Capítulo 5 - Respirar

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 Kara não é namoradeira.

Não, ela não sai flertando com todo mundo por aí, não é do feitio dela, geralmente ela demora mais tempo para dar em cima de alguém, ou apenas espera que a pessoa venha até ela, essa última sendo a mais fácil para ela. Então quando Kara secou a mulher do elevador, ela se surpreendeu consigo mesma e ficou horas repassando o que aconteceu, ela foi almoçar com a mãe naquele dia e não rebateu quando Eliza deu um discurso sobre o seu atraso, ela apenas concordou com alguma coisa que ela disse enquanto está perdida em suas próprias ações. Eliza, então, não diz mais nada, em seu interior ela sabe o porquê da filha estar tão perdida — bem, ela pensa que sabe — os remédios as vezes a deixa desorientada, só podia ser isso, então ela pega leve e leva a conversa sozinha, vez ou outra Kara respondia com um simples "sim" ou "não" e um aceno de cabeça.

Ela está envergonhada.

Percebe depois de um tempo, decide não retornar ao hospital naquela tarde, porque está mortificada e tem medo de encontrar a mesma mulher novamente, porque ela agiu estranho em sua frente e mesmo que ela esteja em seu novo "mood", mesmo que ela queira fazer algo diferente antes do tratamento, flertar com uma desconhecida ainda é embaraçoso e suas bochechas estão coradas há duas horas. Ela simplesmente não consegue tirar o que falou da cabeça, toda vez que faz alguma coisa, lembra do fato ocorrido e suas bochechas ganham um novo tom de rubor.

Sorte sua que Alex não está lá para pegar no seu pé por causa disso, sua irmã está no próprio apartamento descansando depois de um turno de 48 horas, e ainda não sabe o ocorrido dessa manhã, embora se ela fosse contar teria que explicar o porquê de estar em um hospital diferente do qual costuma ir, e Alex é muito inteligente, juntando um mais um ela descobriria na hora e logo trataria de cortar Kara dizendo-lhe quão ingênua é e que está apenas adiantando sua própria morte. Kara sabia dos perigos, porém, não se importa em adiantar o inevitável agora, embora o que disse para a doutora e para Winn fosse verdade, ela queria uma chance para viver, mas pela primeira vez ela foi realista sobre as suas chances e realmente estava aceitando o que é que tenha para vir.

Kara decidiu confiar em Lex Luthor para dar-lhe mais um tempo de vida, e quem sabe ele não conseguisse prolongar ainda mais já que se dizia ser um gênio. Ela quis acreditar no impossível, porque se conformar com uma coisa não significa que você está bem com isso, significa apenas que você não nega as probabilidades, e embora Kara não seja boa em matemática, nem um pouco, ela sabe que os 88,7% que o médico lhe deu não é boa e os quase 12% só lhe dava poucos meses ou semanas, não era uma medicina exata, eles não sabem os danos que o tumor pode fazer daqui para lá. É uma área incerta, disse o seu médico uma vez, ele cresce significativamente e a radioterapia apenas tardia o seu desenvolvimento. E Kara sabia que isso não é bom.

Talvez seja isso, ela diz para si mesma em pensamento, a realização de que tem pouco tempo na terra para fazer tudo foi o que lhe motivou a fazer alguma coisa agora, então por isso ela quis flertar com uma mulher tão bonita e atraente que encontrou no elevador. E agora ela desejou encontrá-la novamente, desejou poder ter uma chance de conhecer melhor a mulher e convidá-la para um café, ela podia perguntar sobre a sua vida e se tudo ocorresse bem ela a levaria para o cinema, elas assistiriam aquele filme que está no cartaz que todo mundo quer assistir por ter algum ator muito famoso, e elas comeriam pipoca e tomariam uma grande quantidade de refrigerante, e talvez elas rissem tanto naquela noite que Kara a beijaria, porque iria parecer a coisa certa a fazer. As bochechas da loira ruborizaram de novo, porque ela nem conhece a mulher direito e já está planejando o seu futuro encontro com ela, ela já imagina que ela vai gostar das mesmas coisas que ela e que vai ser tão divertida quanto espera. E pensar nessas coisas é legal, afasta os pensamentos ruins.

Então quando Kara dorme naquela noite, ela sonha com a mulher do elevador.

* * *

É bom ter algo para pensar.

Céu estrelado - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora