Capítulo I: Casamenteira

837 123 15
                                    

🖍️

"Eu o apelidei de raposinha quando estava grávida. Ah, Tae, ele não parava um momento sequer! Quando ele começou a crescer era tão parecido com você, a energia e a sinceridade cortante. Mas sinto dizer que ele tem seus olhos e a sua risada, mas o temperamento é total culpa minha... Boa sorte, velho amigo."

— Essa não me parece a melhor das ideias.

Taehyung sabia que Jimin estava certo. Tinha certeza também de que quando seus amigos de infância disseram tantas vezes que "estamos aqui para o que precisar", aquela situação em específico não estava inclusa. Mas com certeza ou não sobre o absurdo de tudo aquilo, Namjoon viria buscá-los no aeroporto em alguns minutos.

Buscá-los. Plural.

Yeonjun dormia profundamente com a cabeça apoiada na mochila que estava em seu colo. O rostinho adormecido do garoto não dava sinais de que qualquer coisa estivesse incomodando-o naquele instante, mas Taehyung tinha muita vontade de chorar. Ele devia ser o adulto controlado ali. Ele devia, mas...

Mesmo com todo o absurdo da situação, não era sobre Seokjin e Namjoon que ele pensava enquanto esperava pela carona até a casa do casal. Mas em Yeonjun e, especialmente, em Wheein.

Wheein foi sua primeira namorada.

Se lembrava de como Namjoon ficou entusiasmado com os preparativos do primeiro encontro com a garota, em como Seokjin emprestou para ele a camisa de botões que tinha muito ciúmes por ter comprado com seu primeiro salário e como ele arrumou seu cabelo de diversas formas diferentes para apenas acabar com o penteado de sempre. Tudo parecia há uma vida inteira de distância, mas só tinha seis anos? O pensamento o fez observar mais uma vez o rosto de Yeonjun. É, fazia mesmo uma vida inteira.

Como poderia imaginar que o breve namoro teria como fruto aquele garotinho adorável? Quando se afastou de tudo e todos no fim do ensino médio em uma tentativa determinada em não se colocar entre a relação de Namjoon e Seokjin, não imaginava que sua ex-namorada estava grávida e que tinha decidido carregar aquele fardo sozinha.

Tentou empurrar os pensamentos para algum canto obscuro de sua mente como vinha fazendo desde que recebeu aquela ligação. E, mais uma vez, engoliu o choro de forma resignada enquanto olhava em volta à procura de Namjoon.

Precisava segurar as pontas, focar no que tinha que ser feito porque era muito. Toda a sua vida estava no Brasil. Construiu sua carreira como roteirista de telenovelas naquele país tropical e criou raízes mesmo que não fosse seu clima e solo ideais. Sua casa, seu trabalho; tudo estava há doze horas de vôo dali.

Mas como poderia tirar Yeonjun de seu país natal e forçá-lo a sobreviver também a um país completamente diferente do dele logo após perder a mãe?

Pensou em simplesmente ligar para seus pais e pedir, pela primeira vez na vida, que eles abaixassem todos os dedos julgadores e o acolhesse. Mas não saberia como vencer o próprio orgulho e conhecia bem demais o temperamento dos pais para ao menos cogitar seriamente sobre lançar Yeonjun naquele ambiente hostil no pior momento da sua vida.

Jimin vivia viajando pelo país em turnês loucas e infinitas com sua banda. Seu melhor amigo ofereceu como abrigo sua casa na praia em Busan, que estava servindo muito bem a ele e Yeonjun naquelas últimas duas semanas, mas ele percebeu que talvez não conseguisse cuidar de uma criança sozinho. Nunca teve irmãos, sua relação com a família sempre foi distante e os livros não estavam mais ajudando a lidar com as perguntas de Yeonjun.

Foi quando finalmente ligou para Seokjin.

Depois de sete anos trocando mensagens habituais e distantes, Taehyung despejou tudo assim que ouviu a voz do amigo. Contou sobre a morte prematura de Wheein devido a uma cardiopatia, sobre a descoberta de que ela tinha um filho que também era dele, a forma como assim que ele colocou os olhos sobre Yeonjun soube que o exame de DNA seria apenas uma cordialidade. As semanas tentando entender como fazer funcionar, o fracasso, o desespero, o medo de falhar.

Garatujas | TaeNamJinOnde histórias criam vida. Descubra agora