O que me restou?

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É uma longa caída até chegar ao fundo de um buraco, achamos que acabou e que não dá pra piorar. Como estamos enganados, o fundo é feito de areia, uma areia fácil de cavar.

O mundo estagnou e as pessoas não andam, as folhas das árvores não chegam ao chão e sim estão paradas no meio do ar. Meu coração também já não bate, ele não encontra motivos para continuar o trabalho de bombardear sangue e assim me manter em pé. Há uma barreira em meu ouvido impedindo-me de ouvir o que os garotos estão dizendo.

Eu disse que machucaria quem você mais ama.

É como ter a vida sendo tirada de mim, é como estar mais uma vez naquele buraco sem uma corda para me impedir de cair ou algo macio para amortecer a queda. Eu nem sei que há um fundo.

As lágrimas escorrem livres e revoltadas com o tudo ao meu redor, queria tanto que elas me livrassem do que está por vim, quero fingir que nada de ruim vai me encontrar, eu preciso de um esconderijo. A dor não é tão esperta assim não é? Ela não me encontrará, mas ela encontrou e está mais potente e determinada do que nunca.

ㅡ Ana. – não é o Thiago que me chama e sim o Luan com olhos cerrados e a boca reta. ㅡ Vai ficar tudo bem....

ㅡ Você é a Helena? – se tivesse cabeça para distinguir as emoções da Daisy apostaria em o credulidade e raiva, muita raiva. ㅡ Você nunca foi Ana da Silvo? – cuspiu sem dó e com rancor transbordando nos poros.

ㅡ Ana Kunst? – Pietro também assimilava tudo com rapidez. ㅡ Espera você casou com o Thiago e não contou pra gente. – no fundo do meu âmago eu poderia sorrir se não tivesse sido destruída de fora pra dentro. ㅡ Só pode ser isso, você não mentiria dessa maneira tão baixa.

ㅡ Pietro! – a voz que faz com que enxergue um ponto de luz no meio do buraco vem afiada e raivosa. ㅡ Não é hora.

ㅡ Não? Tem certeza. – Daisy explodiu e eu só desejo que essa explosão leve os resto que sobrou de mim. ㅡ Fui sua amiga, ajudei você em uma mentira. Eu me arrisquei e você tirou onda com a minha amizade.

ㅡ EU FALEI QUE NÃO É HORA. – Thiago me parece ser um animal selvagem trancafiado. ㅡ Está chateada e eu compreendo mas não vou tolerar.

ㅡ Você encobertou tudo Thiago. – tanta decepção imposta na voz, nos olhos e na repulsa do Pietro.

ㅡ Eu fiz e faria muitas vezes se fosse o caso. – Thiago parou na minha frente como um escudo. ㅡ Vocês não sabem de nada é melhor saírem daqui. – as vozes foram ficando cada vez mais longe como se eles estiverem na boca do buraco me olhando. ㅡ AGORA.

Meus joelhos encontram o piso gelado da sala, não resta nenhum sentimento bom, eles foram esmagados pelos flashs do vídeo, eu finalmente encontrei o fundo que até segundos nem imaginava existir.

Eu encontrei e ninguém pode me tirar daqui.

ㅡ Meu amor fala comigo. – a certo desespero e desconforto, sinto o músculo do seu peito contra meu rosto. ㅡ Por favor Ana, uma palavra. Apenas uma.

Não consigo, tremo dos pés a cabeça e mal possuo forças para abrir as pálpebras. Se abrir vou ter a certeza da minha nova sina, agora sou uma espécie de bicho engaiolado por barras invisíveis e exposta.

ㅡ Thi... Thiago. – a garganta está seca, Thiago suspira pessoalmente. ㅡ Eu não sou aquele monstro, não. Não eu não sou. – manipuladora, mentirosa e assassina, palavras que são a todo instante jogadas na minha cabeça.

ㅡ Você nunca foi. – passou a beijar minha face mil vezes e em todos os lugares. ㅡ Vou tirar você daqui.

Não faço nenhum protesto, não poderia e o Thiago me carrega para o seu quarto, eu ainda choro quando ele me coloca levemente na cama e eu agarro sua mão.

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