Capítulo 5, parte I

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"A única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível." -Alice No País das Maravilhas.



   "Como podemos saber em quem confiar? A verdade é que nossos corações são frágeis demais, mesmo que, por hora, façamo-nos de fortes e maduros. Quando a confiança é quebrada, dizem que é impossível de ser reparada. Mas, não está intrínsceco em nossa humanidade a possibilidade de decepcionarmos aqueles que amamos? Sendo assim, quem somos nós - meras criaturas que podem trair e enganar - para deixar de confiar em todos? Vale à pena guardar nosso coração numa caixa de vidro blindado e isentá-lo da possibilidade -ainda que mínima- de receber o Amor em sua forma mais pura?"

   Assim se encerrava o primeiro capítulo de minha nova leitura de filosofia: "Amor, Ego e Humanidade". Desço até a cozinha, mais uma vez, instigada pelo cheiro dos grãos de café sendo moídos. Observo de longe o processo cuidadoso de Frederico ao medir com exatidão a força e o tempo em que o café deveria ser esmagado até virar um pó. Olga está ao seu lado, no fogão, enquanto joga um punhado de amoras sobre a panela de ferro preenchida por açúcar caramelizado. Ela despeja água sobre a mistura, o que provoca um barulho que - apesar de  ouvir sempre - eu continuo amando; o barulho da água caindo numa panela quente. É peculiarmente aconchegante para meus ouvidos.

   Vejo Derick vindo de seu quarto. Parece que ele levantou um pouco mais tarde do que o usual. Seu cabelo está bagunçado e sua camisa está desabotoada e amassada. Ele nota a minha presença de longe e acena para mim. Fazendo-me ficar um tanto sem jeito e, naturalmente, me forçando a sair da minha posição de observadora para participadora.

- Bom dia, Princesa. Ele diz enquanto me aproximo.  

- Ah, ¹Principessa, buongiorno! Curvou-se Frederico, ao mostrar-me seu sorriso alegre, como em todas as manhãs. Olga parecia tão concentrada no delicado processo de cozinhar a geleia que nem havia notado minha presença.

- Olga, ²per favore, não viste que Vossa Alteza está bem aqui?

- Como? Oh, Céus! Perdoe-me, Alteza!

- Ah, Olga, não há com o que se desculpar. Não quero atrapalhar-te, afinal. Mas, ah, que aroma maravilhoso! Digo, em meio a um suspiro.

- A Senhorita se agrada? Essas amoras foram colhidas esta semana por Vossa Majestade, o Rei Oliver.

- E como me agrado! Elas são minhas frutas preferidas, só perdem para os mirtilos. Meu pai deve ter finalmente lembrado que estamos no período propício para as amoras, pois ele sempre se esquece de colhê-las.

   Tudo parecia estranhamente - porém, felizmente - diferente naquela manhã. Geralmente, à esta hora, minhas irmãs já estariam de pé e tomando café conosco, juntamente com meus pais. Contudo, minha refeição matinal foi feita apenas com Olga, Frederico e Derick. Ele se sentou perto de mim, colocando um banco à minha direita. Quando ele chegou perto de mim, senti meu coração disparar. Várias vezes esbarramos nossas mãos ao tentarmos pegar a manteiga e a geleia em sincronia. Eu tentava disfarçar a vermelhidão em minhas bochechas, mas pelas risadinhas que ouvi, tenho certeza de que Olga percebeu algo...

   Ao mesmo tempo que sinto minhas pernas bambas, meu coração pulsando mais forte e meu rosto esquentando, essas sensações não me são um incômodo. Pelo contrário, anseio todo o dia por senti-las. Porque, afinal, só as sinto quando estou com Derick, e... quero estar perto dele. Quando estávamos próximos, pude notar mais detalhes do que nunca sobre ele. Como quão vibrante é o verde em seus olhos, ou como seu cabelo é castanho escuro, e não preto. E como há sempre uma pequena mecha perfeitamente caída acima de sua sobrancelha. Notei o quanto ele gosta de misturar coisas doces com salgadas, e como ele nunca coloca um sequer torrão de açúcar em seu café. 

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