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"Por vezes olho para ele, esse serzinho de coragem e atrevimento infindo, e penso que Deus existe. Acho que o amor às vezes é tanto, Tae, que fundamos nossa própria religião"
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Ainda tentava se acostumar com a ideia de ser pai.
Taehyung nunca tinha se imaginado naquele papel, não com tanta seriedade, muito menos com tanta urgência.
Yeonjun era na maior parte do tempo uma criança silenciosa, mas ele sabia que aquilo era apenas sua cabecinha lidando com todas as mudanças e a enorme perda.
Ele mesmo se via afundando em prolongados silêncios, se perdia enquanto tentava focar no que falavam na televisão ou nas pequenas e raras tarefas que Seokjin o deixava fazer em casa. Sabia que precisaria enfrentar toda a situação de frente em algum momento, viver seu próprio luto. Mas ficaria frágil, sentia que ficaria a dois passos da total destruição e por isso mantinha sua dor guardada em um canto para ser esquecida.
Se perguntava se Yeonjun fazia o mesmo, se eram parecidos naquilo. E mesmo que ele passasse longas horas do dia observando seu jeito, suas manias e seus gostos em busca de semelhanças, desejou que não.
— Junnie, eu preciso mesmo que você tome banho — implorou pela quinta vez enquanto Yeonjun se mantinha sentado em uma das duas camas que compunham o quarto preparado para eles, segurando uma revista em quadrinhos.
— Não gosto do banho aqui — o garoto finalmente respondeu sem olhar para ele. — Com a mamãe o banho era sempre divertido, aqui o chuveiro enche meu nariz de água.
Taehyung o encarou incrédulo. Ele não entendia nada sobre crianças e Yeonjun definitivamente não era fácil de entender, mas algumas coisas tão simples escapavam com facilidade de sua compreensão...
A rotina de uma casa é um enigma de muitas faces, principalmente para um hóspede. Quanta liberdade tomar? Quais linhas imaginárias estavam desenhadas naqueles limites? Claro que Yeonjun tinha saudades da própria casa. E para Taehyung não era apenas a rotina da nova casa que precisava ser desvendada, mas também a que ficou para trás.
— E como era o banho divertido? — perguntou em um tom de voz calmo e o garoto finalmente voltou sua atenção para ele deixando a revista em quadrinhos que folheava sem prestar atenção sobre a cama.
— Não vai ser igual.
E ele tinha razão porque não, não seria igual. Nada seria igual e saber disso afundava Taehyung mais uma vez naquele sentimento de inutilidade.
— Que tal divertido diferente? Pode ser bom — Taehyung propôs tentando disfarçar seu novo desânimo.
— Sim! Que tal um banho na estação espacial? — Os dois se viraram para a porta e logo o choque tomou conta de suas expressões ao ver Seokjin.
O mais velho estava usando uma espécie de jaqueta prateada, o cabelo castanho-claro tampado por uma touca improvisada de papel alumínio que subia em um formato estranho de gota, óculos de natação repuxando suas feições em uma careta engraçada. Yeonjun riu baixinho enquanto Taehyung encarava o amigo completamente boquiaberto.
— Sabia que astronautas não tomam muito banho, Yeonjun-ah? — Seokjin perguntou enquanto entrava no quarto com uma pose confiante.
— Então eu quero ser astronauta quando crescer! — a criança anunciou feliz.
— Mas tem um probleminha — Seokjin voltou a falar. — Alienígenas não gostam nada de astronautas fedorentos e os alienígenas do Planeta Sorvete Depois do Jantar, gostam menos ainda.
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Garatujas | TaeNamJin
Fanfiction[CONCLUÍDA] Taehyung deixa seu país natal para fugir de uma paixão fadada ao fracasso por seus dois melhores amigos, mas seis anos depois ele precisa retornar à Coreia do Sul ao descobrir a morte de sua ex-namorada e a existência de um filho. Enquan...