Contratei Evan, um jovem de 25 anos, solteiro, tradutor profissional especializado em várias línguas, incluindo latim; pronto, a trama estava planejada! Só faltava aguardar a tarde chegar.

- Robert? - questinou uma voz vinda por trás de mim, pregando-me um susto. Viro e vejo Gwen olhando fixamente para mim.

- O que você está fazendo aqui? - perguntei estranhando.

- Fiquei preocupada com você - respondeu sincera. Ela se aproximou de mim, franzindo o cenho. - O que houve aqui? - questionou, vendo as telas de pintura espalhadas pelo chão.

- Você não acreditaria em mim - disse cabisbaixo. - Jane pintou todas essas telas, mas, nessa, - peguei a tela que tinha o sinal - ela desenhou um escorpião amarelo - afirmei calmo.

- Tem razão, não acredito - Gwen falou pegando as outras obras de arte do piso.

- Irei viajar amanhã para o Egito. Quero que você vá junto - disse decidido. - Você verá que eu não estou ficando doido.

   Gwen balançou a cabeça negativamente, fechando os olhos; ela pôs as mãos na cintura, tudo isso para mostrar-me a insanidade do meu ato.

- Eu não acho muito aconselhável que uma pessoa que acabou de saber que a mulher morreu viajar sozinho - afirmou ríspida. - Desculpe, mas você tem que aceitar o fato que Jane se foi - ela deu um prolongado suspiro e fechou os olhos; pressenti que Gwen fosse dizer algo que se arrependeria depois. - Vou com você para o Egito.

- Obrigado - agradeci feliz. - Vamos sair daqui de casa às quatorze horas.

- Okay. Agora, vá dormir! - ordenou já saindo da minha casa.

- Boa-noite!

(...)

    Logo chegou o tão esperado momento. Peguei minha única mala marrom (sempre a levo comigo em minhas viagens, não diria eu que é minha mala da sorte, mas sempre que estou com ela, tudo fica ao meu favor); pus meu casaco de couro preto e, é claro, não poderia faltar o meu chapéu. Parei em frente a minha casa e a observei; lembrei dos maus e bons momentos em que passei nela junto com Jane.

- Adeus - falei sentindo que eu não iria mais voltar a estar ali.

- Vamos? - Gwen me chamou e depois entrou no táxi. Assenti e andei até o veículo. Abri a porta e dei uma última olhada na casa. Depois de um curto Flashback, entrei no carro e me acomodei no banco.

- Greater London, por favor - dei o endereço para o motorista e ele pisou fundo no acelerador. Olhei para a janela de trás e vi minha casa se distanciando cada vez mais.

- Não fique assim - Gwen viu o quanto eu iria senti falta dali. - Vamos voltar antes que você imagine - sorriu.

"Espero", pensei.

   Gwen vestia um simples vestido rosa com detalhes em azul celeste; usava vários acessórios exagerados, seu colar e suas pulseiras comprovavam isso, mas, neste dia, sua simplicidade falou mais alto.

- Gostei do vestido - elogiei-a.

- Essa roupa velha? - perguntou olhando para sua vestimenta. - Só a estou usando porque vamos ao Egito. O pior lugar de se usar roupas de marca! Lá só deve ter areia e bichos venenosos.

- Ah, tá explicado - murmurei entendendo o motivo de tanta 'humildade'.

     Chegamos à residência às 15:20 minutos, com dez minutos de antecedência. Dei o dinheiro ao taxista e depois peguei as malas. A mansão de Evan é de dar inveja a qualquer um menos favorecido que ele. Sua casa tem muitos quartos aconchegantes e acolhedores, há vários espaços de lazer e áreas de jardins; o que eu mais gosto em sua residência não é nada disso, mas sim o jeito como meu amigo a trata, ele não contratou ninguém para limpá-la. Evan mesmo faz todo o trabalho de limpeza e organização. É muita responsabilidade para um homem, mas como ele é solteiro, facilita esse esforço. Gwen e eu paramos em frente à grande e ilustrada porta de madeira.

- Nossa! Que lugar lindo - Gwen admirou a paisagem e o modelo da construção.

    Coloquei as malas no chão e apertei a campanhia, um som alto e abafado ecoou por dentro da casa. Logo em seguida, ouvi Evan destrancando a porta dizendo: "Já vai. Só dois segundos. " Ele resmungava: " Essas fechaduras! ". Finalmente meu amigo conseguiu abrir a porta. O piloto estava usando uma roupa própria para vôo; seus olhos verdes se encontraram com os de Gwen, mas logo este desviou o olhar e voltou-se para mim.

- Quanto tempo! - ele me abraçou fortemente e bateu em minhas costas.

- Evan Marc! - exclamei o soltantando. Percebi o quanto esse professor havia mudado de aparência e postura desde a última vez em que eu o vi.

- Mil perdões - Evan olhou para Gwen. - Quem é a senhorita? - perguntou pegando a mão de Gwen cuidadosamente e depois a beijou.

- Gwen Liz - ela respondeu achando muito monótona e cordial essa atitude tão formal.

- Muito prazer. Sou Evan - os dois apertaram as mãos e sorriram um para o outro. - Vamos entrando - ele deu mais um sorriso amigável e se ofereceu para pegar as malas.

    Entrei e andei pelo extenso corredor. O chão de mármore brilhava com a luz do sol que refletia nele. Fomos levados até a biblioteca da casa, o ponto fraco de Gwen. Quando entrou no cômodo, ela saiu pegando todos os livros de arte moderna que via pela frente. Essa biblioteca é a junção de todos os livros, jornais, revistas e apostilas possíveis que Evan havia ganhado ou achado em toda sua vida. Havia livros novos e antigos (para ser bem sincero, caindo ao pedaços, em um estado deplorável) de vários países diferentes; originais e cópias, de línguas e tamanhos diferentes.

- Matisse! - Gwen exclamou pegando um livro brasileiro da estante que estava bastante empoeirado. - Mondrian e Kandinsky!

- Os artistas modernos buscam constantemente novas formas de expressão e, para isto, utilizam recursos como cores vivas, figuras deformadas, cubos e cenas sem lógica - comentou Evan sobre o livro que ela havia pegado.

- Ela nunca mais vai devolver - susurrei para meu amigo e ele riu vendo a cena.

- Vamos deixar Gwen aí e vamos discutir os assuntos da viagem - Evan disse indo em direção ao quarto dos mapas.

- Okay - eu o segui.

    Entramos na sala que fica em frente a biblioteca, o famoso quarto dos mapas, onde só havia bússolas e papéis amarelados. O local era decorado com papéis de parede de desenhos dos cinco continentes. Em cima das estantes de madeira, havia globos de modelos diferenciados. Amava aquele lugar.

- Robert, eu estava pesquisando sobre as notícias do tempo e, parece, que nós vamos pegar uma tempestade vinda do sul - Evan disse pegando jornais na gaveta com todas essas informações, minha esperança começou a querer desaparecer. - Mas, fique tranquilo isto não vai atrapalhar nossa partida, entretanto, irá ser uma viagem turbulenta.

- O quê estamos esperando!? - perguntei ansioso. - Vamos! - exclamei empolgado.

(...)

A pirâmideOnde histórias criam vida. Descubra agora