Capítulo VI: Garatujas, esboços, traçados, nossa obra de arte

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"Você não merecia tudo o que a vida fez com você. Hoje eu percebo isso e como também fui cruel. Tae, espero que um dia você também consiga enxergar"

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Ele não estava mais lá pela manhã.

Os brinquedos de Yeonjun não estavam mais espalhados pela casa, o shampoo infantil do Batman já não dividia mais espaço com o condicionador da Barbie no aparador do banheiro, os DVDs do desenho brasileiro daquela estranha galinha azul ou do garoto de galochas amarelas não estavam mais lá. Nem os CDs de Taehyung. Nem jazz, nem bossa nova. Suas camisas de botão não estavam mais nos varais, o cheiro do amaciante de pêssego ainda assombrando a sacada.

Namjoon encarava o quintal. A horta que plantaram juntos precisava ser regada, mas ele não conseguia se mover, porque eles não estavam mais lá naquela manhã e tudo sobre aquilo parecia terrivelmente errado.

— Então — Seokjin falou parando ao lado do marido. — O pior aconteceu. — Namjoon se virou para ele vendo o mais velho soprar uma xícara de café quente.

— Nem tenta, hyung — debochou, voltando a olhar para nada em específico. — Nem vem tentar fingir que você não está tão destruído quanto eu com toda essa situação para tentar me acalmar. Você está tomando café puro, isso é basicamente seu jeito de gritar internamente.

Seokjin riu sem humor, deixando a xícara sobre a mesa para abraçar Namjoon pelas costas.

— Nem tem açúcar — o mais velho falou cabisbaixo. — Eu me distraí e esqueci de colocar.

— Uau, acho que estamos mesmo no fundo do poço.

Tinham discutido a possibilidade daquele cenário em questão. Apelidaram carinhosamente de "abandonados por Kim Taehyung 2.0, platinum version", mas nem mesmo quando dramatizaram ao máximo tudo sobre aquilo, tinham imaginado que fosse doer tanto. Estavam um lixo e mal conseguiam tocar no nome dele sem começar a perder o controle, voltando para a fase um: chorar como bebês.

— Acha que ele vai voltar? — Seokjin perguntou, estupidamente esperançoso.

— O que? Aparecer magicamente em nossa porta com as ideias mudadas, pronto para aceitar que ele é digno de amor? — Namjoon perguntou tentando soar ácido, mas acabou suspirando, cansado. — Se isso acontecesse eu até mesmo passaria a ler meu horóscopo ou coisa do tipo.

— É isso, vou ler meu horóscopo — Seokjin concluiu como se tivesse encontrado a solução definitiva para aquela situação, deixando a sala para o que Namjoon sabia ser mais uma sessão de choro olhando para o quarto vazio de Taehyung e Yeonjun.

Foi um miado que o tirou de seu looping pouco agradável de sofrer observando um monte de mudas de tomate meio murchas.

— Ai meu Deus — sussurrou observando a bola de pelo cinza se esgueirar para fora do armário da sala parecendo sonolento, alheio a todo o drama. — Puta que pariu! Manjericão!

— O que aconteceu? — Seokjin voltou para a sala ainda secando os olhos apenas para encontrar o marido rodopiando pela sala enquanto erguia o filhote de gato no ar como se fosse um troféu. — Joonie, eu preciso me preocupar com sua saúde mental?

— Não! Você não precisa se preocupar com mais nada, hyung. Manjericão está aqui para nos salvar de toda essa confusão — o mais novo balançou o filhote na direção de Seokjin que estreitou os olhos, cada vez mais confuso. — Escuta, eu tenho um plano.

Jimin o observava com os braços cruzados e uma sobrancelha erguida. Taehyung estava concentradíssimo no padrão dos azulejos do chão do hotel.

Garatujas | TaeNamJinOnde histórias criam vida. Descubra agora